São Paulo, terça-feira, 08 de dezembro de 2009

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JOSÉ ROBERTO TORERO

Amy Winehouse e o Flamengo


O Fla é uma fantástica clínica de reabilitação. Andrade, o diretor da Rehab, recuperou Adriano, Petkovic e outros


A PRIMEIRA vez que escutei Amy Winehouse imaginei-a como uma negra gorda do Harlem. Mas se tratava de uma inglesa magra e branquela. Com um suingue inacreditável, ela cantava uma música que dizia: "They tried to make me go to rehab, but I said "no, no, no'". A tradução disso pode ser "Tentaram me mandar para uma clínica de reabilitação, mas eu disse "não, não, não'". O irônico é que ela acabou indo mesmo parar numa clínica. Só que não deu certo. Pois ela deveria é ter ido para o Flamengo.
O time da Gávea é uma clínica de reabilitação fantástica. A recuperação de jogadores foi um dos fatores que transformaram o time no campeão brasileiro deste ano.
A mais óbvia destas ressurreições foi a de Adriano. Desmotivado, com problemas com álcool e sem preparo físico, o jogador voltou para seu time do coração e reconquistou a boa forma. Foi artilheiro do Brasileiro, tem chances reais de estar na seleção em 2010, recuperou a alegria de viver e de jogar. Foi uma reabilitação rápida e milagrosa. Pena que ele já pense em sair do clube. Deveria esperar pelo menos até a Copa.
Petkovic foi outro milagre. Aos 37, parecia um aposentado. Nos últimos anos, tinha fracassado no Santos, no Fluminense, no Atlético-MG e no Goiás. Voltou ao time mais por uma questão de contábil do que técnica. Mas foi um dos craques do Brasileiro. Foi o vice-artilheiro do Flamengo e cobrou o escanteio para o gol de Ronaldo Angelim, o do título.
O próprio Ronaldo Angelim é um exemplo de recuperação. Os médicos descobriram que ele sofria de Síndrome Compartimental Aguda.
Mais um pouco e ele poderia ter perdido a perna. Mas fez uma cirurgia às pressas, voltou a jogar como antes e entrou para o panteão dos zagueiros que fazem gols decisivos, onde ficará ao lado de Rondinelli.
Juan ficou quase três meses parado. Mas retornou no fim e bem. Kléberson teve recuperação tripla. Primeiro, passou por um imbróglio legal com o Besiktas, depois, recuperou seu bom futebol e, por fim, superou uma operação no ombro. Trazer de volta um jogador que estava no exterior não deixa de ser uma recuperação. Neste ano, tivemos vários repatriados no Brasileiro, como Vagner Love e Émerson, que não deram certo. Já com Maldonado foi diferente. O chileno mostrou trabalho imediatamente. Ele era a peça que faltava. Organizou a equipe, melhorando a marcação e o primeiro passe para o ataque.
Zé Roberto é outro que se deu bem no Rehab Flamengo. Estava péssimo, irreconhecível, sendo xingado pela torcida. Mas de repente recomeçou a jogar. Foi como se Andrade finalmente tivesse conseguido lhe explicar: "O seu time é aquele de camisa vermelha e preta".
"Ah, por que não me disseram antes?"
E, falando em Andrade, certamente ele é o grande diretor desta clínica de reabilitação. Com calma e simplicidade, foi reconquistando a autoestima dos jogadores, eliminando vícios antigos do time, como o que dizia que Juan e Leonardo Moura só poderiam ser alas, e não laterais, e o time se tornou vencedor. Tudo isso sem marketing ou estrelismo.
Se tentarem mandar Amy Winehouse para a Rehab Flamengo, com certeza ela dirá "Yes, yes, yes".

torero@uol.com.br


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