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FUTEBOL
Técnica, habilidade, criatividade
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Em outras épocas, o futebol
brasileiro se destacava e vencia os demais em virtude da habilidade e da criatividade. Não pela
técnica.
Frequentemente, confundimos
esses conceitos. A técnica é o conjunto de fundamentos básicos, como o passe, o drible, a finalização,
o desarme e outros. É uma característica geral e impessoal. Pode
ser ensinada e desenvolvida com
treinos e com a melhoria da tecnologia e dos métodos de treinamento. Foi o que aconteceu nos
Jogos Olímpicos, principalmente
na natação.
A habilidade é pessoal. Finalizar bem é um dos fundamentos
técnicos. Em curva, é uma habilidade. Pode ser aprimorada, mas
dificilmente aprendida.
A criatividade é a capacidade
de inventar e imaginar. Não se
aprende, mas pode-se ensinar a
usá-la.
O talento, por sua vez, é a reunião de tudo isso.
Muitos excelentes jogadores
brasileiros se destacam pela habilidade e/ou criatividade, mas não
pela técnica. Parecem craques,
mas não são.
Maradona foi o mais hábil e artístico, mas Pelé foi o melhor. O
Rei reuniu, ao máximo, a técnica,
a habilidade, a criatividade e outras qualidades.
A infância, segundo estudos
científicos e a observação empírica, é a fase ideal para se descobrir
e desenvolver a habilidade e a
criatividade. Para isso, é necessário deixar o menino brincar com
a bola. Sem regras. Divertir e sonhar com os encantos e a magia
do futebol.
A infância não é o momento de
se aprender a técnica. Nessa fase,
ainda não existe uma estrutura
psicomotora. A técnica deve ser
ensinada na adolescência e nas
categorias de base dos clubes. Servirá de sustentação para a manutenção e o aprimoramento da habilidade e da criatividade.
Hoje, os meninos, precocemente, tentam aprender a técnica nas
escolinhas antes de descobrir a
habilidade. Não aprendem uma
coisa nem outra.
Quem não foi craque nos campos de pelada, nunca será na vida
adulta, nos gramados.
Os países mais desenvolvidos
investiram muito na técnica. No
futebol, países sem qualquer tradição, como Estados Unidos e Japão, melhoraram muito. Mesmo
sem habilidade e criatividade, já
são adversários difíceis para as
melhores equipes.
Os africanos, por meio do intercâmbio com a Europa, estão
aliando habilidade, técnica e disciplina. São bicampeões olímpicos e logo disputarão o título
mundial.
O futebol brasileiro não aprimorou sua técnica por falta de
melhor estrutura e calendário.
Os jogadores treinam pouco.
Nas categorias de base dos clubes,
os meninos cometem os mesmos
erros dos adultos. Nada se cria.
Tudo se repete.
Na área emocional, enquanto
os especialistas trabalham nas
universidades e nos centros de
psicologia esportiva, os pseudo-psicólogos utilizam, nos clubes e
no COB (Comitê Olímpico Brasileiro), técnicas de auto-ajuda
amadoras, ineficientes e sensacionalistas.
No futebol, e em outras áreas da
sociedade brasileira, existe uma
dissociação entre o conhecimento
acadêmico e a prática. Muitos excelentes professores de educação
física não entendem do esporte.
Os práticos ex-atletas não conhecem os métodos de treinamento.
Os dois saberes são essenciais.
Assim como Narciso, o futebol
brasileiro apaixonou-se por sua
imagem. Somos ainda os mais
habilidosos e criativos, mas falta
técnica, estratégia, organização e
profissionalismo.
Os hábeis e criativos encantam,
mas nem sempre vencem.
Para minha surpresa, fui convidado pelo presidente da CBF, Ricardo Teixeira, para ser o coordenador técnico da seleção brasileira de futebol.
Não aceitei.
O motivo principal, dito a ele
por telefone, é que esse cargo é de
confiança. Sempre critiquei a maneira como a CBF conduziu o futebol brasileiro. A entidade, como
órgão máximo, é a principal responsável pela atual bagunça no
futebol no Brasil.
Não seria coerente aceitar o
convite, mesmo sendo para um
cargo técnico. Não me sentiria
bem.
Além disso, o coordenador técnico da seleção não tem poderes
para mudar os graves problemas
estruturais do futebol, como o calendário.
A intenção do presidente da
CBF, de mudar toda a estrutura
da comissão técnica e convidar
primeiramente um coordenador,
é boa. Esse coordenador vai indicar o técnico, e os dois escolherão
a comissão técnica. Isso retira os
excessivos poderes do treinador.
Minha contribuição pode ser
dada de outra forma. Se quiserem
saber minha opinião, é só ler minha coluna.
O que penso, falo e escrevo.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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