São Paulo, quarta-feira, 09 de junho de 2004

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FUTEBOL

Pode melhorar muito

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Brasil e Chile fizeram uma partida vibrante, mas com pouco talento. Os chilenos tiveram mais chances de gol. Ronaldinho Gaúcho fez novamente muita falta. Dessa vez, Ronaldo descansou. Nos jogos importantes e decisivos, ele desperta.
Diferentemente da Argentina, o Chile, principalmente no primeiro tempo, marcou mais atrás, e os armadores brasileiros ficaram livres para dominar a bola e pensar no que fazer. Mesmo assim, fizeram pouco. No final do segundo tempo, o Chile foi para a frente, e o Brasil se encolheu.
Edu errou poucos passes e protegeu bem os zagueiros. Foi um bom e típico volante. Mas foi muito burocrático. Nas poucas vezes em que tocou a bola para a frente, não avançou para recebê-la de volta nem apareceu no ataque. Ele seria uma boa opção, se o time jogasse com dois volantes mais fixos, como o Arsenal.
Edmílson executou bem a função de proteção à defesa e de dar o primeiro passe. Ele está no mesmo nível do Gilberto Silva e de outros. Edmílson tem as pernas muito compridas e mais velocidade para fazer a cobertura dos zagueiros e dos laterais.
Com 13 pontos em sete jogos, o Brasil lidera as eliminatórias da Copa de 2006, está invicto e deve aumentar a vantagem nas próximas partidas, mas poderia jogar um futebol mais eficiente e encantador.

Incoerência
Sempre fui contra os pedidos para que Parreira colocasse o Alex no lugar do Zé Roberto. É obvio que o Alex é superior, porém são duas posições bem diferentes. É impossível o Alex fazer a mesma função do Zé Roberto. Muitos dos que pedem um time mais ofensivo, com o Alex no lugar do Zé Roberto, gostaram do Edu jogando mais recuado do que o Zé Roberto. Não dá para entender.
Mesmo se mudasse o esquema tático e o time passasse a jogar com dois volantes, dois meias e dois atacantes, não funcionaria. Alex e Kaká ocupariam o mesmo espaço. Um atrapalharia o outro. Além disso, só haveria dois marcadores no meio-de-campo. Pioraria o ataque e a defesa.
Os técnicos devem escalar os melhores, desde que eles possam se adaptar bem a funções diferentes. Quando isso não é possível, fracassam todas as equipes que têm vários craques fora de suas posições.
Contra a Argentina e o Chile, o Alex deveria ter sido o titular no lugar do Luis Fabiano, e não do Zé Roberto. O time manteria o estilo, com dois meias-atacantes se alternando na armação e no ataque e um centroavante. A justificativa do Parreira de que saiu um atacante (Ronaldinho Gaúcho) e entrou outro (Luis Fabiano) não convence. Um não tem nada a ver com o outro. A experiência com dois centroavantes foi ruim. Mas pode ser uma boa opção em situações especiais.
Parreira afirmou várias vezes que o Alex é reserva do Kaká. Por isso, foi inexplicável e estranha a entrada do Júlio Baptista no lugar do Kaká em Santiago. Parreira esqueceu a coerência e ainda não percebeu a grandiosidade do talento do Alex.
Muitos jogadores parecem melhores do que são. Alex é ainda melhor do que parece.

Maracanã
O Maracanã deve ser demolido para a construção de um novo estádio, seria melhor o tombamento e a preservação da história para visitação pública ou deveria ser reformado?
Os que defendem o fim do Maracanã, como Ricardo Teixeira, não apresentaram nenhum estudo que, feito por uma empresa idônea e com experiência, provasse que a única solução é a demolição e indicasse os custos para a construção de um novo estádio.
É necessário reformar e construir novos estádios e ter ingressos com preços variáveis. Quem quiser mais conforto e mordomias que pague por isso. Mas é essencial colocar à venda ingressos populares. E todos os torcedores têm o direito de utilizar banheiros limpos, além de contar com segurança e bons transportes para os estádios.
Há uma campanha para elitizar o futebol nacional e repetir o que aconteceu na Europa. Porém são situações bem diferentes. Somos um país rico com um povo pobre.
Sugiro que leiam a coluna do José Geraldo Couto sobre o assunto publicada no último sábado na Folha. Aliás, leiam sempre as colunas dele. Aprendo muito com elas.

E-mail
tostao.folha@uol.com.br


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