São Paulo, domingo, 08 de agosto de 2004

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ATENAS 2004

Norte do Estado distribui bolsas, cria pólos esportivos e faz parcerias para catapultar legião de olímpicos

Paraná festeja bolsão de excelência

MARIANA LAJOLO
ENVIADA ESPECIAL A LONDRINA

Solange ainda estava com o filho no colo quando soube que ele tinha leucemia. Gilberto, aos seis meses, precisou de um ano de tratamento para ficar curado.
Quando a vida parecia seguir o rumo natural, ela voltou a ser surpreendida. Aos 10 anos, o menino sofreu acidente que lhe rendeu 150 pontos no braço esquerdo.
"Se não morássemos em uma cidade como Londrina, acho que ele não teria se recuperado."
Gilberto hoje usa o braço machucado para buscar o ouro. É Giba, atacante da seleção de vôlei e fruto de uma estrutura que fez do norte do Paraná um símbolo de excelência esportiva no país.
Oito cidades da região, enriquecidas pelos agronegócios, terão juntas 17 atletas em Atenas. O Estado será o terceiro mais bem representado, com 25 nomes.
A maior parte nasceu em Londrina (sete) e Maringá (quatro) e se espalha por cinco modalidades.
Como Giba, a oposto Elisângela começou a jogar vôlei em clubes sociais -Londrina possui mais de 20 quadras cobertas, incluindo um ginásio municipal.
O mesmo caminho fizeram Rogério Romero e Diogo Yabe, que deram as primeiras braçadas por incentivo dos pais, nadadores.
O norte do Paraná também mostra em Atenas o fruto do trabalho em um esporte sem tradição no país: a ginástica rítmica.
Três atletas são de Londrina, QG da equipe nacional e da confederação. A seleção é bancada pela Universidade do Norte do Paraná, que mantém professores lecionando em bairros carentes. Os talentos são encaminhados à escolinha, também gratuita.
Os tentáculos paranaenses em Atenas não são formados só pela classe média dos grandes centros. A lista ainda tem nomes como Renata Costa, do futebol, e Vanderlei Cordeiro de Lima, Jadel Gregório e Edson Luciano, do atletismo.
A tentativa de explicar o fenômeno já produziu até teses de doutorado. José Luiz Vieira e sua mulher, Lenamar, encontraram a explicação na política pública.
"De 1987 a 1992, foi criada uma cadeia que lapidava o talento e assegurava que ele pudesse seguir no esporte", conta Vieira, professor da Universidade de Maringá.
Projetos do governo do Estado garantiam bolsas a quem se destacasse nos pólos esportivos. Lima, Luciano e Giba foram alguns dos contemplados.
Hoje, não há projeto estadual que dê ajuda financeira aos atletas. Esportes que, diferentemente da GRD, não têm patrocínio forte contam mais com iniciativas municipais e privadas para, ao menos, manter uma base ativa.
É o que tenta Vieira. Jogador da seleção de handebol em Barcelona-92, ele toca com outros ex-atletas a associação da modalidade. Como outras 25 entidades de Maringá, recebe ajuda mensal da prefeitura e o apoio de profissionais da universidade.
O município encampou três jogadores na seleção olímpica, além do auxiliar Valmir Fassina.
"Só não dá para competir com altas propostas", diz Marcelo Junqueira, presidente da associação.
Foi a falta de equipes profissionais fortes que tirou do Paraná Renata Costa. A volante, que jogou no último ano no Santos, despontou na pequena Assaí. Apesar de ter um IDH baixo, o município incentiva a prática esportiva e reúne 1.700 adultos ou 10% da população nos Jogos Municipais.
A estrutura é precária, num castigado ginásio, mas engloba aulas de handebol, vôlei e caratê, influência dos japoneses, cujos descendentes formam 30% da população. O carro-chefe é o futsal, e é Renata quem aparece nos sonhos dos meninos. "Ela já me deu uma ombrada e me jogou no chão", diz Vinícius Honorato da Silva, 12.
Antes de se juntar à seleção, a atleta esteve em Assaí e mostrou o que, para as crianças da cidade, significa mais que um ouro olímpico: venceu os Jogos Municipais e disputou peladas no campinho como fazia quando criança.



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