São Paulo, sexta-feira, 08 de novembro de 2002

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FUTEBOL

Zé Cabala e o vapt-vupt

JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA

Logo que Gulliver abriu a porta, perguntei-lhe:
- Posso falar com o mestre?
- Ele está na vizinha, disse o anão (ou deficiente vertical, como ele prefere ser chamado).
- Na vizinha? Ele está fazendo um atendimento espiritual a domicílio?, perguntei.
Depois que parou de rir, Gulliver respirou fundo e falou:
- É, é mais ou menos isso. E ele me disse que não quer ser interrompido por nada deste mundo.
Cinco minutos e R$ 200 depois, estava diante do guru dos gurus.
- Mestre, desculpe interrompê-lo, mas é que eu gostaria de conversar alguns minutos com aquele que foi o maior goleiro da história do Atlético-MG.
O maharishi dos maharishis começou então a dar saltos, a fazer pontes e a quicar bolas imaginárias contra o chão para depois chutá-las para o alto. No fim, suado, veio até perto de mim, estendeu a mão e disse:
- E aí, tudo barra-limpa? Kafunga ao seu dispor. Você sabe que comigo não tem corê-corê. Vamos lá trocar uma idéia, mas, olha, tem que ser vapt-vupt, viu?
- Tudo bem. Primeiro, queria saber o seu nome verdadeiro.
- Olavo Leite Bastos. Sem graça, né? Qualquer um poderia ter sido um Olavo Leite Bastos, mas só eu fui Kafunga.
- O senhor era mineiro?
- Mineiro de Niterói. Fui contratado depois de um jogo da seleção mineira contra a carioca, isso lá em 1933.
- E o senhor se deu bem em Belo Horizonte?
- Muito! Passei 50 anos lá. Fui comentarista esportivo e até vereador, mas morri sem aprender a falar uai.
- É verdade que o senhor declarou que tinha entrado na política para se arranjar?
- Falei o que muitos pensam, mas não têm coragem de falar. Felizmente hoje o povo evoluiu, ficou mais instruído e não votaria num candidato só porque ele foi ídolo de um time de futebol.
- Na sua fase de comentarista, o senhor inventou um monte de expressões, não foi?
- Eu era um comentarista barra-limpa, falava vapt-vupt, já que comigo não tinha corê-corê.
- E no Atlético o senhor foi titular por duas décadas?
- É, meu rapaz, foram tantos jogos que eu até perdi a conta. Estreei numa derrota para o Vila Nova daqui de Nova Lima, mas evitei o pior e não saí mais. Fui muito feliz debaixo daquelas traves. Depois vieram o Renato, o João Leite, o Velloso, mas até hoje a torcida do Galo me elege como o maior goleiro de todos os tempos.
- Eu li que o senhor sofreu cinco derrames antes de passar para o andar de cima.
- Até nessa hora eu quis fazer milagre, mas não adianta: até o melhor dos goleiros acaba tomando o gol final.
Logo depois, Zé Cabala fez umas caretas, emitiu uns grunhidos engraçados e voltou a ser o supremo carteiro dos espíritos. Pensei em beber um pouco mais de sua incomparável sabedoria, mas, naquele mesmo instante, a tal vizinha apareceu na janela com um decote cavado e gritou:
- Cabalinha, seu espírito de porco, vamos ou não vamos acabar a nossa sessão?
Então, ele ajeitou o turbante e cochichou em meu ouvido:
- Acho que vou ter que fazer um negocinho vapt-vupt, senão vai ter corê-corê.
A mim não restou outra coisa a fazer, a não ser erguer meu polegar e dizer:
- Barra-limpa!

"Haicai"
E eis uma severa crítica da leitora Francisca Dutra: "Seu texto é chato/ Quando fala apenas/ de campeonato".

Santos
Ubiratan José Araújo manda uma seleção de Santos: Gilmar dos Santos Neves (ex-Santos e Corinthians); Djalma Santos, Júlio Santos, Márcio Santos e Nilton Santos; Jairo Santos (Caxias), Carlos Alberto Santos (ex-Botafogo), Fábio de los Santos (Grêmio) e João Santos (ex-Bragantino); Paulinho Santos (Portugal) e Luciano Santos (União São João).

Vovôs
Fábio Guimarães manda uma curiosa seleção mundial dos campeões de longevidade: Dino Zoff; Djalma Santos, Mauro Galvão, Franco Baresi e Nilton Santos; Júnior, Toninho Cerezo, Lothar Matthaus e Zizinho; Stanley Mathews e Roger Milla.

E-mail torero@uol.com.br



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