São Paulo, Domingo, 08 de Agosto de 1999
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Pan-Americano quer ser seletiva olímpica

dos enviados a Winnipeg

Os Jogos Pan-Americanos de Winnipeg terminam neste domingo, após 18 dias de competições em 41 modalidades esportivas, que envolveram cerca de 5.000 atletas de 42 países.
Descartados três casos positivos de doping -um deles de Javier Sotomayor, astro do atletismo cubano-, o mexicano Mário Vázquez Raña, 58, presidente da Odepa (Organização Desportiva Pan-Americana), se mostra satisfeito com o evento, que tem sua próxima edição programada para 2003, em Santo Domingo, na República Dominicana.
Até lá, no entanto, ele tem um desafio importante pela frente, que poderá resultar na elevação do nível técnico do Pan-Americano, abalado a cada nova disputa pela ausência das grandes estrelas, principalmente de atletas norte-americanos.
Vázquez Raña, dono de 61 jornais, emissoras de rádio e TV no México, quer que as modalidades se valham dos Jogos como seletivas olímpicas americanas. Como a Olimpíada é a meta de todo atleta, os Jogos podem, dessa forma, resgatar seus astros. (EA e MD)

Folha - Qual é a avaliação que o senhor, como presidente da Odepa, faz destes Jogos?
Mário Vázquez Raña -
Estou à frente dos Jogos Pan-Americanos desde 1975, na Cidade do México. Este é o melhor desde que me tornei o presidente. Tivemos muitos problemas com o Comitê Organizador, que discutiu com a nossa Comissão Executiva. As partes cederam em vários pontos, e tudo se acertou na organização, no nível esportivo, na participação e nas instalações esportivas. O melhor mesmo, o mais importante, é a participação dos voluntários. Todos sabem o que devem fazer, suas responsabilidades, executam o trabalho com educação. Trabalham de graça e isso tem muito valor para os Jogos.

Folha - Na primeira semana, em 45 provas de atletismo, canoagem, ciclismo e ginástica artística, em apenas um caso, o do cubano Ivan Pedroso, no salto em distância, o resultado teria dado pódio na Olimpíada de Atlanta, em 96. Como o senhor avalia isso?
Vázquez Raña -
Eu não gostaria de opinar sobre outros países. Posso dizer que o Brasil, em geral, tem uma grande participação desportiva, com muitas medalhas. Isso é positivo. Argentina, Brasil e México sempre lutam pelas mesmas posições.

Folha - Sem os países sul-americanos, o futebol transforma o Pan num torneio menor?
Vázquez Raña -
Eu me opus a pagar, a dar dinheiro, para que os países sul-americanos viessem. A Odepa não pode pagar. Preferimos ficar sem o futebol da América do Sul. Agradeço à Concacaf por ter trazido suas equipes, que já jogam em nível elevado.

Folha - A Confederação Sul-Americana pediu dinheiro?
Vázquez Raña -
A Conmebol (Confederação Sul-Americana) queria dinheiro. Dissemos que não pagaríamos, primeiro para os homens. Depois falaram sobre as mulheres. Dissemos não. Tenho respeito pelo futebol. Somos ricos em capacidade, em emoção, gostamos das coisas grandes, mas não temos dinheiro. Não podíamos pagar os US$ 2 milhões que queriam por participação de cada país. Vou procurar a Fifa para saber sobre essa questão.

Folha - O período dos Jogos sempre coincide com o Mundial de Atletismo. Isso ajuda a esvaziar a modalidade?
Vázquez Raña -
Nós queremos realizar os Jogos no período das férias escolares de verão no hemisfério norte. A Federação Internacional de Atletismo faz o mesmo. Eu e o presidente da Federação, Primo Nebiolo, conversamos e tratamos de acertar as datas. Por isso, colocamos o atletismo na primeira semana dos Jogos, quando o normal seria no final, mas assim ficaria muito perto do Mundial de Sevilha.

Folha - Uma saltadora uruguaia saltou do trampolim de 5 m, enquanto as demais usaram o de 10 m. Por que permitir esse tipo de participação?
Vázquez Raña -
Não posso opinar sobre a participação de atleta deste ou daquele país. É um trabalho para o setor técnico, que podemos ver no futuro. É um trabalho cem por cento da parte técnica da Odepa.

Folha - E a questão de Cuba no levantamento de peso, que se sentiu prejudicada pela redução do número de medalhas em disputa, setor em que aquele país sempre foi destaque?
Vázquez Raña -
Nós não reduzimos as medalhas. A Odepa não tira medalhas. Apenas aplicou o programa das federações olímpicas em Sydney. Em vez de três medalhas por prova, agora é uma só, como nos Jogos Olímpicos. Nós queremos que os Jogos Pan-Americanos sejam classificatórios para a Olimpíada. Teremos que ajustar, amoldar nosso programa ao da Olimpíada.

Folha - Qual é o orçamento anual da Odepa?
Vázquez Raña -
Não gastávamos nada. Agora, temos uma sede muito bonita na Cidade do México e vamos gastar em torno de US$ 80 mil por ano. Damos mensalmente US$ 500 para cada comitê nacional para que pague uma pessoa para contato exclusivo conosco. Damos também US$ 25 mil a cada comitê a cada três ou quatro anos. Aqui no Canadá, por exemplo, recebemos US$ 1,6 milhão. São nossos gastos para quatro anos.

Folha - Os direitos de TV dos Jogos vão para a Odepa?
Vázquez Raña -
Vai tudo para o Comitê Organizador dos Jogos, que repassa 25% à Odepa. O Comitê sempre se queixa, e fazemos um acerto, que desta vez ficou em US$ 1 milhão.

Folha - O Comitê Olímpico Internacional esteve envolvido num escândalo de corrupção. A Odepa sentiu a pressão?
Vázquez Raña -
Como também sou presidente da Associação dos Comitês Olímpicos Nacionais, e como presidente da Odepa, trato de defender o movimento olímpico desses ataques. Vamos fortalecer mais o movimento. O problema tem dois pontos: a comercialização e o profissionalismo, que não manejamos bem. Mas, se os manejamos bem, são problemas positivos.

Folha - Aqui, ocorreram três casos positivos de doping. A delegação cubana levantou a suspeita de sabotagem na comida do Javier Sotomayor. Ao contrário da Odepa, Cuba também disse que não justificou o doping alegando consumo de um chá que continha coca. Como fica esse caso para a Odepa?
Vázquez Raña -
A Odepa só anunciou o que a Comissão Médica informou. Ela não se mete nesses casos para saber por onde entrou a droga. Não sabemos. Eu incentivei Cuba a fazer a defesa para amenizar a falta cometida. Os outros dois casos envolvem o Canadá, país organizador, com seu esporte (hóquei in line) nacional. O outro, o da saltadora dominicana, foi o que mais doeu, porque é o país que vai organizar os próximos Jogos.


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