São Paulo, domingo, 08 de dezembro de 2002

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FUTEBOL

Vitória da inovação

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Corinthians e Santos têm excelentes atletas. São times ofensivos, criativos e eficientes. O Corinthians é mais regular, previsível, equilibrado, experiente, racional, tranquilo, prudente, paciente e técnico. O Santos é mais jovem, explosivo, emocional, inquieto, ousado e habilidoso.
O Santos marca e desarma mais. Associa a marcação por zona à individual, no meio-campo. O Corinthians só marca por setor. Os jogadores, em vez de correrem atrás do rival, posicionam-se para fechar os espaços defensivos.
Taticamente, os finalistas são parecidos e fogem do habitual. Corinthians e Santos atuam com uma linha de quatro defensores, três no meio-campo, dois atacantes pelos lados e um centroavante. Deivid, Gil, Robinho e Elano recuam, marcam os laterais e atacam pelas pontas. Elano é mais marcador e armador. Robinho, Deivid e Gil são mais atacantes.
A diferença tática das duas equipes está no meio-campo. O Corinthians joga com um volante pelo meio mais recuado e um armador de cada lado, com funções defensiva e ofensivas. No Santos, há dois volantes (Renato ataca mais) e o Diego entre os dois e o Alberto. Elano, Diego e Robinho formam um trio de apoio aos dois volantes e ao centroavante.
Frequentemente, os dois times têm nove atletas, além do goleiro, defendendo no seu campo. Ficam atrás da linha da bola, como fala o Parreira. Só o centroavante permanece na frente. Essa era a tática brasileira na Copa de 70.
Em vez de atacarem pelos flancos com laterais, característica dos times nacionais, os dois finalistas usam atacantes pelos lados, ajudados pelos laterais. Formam duplas, o que dificulta a marcação. Essas duplas são as grandes forças ofensivas dos dois times.
Os três gols do Corinthians contra o Flu saíram dessa forma. Se o sinaleiro Guilherme (não pára de levantar os braços) tivesse jogado desde o início, provavelmente seria o artilheiro do Brasileirão.
Corinthians e Santos inovaram taticamente. Fugiram da mesmice. Por isso, são os finalistas.

Esperança
Não vou falar da novela "Esperança". Não assisto a novelas. Porém, de vez em quando, escondido, ligo a televisão nesse horário só para admirar a beleza e o talento da Ana Paula Arósio.
Tenho esperança de que o futebol brasileiro melhore nos próximos anos. Para isso, antes de tudo, é preciso uma lei que regulamente, fiscalize e puna os infratores. A lei já está pronta. É o projeto de moralização do esporte. Basta o Congresso aprová-la.
Por ela, os clubes, as federações e a CBF terão a mesma responsabilidade fiscal. Os clubes serão obrigados a publicar balanços. Eles somente se beneficiarão do patrocínio e dos financiamentos públicos se se tornarem empresas e estiverem com os impostos pagos. Não será obrigatória a transformação do clube em empresa.
Tenho esperança na política do novo governo, que vai priorizar o lado social do esporte. O futebol e os esportes de alto rendimento já são ajudados pelo dinheiro público (Lei Piva e outras formas). Deveriam ser apoiados principalmente pela iniciativa privada. Na verdade, o esporte no Brasil, em todas as formas, somente será competitivo e saudável quando o país for mais desenvolvido e justo.
Tenho esperança de que o Ministério do Esporte -ou secretaria (não faz diferença)-, desvinculado do turismo, será dirigido por uma pessoa experiente em administração pública do esporte, e não por um ex-atleta famoso ou por um político sem ligação com o setor.
Tenho esperança de que todos os dirigentes serão proibidos de se reelegerem por mais de um mandato e que os cartolas atuais serão substituídos progressivamente por outros com novas idéias e atitudes, como já está acontecendo.
Tenho esperança de que não haverá virada de mesa e de que o próximo Brasileiro será por pontos corridos, com turno e returno. No final, somam-se os pontos. Assim é mais justo. Poderá não ser inicialmente a fórmula mais rentável, mas se tornará com o tempo. Os jogos serão em horários que interessam ao bom futebol, e não à programação da televisão.
Tenho esperança de que o novo governo convença a elite econômica de que ela só continuará lucrando (menos) e que o Brasil só vai resolver seus graves problemas sociais quando houver aumento da produção e transferência de riqueza dos mais ricos para os mais pobres, dentro da democracia e do respeito às leis.
Tenho outras esperanças, como a de não mais acreditar em Papai Noel.

E-mail
tostao.folha@uol.com.br



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