São Paulo, Domingo, 09 de Maio de 1999
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TOSTÃO

Mensagem na camisa

A moda no futebol, iniciada pelo Romário, é a de colocar mensagens nas camisas, debaixo das dos clubes e mostrá-las, após o gol.
Essa mistura de marketing e solidariedade foi uma das características do ex-presidente Fernando Collor. Ele corria aos domingos, em frente a sua casa, de camisa branca, com os dizeres: "O tempo é o senhor da razão". O tempo mostrou o que ele realmente era.
A Federação Paulista de Futebol, seguindo orientação da Fifa, liberou as mensagens sociais e proibiu as religiosas e políticas. Parece-me uma medida sensata. Os jogadores estão transmitindo mensagens construtivas, mas, como não existe uma verdade absoluta, nem o bem está tão distante do mal, podem aparecer outras estranhas.
Se os pilotos de F-1 têm tantos anúncios em seus uniformes, por que não podemos fazer o mesmo? -devem estar pensando os jogadores. Por exemplo: "Camisa por R$ 9,99"; "Ligue para o tele-sexo e seja feliz" e etc.
Os clubes, com razão, vão protestar, por causa de seus patrocinadores oficiais.
Além das declarações de amor aos pais, como fez o Rivaldo, podem aparecer outras interessantes: "Querida..., eu te amo"; "Não falhei nos gols do Barcelona" (Rogério); "Luxemburgo, você é o maior" (jogadores querendo um lugar na seleção). Outros, por gozação ou ideologia -nunca saberemos da verdade- dirão: ""Monarquia com FHC"; "Quero uma Regional em São Paulo"; "Collor para presidente". Será um grande perigo.

Delírio tático

Independente dos resultados finais, Carpegiani está dando uma importante contribuição para o futebol brasileiro, com suas inovações táticas.
Outros técnicos deveriam fazer o mesmo: sair da mesmice, que vem desde a Copa de 94.
O trabalho do técnico é elogiado em todo o Brasil, mas, até este momento, os resultados obtidos são muito inferiores às expectativas. O São Paulo perdeu o Torneio Rio-São Paulo e foi eliminado da Copa do Brasil, pelo Botafogo.
Muitos desses resultados negativos foram por causa das excessivas experiências no time -o treinador admitiu seus erros. Contra o Botafogo, Carpegiani colocou o Marcelinho de ala e o Serginho de ponta-esquerda. Um ocupando o espaço do outro.
O lateral da seleção tem de partir de seu campo, em velocidade, ao encontro da bola, e não ficar na frente, esperando ela ser lançada. Depois, colocou o jogador no meio-campo, sem espaço para suas arrancadas. O técnico corrigiu esses erros.
Nesta semana, escalou os armadores Carlos Miguel e Marcelinho, no meio-campo, sem um jogador para proteger os zagueiros e iniciar os contra-ataques.
Hoje, ele volta com o volante Carabali, para fazer essa função.
Se o técnico quiser ganhar títulos, está na hora de analisar os resultados, abandonar as experiências radicais e estabelecer um plano tático, com as variações normais para a partida.

A queda do Vasco

O Vasco, depois de vencer muitos títulos, inclusive o Torneio Rio-São Paulo deste ano, teve uma queda. Perdeu a Taça Guanabara, a Copa do Brasil, a Libertadores e o título do Mundial do ano passado, para o Real Madrid.
A causa principal das derrotas foi a qualidade técnica dos adversários.
O Palmeiras, por exemplo, tem ótimas chances de vencer a Libertadores, a Copa do Brasil e o Campeonato Paulista, mas não será também surpresa a perda dos três títulos, já que enfrentará fortes equipes.
Essa dificuldade não diminui os erros e problemas do Vasco. O time sentiu, há mais tempo, a saída do Edmundo e depois a do Pedrinho. As ausências de vários titulares, em momentos decisivos, como as do Carlos Germano e do Felipe, contra o Palmeiras, e a de vários titulares, contra o Goiás, também influíram nas derrotas.
Outro ponto importante é a falta de variações táticas. A maioria das equipes brasileiras joga com um armador próximo aos dois atacantes, formando, na prática, três atacantes. O Vasco só agora tenta mudar, mas não tem o jogador ideal para essa função.
A base do time é ótima, e os bons resultados retornarão, desde que o clube reforce a equipe e não perca a tranquilidade, o bom senso e, principalmente, o desejo intenso de brilhar.

Doping

O doping intencional, na época em que eu jogava, era muito mais comum do que hoje. Não existiam exames após as partidas, e os jogadores usavam as "bolinhas" para compensar a falta de um bom preparo físico.
No Cruzeiro dos anos 60, descobri duas garrafas de café no vestiário. Uma com, e a outra sem o estimulante. "Chutei o balde", ou melhor, a garrafa. Não sei de qual garrafa eu estava tomando, a quantidade, nem por quanto tempo. Provavelmente, o meu e o exame de outros jogadores dariam positivo.
O grande problema do doping no futebol é saber, com certeza, se o jogador teve a intenção de se dopar. Além disso, o médico Eduardo de Rose, uma das maiores autoridades mundiais no assunto, disse que não se pode afirmar, com segurança, pelo tipo de exame que foi feito no jogador Scheidt, do Grêmio, se a quantidade encontrada em sua urina foi ingerida ou produzida pelo seu próprio organismo. Não se deve também anunciar os resultados sem uma conclusão definitiva.
Creio que a maioria dos jogadores atuais é mal orientada pelos clubes e compra outros produtos (vitaminas, aminoácidos etc.), nas farmácias, sem saber que neles contêm essas substâncias proibidas. Os inocentes e os relapsos pagam junto com os pecadores.



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