São Paulo, sexta-feira, 09 de junho de 2006

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JUCA KFOURI

O avesso da festa

Offenbach assistiu a desfile de camisas amarelas, vestidas por crianças locais

A SELEÇÃO brasileira é uma festa aonde quer que vá. E em Offenbach não foi diferente, ao contrário. Um simples treino virou um megaacontecimento. Também, pudera. Com exceção de Ronaldo, popstars dos mais variados estavam ali, à vista de olhos que talvez nunca mais os vejam de perto. E o aconchegante estádio da cidade tingiu-se de amarelo. A tal ponto que alguém desavisado acharia que estava no Pacaembu ou que o Brasil tinha invadido a Alemanha. Mera ilusão, mas não de ótica. Porque de fato as camisas da seleção eram esmagadora maioria, com mães levando seus filhos pequenos pela mão, quase todas as crianças com a camisa canarinho. Ou com as camisas de Ronaldo e de Ronaldinho, as do Real Madrid e do Barcelona. Fiquei com a mesma sensação que tive no dia 4 de julho de 1994, no Independence Day, em Sttanford, quando Brasil e Estados Unidos jogaram pelas oitavas-de-final da Copa. Ao entrar no estádio, achei que os norte-americanos não davam mesmo bola para o futebol e que os brasileiros tinham tomado a casa deles. Mera ilusão, mas não de ótica. Porque quando começou a tocar o hino do Tio Sam nenhuma ilusão auditiva ignoraria que a maioria cantou-o a plenos pulmões. Estavam de amarelo sim, porque é a grife do futebol, mas para torcer pelos azuis e vermelhos. Infelizmente, e sempre tem o avesso, não se viu ninguém com as camisas do Corinthians, do São Paulo, do Palmeiras, do Santos. Porque a seleção virou um fim em si mesmo para encher as burras da CBF e vampirizar times. Em vez de ser meio para demonstrar o poderio do futebol nacional, o resultado reunido da força técnica dos clubes, a seleção reflete dramaticamente a política de exportação desmedida de pé-de-obra. Desperta indiscutível simpatia pela planeta afora e, ao mesmo tempo, embute uma mentira. Ao contrário do que se vê na Espanha, que tem uma seleção de fantasia, mas que é palco do que há de melhor no futebol. O que você prefere?

@ - blogdojuca@uol.com.br


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