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FUTEBOL
Poder de fogo do magnata Tom Hicks chega a resvalar nas eleições presidenciais dos EUA no ano 2000
Sócio do Corinthians coleciona times
de Washington
As compras do Corinthians e da
Traffic pelo fundo de investimentos norte-americano HMTF
(Hicks, Muse, Tate & Furst) é um
lance bastante humilde na vida
profissional do mais controverso
empresário do setor esportivo e
de telecomunicações dos EUA.
O homem por trás da sigla chama-se Thomas O. Hicks, ou simplesmente Tom Hicks. Esse magnata tem um poder de fogo que
extrapola, e muito, os atuais limites do futebol brasileiro.
Os investimentos próprios e
com recursos de clientes somam
atualmente US$ 33 bilhões (valor
equivalente a duas vezes o conjunto de bens e serviços produzidos no Uruguai num ano inteiro).
No Brasil, já domina o clube
mais popular de São Paulo e a
Traffic, empresa que conduz a
programação esportiva da TV
Bandeirantes, que foi intermediária do contrato da CBF com a Nike e que explora a publicidade em
vários estádios pelo país.
A Traffic ainda promove o Brasileiro, a Copa América e as eliminatórias para a Copa do Mundo e
organiza a Copa Mercosul.
Nos EUA, seu poderio resvala
nas eleições presidenciais: os negócios de Hicks transformaram-se no calcanhar-de-aquiles de
George W. Bush, favorito à sucessão de Bill Clinton no ano 2000.
Atual governador republicano
do Texas (oeste dos EUA), Bush é
filho do ex-presidente dos EUA,
George Bush, e um dos amigos
mais próximos de Hicks.
O controlador da Hicks, Muse,
Tate & Furst foi o principal financiador de Bush nas eleições estaduais para o Texas em 1998 e é
acusado pela oposição democrata
de ter aproveitado a compra de
um time de beisebol para colocar
nos bolsos do governador Bush
mais dinheiro do que as legislações eleitoral e fiscal permitiriam.
Em 1998, Hicks comprou o Texas Rangers por US$ 250 milhões
de um grupo de empresários do
Texas liderados por Bush.
Além de ter sido uma das cinco
mais caras aquisições esportivas
da história dos EUA, a operação
teve outra particularidade.
Bush e seu grupo haviam comprado o time de beisebol sete anos
antes por apenas US$ 46 milhões.
Pessoalmente, Bush pagou US$
600 mil por sua parte no time e a
vendeu a Hicks por US$ 14 milhões, valorização de cerca de
2.350% em nove anos. O detalhe:
nesse período, o time manteve
sua tradição de não vencer nada.
Num país com preços relativamente estáveis e com personagens tão ilustres, a venda dos Rangers chamou a atenção da imprensa e dos democratas.
A transação é considerada ironicamente pelos inimigos de
Bush como a única vez em que o
candidato a presidente teve lucros
durante toda sua vida.
""Eu só tenho nome, mas não dinheiro", chegou a confessar Bush,
para meses depois falar: ""Eu fiz
mais dinheiro do que eu poderia
ter imaginado na vida."
As acusações sobre ele são pesadas. "Na prática, Hicks colocou
milhões de dólares no bolso do
governador do Texas", diz Robert
Bryce, jornalista que cobre o tema
no jornal "Dallas Observer".
A imprensa levantou o fato de
que, poucos anos antes, o governador Bush havia nomeado Hicks
como coordenador de um fundo
de US$ 1,7 bilhão usado pelo governo para investir em empresas
privadas com o objetivo de estimular a economia do Estado.
"Quase um terço desse valor
acabou sendo comprometido
com negócios de amigos e sócios
de Hicks", escreveu R.G.Ratcliffe,
no jornal ""Houston Chronicle".
No rastro das suspeitas deixadas pela operação, insinuou-se
também que o dinheiro pago por
Hicks pelos Rangers seria de Bush
desde o início -Hicks guardaria
os recursos, como uma espécie de
sócio oculto.
Como conclusão tácita desses
rumores não comprovados está a
insinuação de que, na verdade, é
uma espécie de "administrador"
do dinheiro dos Bush.
Bush defende-se dizendo que o
preço do time variou porque seu
patrimônio aumentou no período, com a construção de um novo
estádio e de contribuições feitas
por cidadãos do Texas.
A polêmica relação de Hicks
com Bush não é a única a explicar
a personalidade do empresário.
Aos 53 anos, ele é considerado
pelo mercado como um negociador implacável e pouco ortodoxo.
Antes de comprar os Rangers,
Hicks já era dono de 400 estações
de rádio nos EUA. "Em termos de
retorno e crescimento, não há investimento melhor que o rádio",
disse à revista "Forbes".
É, ainda, proprietário do Dallas
Star, time de hóquei do Texas.
Um outro episódio nos EUA revela os métodos do novo ""dono
da bola" no Brasil.
Em 1998, Hicks convidou a mulher do prefeito de Dallas para fazer parte do conselho diretor da
Chancellor Broadcasting, a companhia controladora do grupo de
empresas que administra.
Depois de um ano no cargo, ela
recebeu US$ 500 mil em opções
de ações, como premiação.
Simultaneamente, Hicks conseguiu convencer o prefeito a construir um estádio de US$ 230 milhões no centro de Dallas.
Metade do valor para a construção do estádio está sendo pago
pelos contribuintes.
Hicks declarou que os dois fatos
não têm relação entre si e que ele
teria contratado Ellis Kirk, mulher do prefeito Ron Kirk, para o
conselho por sua competência.
Aparentemente, Hicks nunca
teve problemas com a Justiça.
Mas seus métodos são visivelmente "flexíveis".
Um empresário do Texas ouvido pela Folha disse que a ousadia
de Hicks nos EUA, país considerado rígido nas leis, pode crescer
exponencialmente e ficar ainda
mais polêmica na América Latina, região onde o empresário decidiu concentrar seus investimentos recentemente.
Alguns sinais já foram dados.
Como porta de entrada no mercado argentino, Hicks decidiu
comprar o patrimônio do ex-banqueiro Raúl Moneta, amigo íntimo do presidente argentino, Carlos Menem, foragido depois de
sofrer acusações de sonegação fiscal e de corrupção.
Por US$ 1,2 bilhão, Hicks comprou o controle do grupo de comunicações Cei Citicorp, que
cresceu à margem do governo
Menem e despertou a irritação
das redes de televisão e de jornais
tradicionais na Argentina.
Hicks também comprou o
maior provedor de Internet do
país, El Sitio, por US$ 44 milhões.
O passo seguinte foi ingressar
no Brasil, por meio do Corinthians e da Traffic, um grande negócio pela ótica do futebol brasileiro. Mas um passo ainda tímido
perto das reais ambições do empresário norte-americano no
mercado da América Latina.
(MARCIO AITH)
Colaborou a Reportagem Local
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