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São Paulo, domingo, 09 de março de 2003

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FUTEBOL

Há controvérsias

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Nesta semana, Zico completou 50 anos. Continua jovem. Só eu envelheço. O Galinho foi um craque inquestionável. Craque e ídolo. Nem todo craque é ídolo. Zico é o grande ídolo dos atletas atuais que o viram jogar na infância.
Zico era mestre e inventor, como escreveu José Geraldo Couto. Dominava a técnica, tinha muita habilidade e fantasiava, encantava. Além do brilhantismo técnico, era guerreiro e sábio, ambicioso e solidário, disciplinado e ousado.
Numa coluna anterior, citei algumas características psicológicas dos atletas, baseado muito mais na minha experiência de ex-jogador, de pretenso observador da alma humana do que em conhecimentos teóricos. Não descrevi nenhuma regra moral para ser craque. Não tenho este hábito. A eficiência de um atleta ou de um profissional não tem relações com suas qualidades morais.
Volto ao Zico. Ele não tinha a habilidade e fantasia do Maradona, nem a perfeição técnica do Pelé, mas foi um dos melhores jogadores do futebol mundial. Maradona foi mais artista do que Pelé, mas o Rei foi melhor, porque era completo. Os apaixonados argentinos não aceitam isso.
Zico era criativo, mas foi mais técnico, mestre do que inventor. Driblava, passava e finalizava com enorme eficiência. Há jogadores que dominam tanto a técnica da posição, que se tornam craques, mesmo não sendo grandes criadores, como Roberto Carlos e Beckham. Outros, como Ronaldinho Gaúcho, são mais artistas, fantasistas do que técnicos. Ele joga brincando, rindo. Só precisa se transferir do PSG para um dos principais times da Europa para ser reconhecido definitivamente como um craque.
Há também vários inventores que não são craques. Não basta imaginar e antever a jogada. É preciso executá-la bem. José Geraldo Couto citou alguns inventores incompletos, que por isso não são craques, como Alex, Denílson, Felipe, Rivaldo e Ortega. Só discordo do Rivaldo. Na verdade, Rivaldo é indefinível. Mas é um jogador decisivo. Ao contrário do Ronaldinho Gaúcho, joga sempre com a cara fechada. Ele não parece craque, mas é. Muitos parecem e não são.
Como se vê, não sou tão rigoroso na definição de craque. Só no time pentacampeão havia quatro (os quatro erres). Acrescentaria o Marcos, um goleiro brilhante decisivo há vários anos no Palmeiras e na seleção. Há mais uns quatro ou cinco no restante do mundo. Se fosse tão rigoroso, só citaria o Ronaldo e o Zidane.
Romário seria um craque do passado ou do presente?
Há controvérsias.

Camisa 10
Na terminologia antiga, Zico era um ponta-de-lança, atacante que recuava até o meio-campo para receber a bola, driblava, tabelava, colocava o companheiro na frente do goleiro e fazia gols espetaculares, de todos os tipos. Era o camisa 10. O Rei Pelé e os super-craques Maradona, Di Stefano, Cruyff e Platini também atuavam nesta posição.
O ponta-de-lança parecia com o atual armador ou meia ofensivo, o número um, que faz a ligação entre o meio-campo e ataque, como Kaká, Alex, Zidane e outros. O ponta-de-lança era mais atacante do que armador. O meia atual é mais armador do que atacante. Rivaldo e Kaká têm mais características de ponta-de-lança, atacante. Zidane, Alex e Ronaldinho Gaúcho são mais organizadores, armadores.
Como a maioria das principais equipes do mundo joga com dois volantes e um armador de cada lado, com funções defensivas e ofensivas, não existe o meia livre próximo dos dois atacantes. Por isso, os técnicos estrangeiros têm dificuldades em escalar alguns excelentes jogadores, como Riquelme, reserva do Barcelona.
No Real Madrid, Zidane joga pela esquerda, atacando e defendendo. Na seleção francesa, atua mais livre, sem obrigação de marcar no seu campo. Ele brilha das duas maneiras. Por causa dessa capacidade de se adaptar, é ainda mais craque.
O Valência joga com quatro no meio-campo e mais o habilidoso armador Pablo Aimar, adiantado, como um segundo atacante. Seria como se Oswaldo de Oliveira escalasse dois volantes, um meia de cada lado e o Kaká próximo do Luis Fabiano. Sobraria o Reinaldo.
Os técnicos estrangeiros valorizam muito mais a tática e a técnica do que a criatividade dos craques. Por esse e outros motivos, o Brasil é pentacampeão.

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