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Pequim-2008
Falta pouco e falta muito
Pequim celebra um ano para o início dos Jogos com longa agenda a cumprir
ONGs denunciam violações dos direitos humanos, e governo estuda ações para reduzir poluição e evitar contaminação de alimentos
Alfred Cheng Jin - 17.mai.07/Reuters
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Trabalhador na obra do Estádio Olímpico de Pequim |
LUÍS FERRARI
MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL
"Nós estamos prontos", diz a
música que celebra a contagem
regressiva para ser acesa a pira
olímpica em Pequim. A exato
um ano do início dos Jogos, entretanto, uma onda de incertezas ronda a organização da
grandiosa Olimpíada da China.
Boa parte das arenas está
quase pronta e impressiona pela tecnologia e arquitetura. O
calendário é seguido à risca e
consome o montante recorde
de R$ 65 bilhões (o Pan do Rio
custou cerca de R$ 3,7 bilhões).
Os atletas locais provam cada
vez mais que a potência econômica só cresce no esporte.
Mas Pequim ainda tem uma
longa agenda a cumprir. Poluição, ruas congestionadas, falta
de liberdade de imprensa, uso
de mão-de-obra infantil e comida contaminada são alguns
dos problemas que os chineses
terão de solucionar (ou amenizar) nos próximos 365 dias para receberem 10.500 atletas.
Novo relatório da Anistia Internacional, por exemplo, denuncia violações dos direitos
humanos. O texto aponta ausência de transparência na
aplicação da pena de morte, de
liberdade de imprensa, aumento de detenções arbitrárias e recrudescimento da repressão a
ativistas de direitos humanos.
"Se não adotarem medidas
urgentes, as autoridades correrão o risco de manchar a imagem do país e a dos Jogos", diz
Irene Kahn, secretária-geral da
ONG, em comunicado.
A Anistia cita, por exemplo,
operações de "limpeza" em Pequim, tirando das ruas mendigos e pequenos infratores.
Jornalistas estrangeiros que
cobriam protesto da ONG Repórteres sem Fronteiras foram
presos. Após manifestação pela
libertação do Tibet, na Muralha
da China, cinco foram detidos.
As fábricas de produtos oficiais também foram denunciadas por grupos trabalhistas internacionais. Duas empresas
foram multadas em US$ 132
mil por excesso de horas extras.
Outra perdeu a licença por usar
mão-de-obra infantil.
O COI (Comitê Olímpico Internacional), que recebeu o relatório da Anistia, manifestou-se a favor da "agenda social"
chinesa, mas não emitiu juízo
de valor sobre as críticas das
ONGs. Sua preocupação mais
imediata é que a imagem da
Olimpíada não fique marcada
por uma enorme nuvem cinza.
Estudo do Banco de Desenvolvimento da Ásia em 15 cidades mostrou que Pequim tem o
ar extremamente sujo -142
microgramas de partículas poluentes por metro cúbico, sete
vezes mais que o recomendado
pela Organização Mundial da
Saúde. O Comitê Olímpico dos
EUA monitora a qualidade do
ar da cidade. Os australianos já
se anteciparam e pediram aos
atletas que cheguem só às vésperas da estréia nas competições, a fim de evitar a poluição.
O governo chinês estuda
proibir a circulação de 1 milhão
de veículos durante os 16 dias
dos Jogos. Também diz ter
plantado mais de 28 milhões de
árvores. Controlar a emissão de
poluentes das indústrias, porém, ainda é uma dificuldade.
"Existe uma tendência positiva, e acredito que ela continue. Eles ainda têm um ano pela frente. Estou otimista para a
época dos Jogos", disse o presidente do COI, Jacques Rogge.
Segundo ele, as Olimpíadas
estão mais bem organizadas e
podem chegar a mais cidades,
não só às grandes e ricas.
Uma onda de problemas com
alimentos também preocupa.
Já foi encontrada comida contaminada exportada aos EUA e,
em 2003 e 2004, leite falsificado matou bebês chineses.
A fim de reduzir os riscos, Pequim diz que contratará fornecedores exclusivos, que serão
monitorados. Os porcos cuja
carne será consumida pelos
atletas terão dieta sem hormônios, para evitar contaminação
no exame antidoping. As granjas terão proteção antiterror.
"Os Jogos possibilitarão ao
povo chinês adquirir nova visão
da sociedade. Também ajudarão atletas e visitantes a apreciar a China de uma perspectiva mais justa", disse Rogge.
O governo chinês também
quer aproveitar a Olimpíada
para "ocidentalizar" velhos hábitos. O povo está sendo instruído, por exemplo, a obedecer as filas e a não cuspir no
chão. "O país está agora muito
mais aberto a influências externas. Essa campanha é um
exemplo de como os Jogos podem ajudar a mudar coisas na
China", afirmou à Folha Yiyi
Lu, do Royal Institute of International Affairs, de Londres.
Com agências internacionais
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