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SONINHA
Surpresa!
Com decisão de última hora, a Conmebol deu importância extra ao Sul-Americano
sub-20. É assim que se faz?
COMO Rodrigo Bueno contou
na Folha de domingo, a
Conmebol aposta que o
atual Sul-Americano sub-20 será
"o melhor de todos os tempos".
Em nota publicada em 28 de dezembro em sua página na internet,
gaba-se (!) de sua própria imprevidência: "A partir do momento em
que a Conmebol resolveu, na semana passada, que o Sul-Americano sub-20 será classificatório para
os Jogos Olímpicos de Pequim-2008 -além de sê-lo para o Mundial sub-20 da Fifa-, o certame
passou a ter importância altíssima,
e todas as seleções se preparam
com motivação adicional. Por isso,
o torneio promete ser mais apaixonante do que nunca". Incrível.
Enquanto elogiamos organização e planejamento, simbolizados
pela vitória do Inter na Libertadores e no Mundial (feito que a confederação exalta como exemplo da
superioridade do futebol sul-americano), assistimos ao culto ao improviso, à decisão de última hora.
Os organizadores podem ter alegado para si mesmos que os competidores já teriam a obrigação de
disputar o Sul-Americano com máximo empenho, uma vez que ele
classifica para o Mundial. E qualquer torneio tem de ser levado a
sério, oras bolas. Mas, se realmente
acreditassem que não faz diferença
mudar o caráter da competição, diriam que ela "passou a ter importância altíssima" depois da resolução de fins de dezembro?
É evidente que não dá para comparar o significado do Mundial
sub-20 com a Olimpíada. Muito já
se discutiu sobre a conveniência do
futebol fazer parte dela -já que,
pelo grau de profissionalização no
mundo todo e pelo fato de já ter
uma Copa do Mundo que mobiliza
a atenção de bilhões de pessoas, ele
destoa das outras modalidades.
Mas eu acharia contra-senso o
maior evento esportivo do mundo
não incluir o esporte mais popular.
Abaixar a idade máxima dos atletas foi uma saída inteligente para
distinguir o futebol olímpico do
profissional -mesmo que os garotos não sejam amadores. O Brasil
pode ganhar duas dúzias de títulos
sub-17, sub-20, mas nem a soma de
todos eles compensará a falta do
ouro olímpico. Já disputaríamos o
Sul-Americano com o dever de ficar entre os quatro primeiros, para
garantir a vaga no Mundial. Agora
precisamos desesperadamente ser
um dos dois melhores...
A seleção entra sempre em um
torneio para disputar o título, mas
a maledetta medalha inédita traz
peso extra, o que não pode ser ignorado. Veja bem, a idéia de fazer
coincidir o Sul-Americano com a
classificação para a Olimpíada não
me desagrada. O que não aprovo é
a mudança no meio do caminho,
que contraria não só os conceitos
de organização e planejamento como a própria essência do esporte.
Você tem de participar de uma
disputa sabendo desde o começo
-no caso, a fase de convocação e
treinos- o que está em jogo! Em
todo caso, estreamos com vitória
que parecia improvável. No primeiro tempo, o Brasil não fez quase nada, e o Chile marcou um gol,
mas o derrotamos com um glorioso
4 a 2 (dois gols de Leandro Lima e
dois de Alexandre Pato, um deles
de letra). Com momentos tão desiguais no jogo, impossível dizer agora quais são as chances de sucesso.
Um último comentário sobre a
Conmebol: seu ranking de clubes
atribui pontos aos torneios com
base na "relevância histórica" de
cada um. Assim, um vale 20 pontos; outro, 25 pelo título + 2 por jogo feito; outro, 40 pontos. Adivinhe
quais: respectivamente, a Libertadores, a Conmebol e a Mercosul/
Sul-Americana. Não entendi, estou
maluca ou a pontuação não faz o
MENOR sentido? Confederações,
regulamentos e rankings: as verdadeiras caixinhas de surpresas.
soninha.folha@uol.com.br
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