São Paulo, terça-feira, 09 de janeiro de 2007

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SONINHA

Surpresa!

Com decisão de última hora, a Conmebol deu importância extra ao Sul-Americano sub-20. É assim que se faz?

COMO Rodrigo Bueno contou na Folha de domingo, a Conmebol aposta que o atual Sul-Americano sub-20 será "o melhor de todos os tempos".
Em nota publicada em 28 de dezembro em sua página na internet, gaba-se (!) de sua própria imprevidência: "A partir do momento em que a Conmebol resolveu, na semana passada, que o Sul-Americano sub-20 será classificatório para os Jogos Olímpicos de Pequim-2008 -além de sê-lo para o Mundial sub-20 da Fifa-, o certame passou a ter importância altíssima, e todas as seleções se preparam com motivação adicional. Por isso, o torneio promete ser mais apaixonante do que nunca". Incrível.
Enquanto elogiamos organização e planejamento, simbolizados pela vitória do Inter na Libertadores e no Mundial (feito que a confederação exalta como exemplo da superioridade do futebol sul-americano), assistimos ao culto ao improviso, à decisão de última hora.
Os organizadores podem ter alegado para si mesmos que os competidores já teriam a obrigação de disputar o Sul-Americano com máximo empenho, uma vez que ele classifica para o Mundial. E qualquer torneio tem de ser levado a sério, oras bolas. Mas, se realmente acreditassem que não faz diferença mudar o caráter da competição, diriam que ela "passou a ter importância altíssima" depois da resolução de fins de dezembro?
É evidente que não dá para comparar o significado do Mundial sub-20 com a Olimpíada. Muito já se discutiu sobre a conveniência do futebol fazer parte dela -já que, pelo grau de profissionalização no mundo todo e pelo fato de já ter uma Copa do Mundo que mobiliza a atenção de bilhões de pessoas, ele destoa das outras modalidades.
Mas eu acharia contra-senso o maior evento esportivo do mundo não incluir o esporte mais popular. Abaixar a idade máxima dos atletas foi uma saída inteligente para distinguir o futebol olímpico do profissional -mesmo que os garotos não sejam amadores. O Brasil pode ganhar duas dúzias de títulos sub-17, sub-20, mas nem a soma de todos eles compensará a falta do ouro olímpico. Já disputaríamos o Sul-Americano com o dever de ficar entre os quatro primeiros, para garantir a vaga no Mundial. Agora precisamos desesperadamente ser um dos dois melhores...
A seleção entra sempre em um torneio para disputar o título, mas a maledetta medalha inédita traz peso extra, o que não pode ser ignorado. Veja bem, a idéia de fazer coincidir o Sul-Americano com a classificação para a Olimpíada não me desagrada. O que não aprovo é a mudança no meio do caminho, que contraria não só os conceitos de organização e planejamento como a própria essência do esporte.
Você tem de participar de uma disputa sabendo desde o começo -no caso, a fase de convocação e treinos- o que está em jogo! Em todo caso, estreamos com vitória que parecia improvável. No primeiro tempo, o Brasil não fez quase nada, e o Chile marcou um gol, mas o derrotamos com um glorioso 4 a 2 (dois gols de Leandro Lima e dois de Alexandre Pato, um deles de letra). Com momentos tão desiguais no jogo, impossível dizer agora quais são as chances de sucesso.
Um último comentário sobre a Conmebol: seu ranking de clubes atribui pontos aos torneios com base na "relevância histórica" de cada um. Assim, um vale 20 pontos; outro, 25 pelo título + 2 por jogo feito; outro, 40 pontos. Adivinhe quais: respectivamente, a Libertadores, a Conmebol e a Mercosul/ Sul-Americana. Não entendi, estou maluca ou a pontuação não faz o MENOR sentido? Confederações, regulamentos e rankings: as verdadeiras caixinhas de surpresas.


soninha.folha@uol.com.br

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