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FUTEBOL
Zé Cabala e o vapt-vupt
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
Logo que Gulliver abriu a
porta, perguntei-lhe:
- Posso falar com o mestre?
- Ele está na vizinha, disse o
anão (ou deficiente vertical, como
ele prefere ser chamado).
- Na vizinha? Ele está fazendo
um atendimento espiritual a domicílio?, perguntei.
Depois que parou de rir, Gulliver respirou fundo e falou:
- É, é mais ou menos isso. E ele
me disse que não quer ser interrompido por nada deste mundo.
Cinco minutos e R$ 200 depois,
estava diante do guru dos gurus.
- Mestre, desculpe interrompê-lo, mas é que eu gostaria de
conversar alguns minutos com
aquele que foi o maior goleiro da
história do Atlético-MG.
O maharishi dos maharishis começou então a dar saltos, a fazer
pontes e a quicar bolas imaginárias contra o chão para depois
chutá-las para o alto. No fim, suado, veio até perto de mim, estendeu a mão e disse:
- E aí, tudo barra-limpa? Kafunga ao seu dispor. Você sabe
que comigo não tem corê-corê.
Vamos lá trocar uma idéia, mas,
olha, tem que ser vapt-vupt, viu?
- Tudo bem. Primeiro, queria
saber o seu nome verdadeiro.
- Olavo Leite Bastos. Sem graça, né? Qualquer um poderia ter
sido um Olavo Leite Bastos, mas
só eu fui Kafunga.
- O senhor era mineiro?
- Mineiro de Niterói. Fui contratado depois de um jogo da seleção mineira contra a carioca, isso
lá em 1933.
- E o senhor se deu bem em
Belo Horizonte?
- Muito! Passei 50 anos lá. Fui
comentarista esportivo e até vereador, mas morri sem aprender
a falar uai.
- É verdade que o senhor declarou que tinha entrado na política para se arranjar?
- Falei o que muitos pensam,
mas não têm coragem de falar.
Felizmente hoje o povo evoluiu,
ficou mais instruído e não votaria
num candidato só porque ele foi
ídolo de um time de futebol.
- Na sua fase de comentarista,
o senhor inventou um monte de
expressões, não foi?
- Eu era um comentarista barra-limpa, falava vapt-vupt, já que
comigo não tinha corê-corê.
- E no Atlético o senhor foi titular por duas décadas?
- É, meu rapaz, foram tantos
jogos que eu até perdi a conta. Estreei numa derrota para o Vila
Nova daqui de Nova Lima, mas
evitei o pior e não saí mais. Fui
muito feliz debaixo daquelas traves. Depois vieram o Renato, o
João Leite, o Velloso, mas até hoje
a torcida do Galo me elege como o
maior goleiro de todos os tempos.
- Eu li que o senhor sofreu cinco derrames antes de passar para
o andar de cima.
- Até nessa hora eu quis fazer
milagre, mas não adianta: até o
melhor dos goleiros acaba tomando o gol final.
Logo depois, Zé Cabala fez
umas caretas, emitiu uns grunhidos engraçados e voltou a ser o supremo carteiro dos espíritos. Pensei em beber um pouco mais de
sua incomparável sabedoria,
mas, naquele mesmo instante, a
tal vizinha apareceu na janela
com um decote cavado e gritou:
- Cabalinha, seu espírito de
porco, vamos ou não vamos acabar a nossa sessão?
Então, ele ajeitou o turbante e
cochichou em meu ouvido:
- Acho que vou ter que fazer
um negocinho vapt-vupt, senão
vai ter corê-corê.
A mim não restou outra coisa a
fazer, a não ser erguer meu polegar e dizer:
- Barra-limpa!
"Haicai"
E eis uma severa crítica da leitora Francisca Dutra: "Seu
texto é chato/ Quando fala
apenas/ de campeonato".
Santos
Ubiratan José Araújo manda
uma seleção de Santos: Gilmar dos Santos Neves (ex-Santos e Corinthians); Djalma Santos, Júlio Santos, Márcio Santos e Nilton Santos;
Jairo Santos (Caxias), Carlos
Alberto Santos (ex-Botafogo), Fábio de los Santos (Grêmio) e João Santos (ex-Bragantino); Paulinho Santos
(Portugal) e Luciano Santos
(União São João).
Vovôs
Fábio Guimarães manda
uma curiosa seleção mundial
dos campeões de longevidade: Dino Zoff; Djalma Santos,
Mauro Galvão, Franco Baresi
e Nilton Santos; Júnior, Toninho Cerezo, Lothar Matthaus
e Zizinho; Stanley Mathews e
Roger Milla.
E-mail torero@uol.com.br
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