São Paulo, domingo, 08 de outubro de 2006

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na marcação

Ministério Público usa corpo-a-corpo contra a violência

Promotor se mistura a organizadas do Corinthians para identificar vândalos

Estratégia já serviu para identificar torcedores que danificaram Pacaembu e brigaram com policiais em jogo da Libertadores

EDUARDO OHATA
DA REPORTAGEM LOCAL

Com o objetivo de identificar integrantes de organizadas que participaram de tumultos em estádios, promotores do Ministério Público de São Paulo deixaram seus gabinetes e passaram a, de forma literal, entrar em campo para reconhecê-los.
De posse de imagens de TV e fotos publicadas nos jornais de torcedores que deixaram o Pacaembu destruído e brigaram com policiais durante a partida com o River Plate, em maio, pela Libertadores, os promotores Paulo Sérgio de Castilho e Eder do Lago Mendes Ferreira vêm freqüentando as partidas do Corinthians no Brasileiro.
A dupla de promotores públicos do Estado, que conta com o apoio da Polícia Militar e da Polícia Civil, trabalha durante os jogos mais ou menos como uma equipe de TV. Castilho, o ""produtor", permanece próximo à torcida e identifica os torcedores que crê aparecerem nas imagens feitas no Pacaembu.
A seguir, liga para Mendes, cuja base é a cabine de monitoramento de imagens, que por sua vez orienta o técnico de imagem para que dê um close naquele torcedor para uma identificação positiva ou não.
Também vão ao estádio, como na partida de quinta passada entre Corinthians e Santos, pelo Nacional, para analisar os membros das organizadas munidos com binóculos especiais.
""Só pela veiculação das fotos estava difícil identificar. Então se tem de ir ao estádio. E vamos continuar indo. Facilita que a gente gosta de futebol, mas a gente não se diverte, pois só ficamos de olho na torcida", explica Castilho, 39, que treinou entre os juniores de São Paulo, XV de Jaú e Olímpia.
Para identificar os torcedores em suas conversas, os promotores até batizaram alguns deles com apelidos peculiares, de acordo com suas características físicas. Um deles ganhou o codinome ""Vampeta", pela semelhança com o volante.
Segundo o Ministério Público, as diligências surtiram efeito. Já foram identificadas pelo menos seis pessoas que fizeram parte dos tumultos, incluindo dirigentes das organizadas Gaviões da Fiel e Camisa 12.
""Eles [integrantes das organizadas do Corinthians], embora de forma respeitosa, fizeram algumas ironias, disseram que somos palmeirenses, são-paulinos...", comenta Ferreira.
O inquérito sobre o caso deve ser finalizado até o final do mês. Os promotores esperam agora o encaminhamento de material da investigação conduzida pelo 23º Distrito Policial.
Os envolvidos no episódio poderão ser indiciados por dano ao patrimônio público, incitação ao crime, lesão corporal, desacato à autoridade e resistência à prisão. A pena total ultrapassa sete anos de prisão.
Os representantes do Ministério Público, porém, crêem que a identificação de torcedores problemáticos não implicará tanto trabalho no futuro.
""É por isso que foi importante a assinatura do termo de ajustamento de conduta firmado na federação paulista que obriga os integrantes das organizadas a tirar a carteirinha para ir às partidas", diz Castilho.
As funções do Ministério Público se estendem à prevenção.
Amanhã, o meia Zé Roberto e o técnico Vanderlei Luxemburgo, do Santos, serão notificados para esclarecer a provocação feita à torcida rival no jogo com o Corinthians, na quinta passada. Em uma ação paralela, devem ser convocados para uma ""conversa" os presidentes de torcidas do Corinthians e do Palmeiras, que teriam agendado brigas via internet.


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