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FUTEBOL
Clube do "sogro" da Lady Di adota nova administração, cresce dentro e fora do campo e vira modelo na Europa
"Juventus inglês" busca ser Manchester
JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
da Reportagem Local
Transformar o Juventus, da
Mooca, num Palmeiras, num Corinthians ou num Flamengo não é
tarefa simples. Mas é façanha parecida o que o empresário egípcio
Muhamed al Fayed tenta fazer na
Europa, transformando o Fulham
Football Club no ""Manchester
United do sul da Inglaterra".
Dono da Harrods, a tradicional
loja de departamentos londrina, e
pai do namorado da princesa Diana, Dodi al Fayed, morto com ela
em acidente automobilístico em
Paris, o egípcio tornou-se dono do
clube em 1997, quando o Fulham
atravessava grave crise financeira e
estava ameaçado de ser fechado.
De lá para cá, profissionalizou
sua administração, adotando um
modelo que começa a ser imitado
pelas principais equipes e federações européias, interessadas em
manter média alta de público nos
estádios do continente.
Das equipes européias que não
estão na primeira divisão, o Fulham foi o que teve mais destaque
na mídia no ano passado e o que
teve maior aumento de público
-400% de 1997 para 1998.
A estratégia de Al Fayed começou pelo marketing de relacionamento, que tem como objetivo dirigir esforços para manter clientes
já conquistados antes de tentar
atrair novos torcedores. Num segundo estágio, passou a investir no
público potencial, que poderia ir
aos jogos do Fulham, mas não se
sentia motivado a fazê-lo.
Do início dos anos 90 até a chegada de Al Fayed, o Fulham tinha
média de 2.000 torcedores por jogo
quando atuava em casa. No ano
passado chegou a 10 mil.
Para realizar o trabalho, o clube
inglês, cuja sede é no sul de Londres, conta com apoio da Middlesex University, também em Londres, e de um grupo de cerca de 30
especialistas, entre eles o administrador de empresas brasileiro Gustavo Trombini, cuja tese de mestrado, na área de marketing esportivo, é sobre o Fulham.
Segundo Trombini, ""o esforço
para manter os clientes conquistados não se dá porque eles possam
mudar de time, mas porque podem perder o interesse pelo esporte, virando torcedores passivos".
""Aquele torcedor que diz "sou
santista", mas não conhece um jogador do time nem sua situação
atual no campeonato, é que interessa. Se o clube não fizer um trabalho com ele, o torcedor passivo
vai, invariavelmente, procurar outra forma de entretenimento", explica o brasileiro.
No trabalho de campo com a torcida, ela foi separada em quatro
grupos, com o objetivo de detectar
as preferências de cada um deles e
direcionar os serviços oferecidos
pelo clube de acordo com o perfil
de cada segmento.
O primeiro grupo, considerado o
mais importante, é o ""Season Ticket Holders" -donos de carnês
para os jogos do time em casa por
toda a temporada-, alvo do trabalho de Gustavo Trombini.
O segundo, o ""Fulham Privilege
Members", uma espécie de sócio-torcedor, programa pelo qual os
torcedores se associam ao clube
para obter vantagens, como descontos na compra de produtos oficiais e a assinatura gratuita da revista "Fultime", que 70% dos fãs do
Fulham consideram ""excelente".
O terceiro, o ""Matchday Attenders", engloba os torcedores menos fiéis, que compram ingressos
para assistir apenas a alguns jogos
da temporada.
O quarto, o ""Local Community"
-a comunidade local-, é o segmento que possui menor grau de
fidelidade, representado por indivíduos que têm laço com o clube
apenas por morar nas redondezas
de Craven Cottage, o estádio do
Fulham.
Entre as ações direcionadas para
os dois primeiros grupos -de torcedores mais fiéis-, destacam-se
o aprimoramento do departamento de comunicação do clube e de
seu website oficial, programa de
contato personalizado com os torcedores e campanha para que eles
compartilhem o transporte até os
jogos.
Como a maioria dos torcedores
do time lê o ""Fulham Chronicle",
tablóide diário do bairro, o clube
decidiu aprimorar o relacionamento com a imprensa local, bem
como criar um programa noticioso diário, por fax ou e-mail, para
torcedores que queiram notícias
dos treinamentos do time, dos comentários do técnico, das atividades da semana...
Depois de constatado que 60%
dos torcedores vão aos jogos noCraven Cottage em carro próprio,
Trombini sugeriu campanha para
incentivá-los a dividir o veículo
com outros fãs do time, reduzindo
gastos com combustível e estacionamento e diminuindo o incômodo para os moradores da região.
O Fulham também está adotando um programa de fidelidade, semelhante ao de companhias aéreas, pelo qual os torcedores ganham pontos pelo número de jogos que presenciam ou pelo montante gasto em produtos do clube e
são premiados, podendo ter contato de perto com os jogadores, ganhando viagens para partidas fora
da cidade ou recebendo brindes.
Para atrair moradores do bairro,
promove eventos sociais e organiza obras de caridade, além de abrir
suas portas para a comunidade, seja alugando salas do clube ou, em
alguns casos, cedendo o espaço a
ela gratuitamente.
Com apoio mais intensivo dos
moradores do sul de Londres, que
normalmente só vão aos jogos do
time quando são decisivos ou o Fulham está na liderança, a expectativa é de, em 2001, a média de público do time superar a casa dos 15
mil, principalmente se chegar, como previsto, à Premier League, como é conhecida a primeira divisão
na Inglaterra.
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