São Paulo, sábado, 09 de abril de 2011

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RITA SIZA

Saber perder e ganhar


Ninguém joga para perder, mas qualquer competidor sabe que não pode ganhar sempre

MAIS UMA história triste e patética do futebol do meu país. Desta vez, a vergonha cai sobre o Benfica, que na semana passada recebeu no seu estádio o rival FC Porto, que só precisava de três pontos para sagrar-se campeão nacional de 2010/2011.
O Porto ganhou por 2 a 1, conquistando o título, e o Benfica fez o quê? Incapaz de lidar com a celebração alheira, desligou as luzes do estádio e ligou o sistema de rega no campo. Não evitou que os portistas fizessem a festa no relvado (suponho que fosse esse o objetivo) e ainda pôs seriamente em causa a segurança das milhares de pessoas que tiveram de abandonar o estádio às escuras e às apalpadelas. Ridículo e absurdo.
Mais ridículo é que a direção do Benfica ainda não tenha dado uma única explicação sobre o lamentável episódio. Não identificou os autores e muito menos penalizou-os, não se explicou perante os seus adeptos, não se desculpou nem cumprimentou os seus adversários.
Foi um relativo consolo ouvir tantos benfiquistas condenarem a atuação dos dirigentes do seu clube, demonstrando, assim, que os princípios do "fair play" e os valores básicos da decência e da boa educação não estão perdidos no clube centenário. E também foi bom ouvir muitos portistas relativizarem o incidente, admitindo que, se a situação fosse inversa e o Benfica se tornasse campeão no estádio do Porto, provavelmente teria acontecido o mesmo. Afinal, o clube não é exatamente um inocente: basta lembrar que, na época transacta, os portistas impediram, numa reação violenta e intolerante, que os benfiquistas festejassem o seu título nas ruas da sua cidade.
Mais absurdo foi o castigo aplicado ao Benfica pelas entidades responsáveis pelo futebol em Portugal: uma multa de 1.500. Se houvesse a mínima seriedade, o clube seria fortemente penalizado, não só pagando um valor bem mais elevado, mas também ficando com o estádio interdito. Ninguém sequer considerou essa possibilidade.
Todos sabemos como é fácil distribuir culpas pelos desvarios do futebol. Hooligans, batoteiros e ressabiados não deviam ter lugar no esporte, mas o fato de eles não desaparecerem só pode ser atribuído ao mesmo responsável: àqueles que dirigem os clubes e todos os campeonatos e que, placidamente, convivem com todas estas manifestações.
Ninguém compete para perder, mas qualquer competidor sabe que não pode ganhar sempre. É verdade que a vitória é doce e que perder deixa um sabor amargo na boca. Mas, quando isso acontece, só há uma coisa a fazer: engolir. Se for preciso, ajuda-se com um copo de água.


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