São Paulo, quarta-feira, 08 de agosto de 2007

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Pequim-2008

Falta pouco e falta muito

Pequim celebra um ano para o início dos Jogos com longa agenda a cumprir

ONGs denunciam violações dos direitos humanos, e governo estuda ações para reduzir poluição e evitar contaminação de alimentos


Alfred Cheng Jin - 17.mai.07/Reuters
Trabalhador na obra do Estádio Olímpico de Pequim


LUÍS FERRARI
MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL

"Nós estamos prontos", diz a música que celebra a contagem regressiva para ser acesa a pira olímpica em Pequim. A exato um ano do início dos Jogos, entretanto, uma onda de incertezas ronda a organização da grandiosa Olimpíada da China.
Boa parte das arenas está quase pronta e impressiona pela tecnologia e arquitetura. O calendário é seguido à risca e consome o montante recorde de R$ 65 bilhões (o Pan do Rio custou cerca de R$ 3,7 bilhões). Os atletas locais provam cada vez mais que a potência econômica só cresce no esporte.
Mas Pequim ainda tem uma longa agenda a cumprir. Poluição, ruas congestionadas, falta de liberdade de imprensa, uso de mão-de-obra infantil e comida contaminada são alguns dos problemas que os chineses terão de solucionar (ou amenizar) nos próximos 365 dias para receberem 10.500 atletas.
Novo relatório da Anistia Internacional, por exemplo, denuncia violações dos direitos humanos. O texto aponta ausência de transparência na aplicação da pena de morte, de liberdade de imprensa, aumento de detenções arbitrárias e recrudescimento da repressão a ativistas de direitos humanos.
"Se não adotarem medidas urgentes, as autoridades correrão o risco de manchar a imagem do país e a dos Jogos", diz Irene Kahn, secretária-geral da ONG, em comunicado.
A Anistia cita, por exemplo, operações de "limpeza" em Pequim, tirando das ruas mendigos e pequenos infratores.
Jornalistas estrangeiros que cobriam protesto da ONG Repórteres sem Fronteiras foram presos. Após manifestação pela libertação do Tibet, na Muralha da China, cinco foram detidos.
As fábricas de produtos oficiais também foram denunciadas por grupos trabalhistas internacionais. Duas empresas foram multadas em US$ 132 mil por excesso de horas extras. Outra perdeu a licença por usar mão-de-obra infantil.
O COI (Comitê Olímpico Internacional), que recebeu o relatório da Anistia, manifestou-se a favor da "agenda social" chinesa, mas não emitiu juízo de valor sobre as críticas das ONGs. Sua preocupação mais imediata é que a imagem da Olimpíada não fique marcada por uma enorme nuvem cinza.
Estudo do Banco de Desenvolvimento da Ásia em 15 cidades mostrou que Pequim tem o ar extremamente sujo -142 microgramas de partículas poluentes por metro cúbico, sete vezes mais que o recomendado pela Organização Mundial da Saúde. O Comitê Olímpico dos EUA monitora a qualidade do ar da cidade. Os australianos já se anteciparam e pediram aos atletas que cheguem só às vésperas da estréia nas competições, a fim de evitar a poluição.
O governo chinês estuda proibir a circulação de 1 milhão de veículos durante os 16 dias dos Jogos. Também diz ter plantado mais de 28 milhões de árvores. Controlar a emissão de poluentes das indústrias, porém, ainda é uma dificuldade.
"Existe uma tendência positiva, e acredito que ela continue. Eles ainda têm um ano pela frente. Estou otimista para a época dos Jogos", disse o presidente do COI, Jacques Rogge.
Segundo ele, as Olimpíadas estão mais bem organizadas e podem chegar a mais cidades, não só às grandes e ricas.
Uma onda de problemas com alimentos também preocupa. Já foi encontrada comida contaminada exportada aos EUA e, em 2003 e 2004, leite falsificado matou bebês chineses.
A fim de reduzir os riscos, Pequim diz que contratará fornecedores exclusivos, que serão monitorados. Os porcos cuja carne será consumida pelos atletas terão dieta sem hormônios, para evitar contaminação no exame antidoping. As granjas terão proteção antiterror.
"Os Jogos possibilitarão ao povo chinês adquirir nova visão da sociedade. Também ajudarão atletas e visitantes a apreciar a China de uma perspectiva mais justa", disse Rogge.
O governo chinês também quer aproveitar a Olimpíada para "ocidentalizar" velhos hábitos. O povo está sendo instruído, por exemplo, a obedecer as filas e a não cuspir no chão. "O país está agora muito mais aberto a influências externas. Essa campanha é um exemplo de como os Jogos podem ajudar a mudar coisas na China", afirmou à Folha Yiyi Lu, do Royal Institute of International Affairs, de Londres.


Com agências internacionais


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