São Paulo, domingo, 09 de julho de 2006

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Final promove volta da "fraternidade"

Após passarem por crises antes e durante a Copa, Itália e França chegam à decisão com seus grupos em harmonia

Marcello Lippi e Raymond Domenech, técnicos de Itália e França, antes do Mundial sofreram críticas da imprensa de seus países


DOS ENVIADOS A BERLIM
E DOS ENVIADOS A DUISBURGO

Esquecida pela seleção da França até na mensagem do ônibus do time, a fraternidade voltou a galope ao grupo depois da série vitoriosa iniciada nas oitavas-de-final. Também na Itália ficou provado que, numa Copa, não há crise interna ou rusga que resista ao triunfo.
Diferentemente da seleção brasileira, que fez questão de deixar transparecer, antes e durante o torneio, uma harmonia que a derrota mostrou ser no mínimo frouxa, as duas finalistas de hoje chegaram à Alemanha atoladas em problemas.
Na França, uma classificação à Copa pouco convincente e, especialmente, uma derrota em casa para a Eslováquia em março transformaram o time num pequeno inferno. Jogadores que não foram convocados atiraram contra o técnico Raymond Domenech, que também era atacado pela imprensa.
O grupo, diziam os jornalistas, fora tomado por disputas ferozes. Os veteranos Zidane e Thuram lideraram uma insurreição silenciosa contra o treinador. Os goleiros Barthez e Coupet se digladiavam silenciosamente pela posição. A decisão de Domenech de deixar no banco Trezeguet, da Juventus, causou revolta no atacante e nos veteranos da equipe.
Os líderes do elenco fingiam ignorar as orientações do técnico. Agora tudo são flores. A imprensa elogia a consistência do time, e os medalhões são vistos batendo papo com Domenech.
Ironicamente, o ônibus que transporta os Bleus no Mundial carrega uma mensagem baseada no lema da Revolução Francesa: "Liberté (Liberdade), Egalité (Igualdade), Jules Rimet". É uma brincadeira/homenagem com o francês que idealizou a Copa do Mundo e batizou o primeiro troféu do torneio. O nome dele é usado bem no lugar da palavra do lema que fora ignorada no início e agora parece retornar.
Para o lateral Sagnol, a mudança veio após a vitória contra o Togo, que pôs o time nas oitavas. "Tiramos de cima de nós o espectro de 2002 [quando o time caiu na primeira fase]. Passamos a discutir o que não funcionava, e o time se encontrou."
Na Itália, um escândalo de manipulação de resultados que eclodiu antes da Copa fez o time chegar em crise. O nome de Marcello Lippi apareceu nas investigações, e a cabeça do treinador chegou a ser pedida.
O início titubeante acirrou os ânimos. Lippi até xingou um jornalista antes do confronto com a Austrália porque a união e a qualidade do grupo estavam sendo questionados. "Em uma competição como a Copa, é normal enfrentarmos problemas. É nessa hora que um time cresce. Nós soubemos crescer", afirmou o treinador.
Os jogadores respaldam seu discurso. "Acumulamos raiva por tudo o que ocorreu nos bastidores. Percebemos que era importante construir um grupo unido e liberamos tudo em campo", disse Cannavaro.
(FÁBIO VICTOR, GUILHERME ROSEGUINI, PAULO COBOS E RICARDO PERRONE)

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