São Paulo, sexta-feira, 09 de abril de 2010

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XICO SÁ

O Santos e a inveja do pênis


Todo mundo se acostumou tanto com os brucutus que a beleza ficou circunscrita ao modismo, a um mero surto

AMIGO TORCEDOR , amigo secador, que importa um campeão oficial, um campeão moral ou um campeão da superação espartana se já temos um campeão estético, festivo, dionisíaco e declaradamente mais genial há várias rodadas do torneio bandeirantes? Nada.
A alegria, me sopra aqui do seu cadilac verde o velho Oswald, rumo aos Campos Elíseos, continua sendo a prova dos nove. O que o São Paulo, o Barueri prudentino e o Santo André terão a dizer para as novas gerações se conquistarem o caneco?
Nécaras. Apenas que valorizaram seus passes, alguns boleiros foram bem vendidos, combateram o bom combate, isso é lindo, aplausos. Na falta de requinte é o que resta, o miserável tédio de resultados. É o que terão a dizer, peito estufado, como lastro moral para a mídia que resolveu chamar o Santos de ""time da moda", a forma mais preconceituosa de negação do futebol bonito.
Todo mundo se acostumou tanto com os brucutus que a beleza ficou circunscrita ao modismo, a uma eventualidade, a um surto, como se fosse uma dengue ludopédica.
Triste, doloroso, mas o jornalismo hoje é tão retranqueiro como os Lazaronis da existência. Aí vem o baixinho Messi, do Santos da Catalunha, e desmancha o pragmatismo; aí vem o Neymar, do Barça da Baixada, e devolve, pelo inesperado, o medo do goleiro diante da vida. Se bem que é o Ganso o gênio deveras do time, que lembra o Clodoaldo no combate, que recorda o Gerson nos passes longos, que chega como um Tostão para o carrinho apenas diante das redes, que tem a elegância paraense do conterrâneo Sócrates Brasileiro, que fica feliz quando bota o André na frente do crime, que tem gosto pelo jogo na sua inteireza.
Sim, amigo, você está certo, o Peixe já ganhou o certame da aldeia, dez pontos na frente do segundo, mas a vida é mata-mata, vale a arena romana, cada lugar e hora um regulamento. Mas é óbvio que o alvinegro, clamo, repetirá as goleadas. Os meninos, que cometeram um único pecado grave neste ano, no episódio da ajuda ao Lar Espírita Mensageiros da Luz, terão o perdão do xará Chico Xavier, naturalmente, tomara!
Seria muito castigo. Não obrigatoriamente para os santistas, mas para quem, de todas as cores, aprecia o fino da bola. Voltaria toda aquela ladainha de que espetáculo não ganha jogo etc. Porre! Uma baita redenção dos conservadores, dos que preferem perder jogando feio a correr o risco da promessa de felicidade que se constitui na beleza.
Não quero ouvir as risadas cretinas dos cavaleiros das mesas-redondas contra essa bela turma praiana. Prefiro as gargalhadas ingênuas dos vossos dentes de leite a todos os sorrisos artificiais da TV brasileira. Faz cara feia, cowboy Durval, renegado herói do bravo Sport, e segura essa zaga. Porque é bom lembrar dos cavaleiros solitários que garantem a porta do saloon alvinegro para que os meninos façam a farra lá dentro.
O bom é que, de repente, até mesmo quem tirava onda do Paulistinha, os viciados na Libertadores, tomaram gosto pelo torneio. O Corinthians conseguiu fazer cinco, e até o São Paulo jogou bonito. O Santos despertou a boa inveja do pênis da qual falava o doutor Freud. Futebol é penetração e arte.

xico.folha@uol.com.br


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