São Paulo, quarta-feira, 09 de julho de 2008

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Sem tradução, passeio de táxi pela cidade ainda é aventura

RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM

Pegar um táxi em Pequim ainda é uma aventura a 30 dias da Olimpíada. Não apenas porque os taxistas não falam inglês, mas porque até nomes de famosas redes internacionais de hotéis, como Sheraton ou Hilton, têm outros nomes em chinês. E nem adianta escrever o nome num papel -os taxistas só conseguem ler os tradicionais caracteres chineses.
As promessas de que os 66 mil taxistas teriam noções de inglês soam tão impossíveis de se realizar como deixar o céu da cidade menos poluído. Um negócio próspero é o de ajudar turistas e executivos estrangeiros perdidos na cidade monoglota.
Um dos serviços mais populares é o One2call. Uma equipe de 150 telefonistas que falam inglês ajuda nas emergências, de explicar ao taxista aonde o passageiro quer ir até recomendar um bom restaurante, o bar, o cabeleireiro ou o médico mais próximos de onde o usuário estiver telefonando.
Como no Skype, há venda de créditos do One2Call. Cada minuto de conversa com os operadores custa 5 yuans (R$ 1,4).
O serviço tem um banco de dados com 5.000 fornecedores que podem oferecer serviços bilingües a estrangeiros em 15 cidades da China.
"Não adianta sugerirmos uma farmácia onde ninguém conseguirá entender que remédio o visitante precisa, ou um restaurante sem cardápio em inglês ou garçons preparados", explica o holandês Jim Littell, criador do One2Call.
Outro serviço, o Guanxi, é acionado por torpedos. O cliente envia mensagem com o nome do lugar aonde quer ir, e recebe torpedo com o endereço em caracteres em seu celular, para ser mostrado ao taxista.
Chama-se Guanxi por conta da palavrinha mágica chinesa que quer dizer "rede de contatos, ou quem indica", fundamental para o mundo dos negócios e da política no país. O Guanxi tem registrados centenas de endereços de bares, restaurantes e hotéis na cidade.
Já a companhia australiana Smart Trans oferece um aparelho, parecido com um Blackberry, onde os clientes podem ser achados em qualquer lugar, com mapa, GPS, intérprete 24 horas e a facilidade de localizar os demais amigos - o serviço é oferecido para grandes empresas, que trazem VIPs a Pequim, e para grandes grupos que facilmente podem se perder entre as multidões olímpicas.
Esses negócios só devem crescer, mesmo depois dos Jogos, com o aumento de executivos e profissionais estrangeiros que se instalarem na China.
Apesar das estatísticas do governo, que diz que 300 milhões de chineses estudam inglês, é ainda muito difícil encontrar alguém que fale inglês ou entenda letras do alfabeto romano mesmo em restaurantes, bancos ou farmácias de Pequim. O governo diz treinar 3.000 taxistas que conseguirão entender endereços em inglês.
Em cinco meses na cidade, pegando ao menos quatro táxis por dia, o repórter da Folha nunca encontrou um taxista que falasse algo além de "bye-bye". Com salários de R$ 500 a R$ 800 em média, eles dizem não poder perder tempo sem corridas para estudar inglês.
Na semana passada, o governo divulgou que cobrará penalidades equivalentes a R$ 500 dos taxistas que forem desonestos com turistas, levando mais tempo para ir ao destino.
No ano passado, a prefeitura de Pequim lançou um código de 12 regras para os taxistas seguirem. Os motoristas estão proibidos de dormir no carro, fumar, escarrar, usar alguns cortes de cabelo, e as mulheres estão proibidas de usar brincos chamativos e roupas muito justas. As taxistas também estão proibidas de tingir o cabelo de amarelo gema ou de vermelho.
Apesar das diretrizes e inspeções, ainda é comum ver taxistas dormindo no carro e escarrando. E muitos outros que se negam a ligar o ar condicionado, apesar da sensação térmica de 38C, ou os que se negam a aceitar crianças pequenas como passageiras "porque pisam no estofado".


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