São Paulo, quarta-feira, 09 de junho de 2010

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Coreia do Norte se inspira no passado

Segurança da seleção lembra a época da Guerra Fria; frase em ônibus do time evoca campanha da Copa-66

DO ENVIADO A JOHANNESBURGO

Acompanhar a preparação da Coreia do Norte para a Copa-2010 é como voltar ao passado. Mais precisamente, o time evoca a década de 60.
Tensão da Guerra Fria, lembranças do Mundial de 1966, jogadores longe da globalização e visual retrô são alguns dos elementos vistos entre os norte-coreanos.
O comportamento fora do gramado é de uma verdadeira paranoia de segurança. Há mais de uma semana na África do Sul, o time de Pyongyang abriu seu primeiro treino ontem, por 15 minutos.
Foi permitida uma entrevista com o atacante Jong Tae-se. A promessa era que ela duraria 15 minutos, mas em seis minutos, o assessor de imprensa o retirou do acesso aos jornalistas.
Quando questionado sobre o porquê de tanta reclusão, o jogador disse que "era coisa política". Foi logo corrigido pelo assessor, que se limitou a afirmar que era uma questão de segurança.
Os norte-coreanos protegem seu hotel e o estádio de forma mais intensa que outras seleções. Talvez só os Estados Unidos tenham estrutura de segurança maior.
Um dos regimes mais fechados do mundo, a Coreia do Norte vive uma ditadura comunista. Contra a Coreia do Sul, vizinha rival e capitalista, frequentemente resgata o espírito da Guerra Fria, protagonizada pelo embate entre EUA e URSS.

COREIA-1966
A lembrança do passado também está no ônibus. "1966 de novo. Vitória para a República Democrática do Povo da Coreia!"
A frase evoca a participação do país na Copa-1966, quando chegou às quartas de final. O time viu um vídeo sobre aquele Mundial para se inspirar na atual disputa.
O futebol norte-coreano pouco mudou desde então. Tanto que, de seus 23 jogadores inscritos na Copa, só três atuam fora do país.
Isso se reflete também no treino da seleção. Dos 15 minutos em que foi visto -sem contar a roda de bobinho-, houve uma movimentação em que os jogadores, divididos em dois times, tentavam passar as bolas com as mãos para os companheiros.
Esse tipo de prática não é visto em times profissionais.
Durante o jogo com a Nigéria nas tribunas do estádio, entre dirigentes da seleção e seus parentes, o visual retrô predomina: ternos antigos, óculos grandes, broches com foto do ditador Kim Jong-il e viseiras.
A grande maioria fuma. Alguns usam piteiras.
"Queremos mudar a imagem da Coreia para o mundo", afirmou Jong Tae-se, sem ser cortado, nesse momento, pelo assessor.
(RODRIGO MATTOS)


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