São Paulo, segunda-feira, 09 de abril de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Homem-peixe encerra desafio

Nadador sai da água direto para o hospital em Belém após atravessar o rio Amazonas em 66 dias

Primeiro a cumprir tal percurso, esloveno se torna celebridade e coleciona história de apuros e dores que irão virar documentário


MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Dezenas de pessoas esperavam a mais nova celebridade na Estação das Docas, em Belém. Mas o ilustre convidado nem pôde participar da festa.
Com a pressão sangüínea a níveis próximos de um ataque cardíaco, Martin Strel foi retirado da água pelos médicos e seguiu direto para o hospital.
O fim dramático, em meio a um clima festivo, resume a jornada cumprida pelo atleta esloveno nos últimos 67 dias.
A nado, ele atravessou 5.430 km pelo rio Amazonas em 66 dias e tornou-se o primeiro homem a percorrer tamanha distância. A "linha de chegada" foi atingida anteontem. Ontem, ele cumpriu uma "prorrogação" até a capital do Pará.
A medida em que dava suas braçadas, além de colecionar dores, Strel viu seu feito, que deve ir para o "livro dos recordes", ganhar notoriedade. E se tornou celebridade local.
A cada nova cidade, era recebido com festa. Prefeitos foram à beira do rio para cumprimentá-lo, acompanhados por dançarinas e suas roupas típicas.
Pelas comunidades ribeirinhas, era acompanhado com encanto e desconfiança. Exausto, cheio de arranhões e com uma máscara que só lhe deixava os olhos e a boca à vista, às vezes parecia assustador.
Strel, 52, já estava habituado a grandes travessias. Em 2000, nadou 3.000 km no Danúbio, o segundo maior rio da Europa. Dois anos depois, cumpriu 3.797 km no Mississipi (EUA). Em 2004, percorreu 4.000 km no Yangtzé, na China. Seu novo feito irá virar documentário.
Mas o desafio de cruzar o Amazonas lhe exigiu esforço jamais experimentado. Até a primeira metade do percurso, nadava cerca de 90 km por dia. Seu maior problema era o sol e as queimaduras de segundo grau que castigavam seu rosto.
O rio também escondia surpresas. Strel nadou por uma região infestada de piranhas e teve de aceitar escolta policial para se proteger dos piratas.
Quando decidiu dar braçadas à noite, evitou usar holofotes para não atrair predadores. Lançou mão de um bastão de neon amarrado à roupa.
"Acho que os animais passaram a me aceitar. Eu nadei com eles por um longo período, acho que começaram a pensar que eu era um deles também", afirmou o esloveno.
Os apuros também não foram poucos. Certa vez, saiu para nadar apenas com um pequeno barco de apoio. Os dois se perderam e passaram boa parte da noite na margem do rio, sozinhos, no escuro, sendo devorados por insetos.
E não foram só as picadas que castigaram seu corpo.
"Chegou um momento em que eu não conseguia sair da água sem ajuda", afirmou.
Strel sofreu com dores musculares, cãibras, escoriações, desidratação, pressão alta, insônia, diarréia, náuseas e infecção por amebas. Perdeu cerca de 12 quilos. Também apresentou confusão mental e passou por sessões de psicoterapia.
"Meu médico falava comigo e me ajudava a tentar pensar em outras coisas. Só queria terminar tudo isso", disse o nadador.


Com agências internacionais


Texto Anterior: RJ: Botafogo e Vasco voltam a se enfrentar
Próximo Texto: Frase
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.