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Sem tradução, passeio de táxi pela cidade ainda é aventura
RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM
Pegar um táxi em Pequim
ainda é uma aventura a 30 dias
da Olimpíada. Não apenas porque os taxistas não falam inglês, mas porque até nomes de
famosas redes internacionais
de hotéis, como Sheraton ou
Hilton, têm outros nomes em
chinês. E nem adianta escrever
o nome num papel -os taxistas
só conseguem ler os tradicionais caracteres chineses.
As promessas de que os 66
mil taxistas teriam noções de
inglês soam tão impossíveis de
se realizar como deixar o céu da
cidade menos poluído. Um negócio próspero é o de ajudar turistas e executivos estrangeiros
perdidos na cidade monoglota.
Um dos serviços mais populares é o One2call. Uma equipe
de 150 telefonistas que falam
inglês ajuda nas emergências,
de explicar ao taxista aonde o
passageiro quer ir até recomendar um bom restaurante, o bar,
o cabeleireiro ou o médico mais
próximos de onde o usuário estiver telefonando.
Como no Skype, há venda de
créditos do One2Call. Cada minuto de conversa com os operadores custa 5 yuans (R$ 1,4).
O serviço tem um banco de
dados com 5.000 fornecedores
que podem oferecer serviços
bilingües a estrangeiros em 15
cidades da China.
"Não adianta sugerirmos
uma farmácia onde ninguém
conseguirá entender que remédio o visitante precisa, ou um
restaurante sem cardápio em
inglês ou garçons preparados",
explica o holandês Jim Littell,
criador do One2Call.
Outro serviço, o Guanxi, é
acionado por torpedos. O cliente envia mensagem com o nome do lugar aonde quer ir, e recebe torpedo com o endereço
em caracteres em seu celular,
para ser mostrado ao taxista.
Chama-se Guanxi por conta
da palavrinha mágica chinesa
que quer dizer "rede de contatos, ou quem indica", fundamental para o mundo dos negócios e da política no país. O
Guanxi tem registrados centenas de endereços de bares, restaurantes e hotéis na cidade.
Já a companhia australiana
Smart Trans oferece um aparelho, parecido com um Blackberry, onde os clientes podem
ser achados em qualquer lugar,
com mapa, GPS, intérprete 24
horas e a facilidade de localizar
os demais amigos - o serviço é
oferecido para grandes empresas, que trazem VIPs a Pequim,
e para grandes grupos que facilmente podem se perder entre
as multidões olímpicas.
Esses negócios só devem
crescer, mesmo depois dos Jogos, com o aumento de executivos e profissionais estrangeiros
que se instalarem na China.
Apesar das estatísticas do governo, que diz que 300 milhões
de chineses estudam inglês, é
ainda muito difícil encontrar
alguém que fale inglês ou entenda letras do alfabeto romano mesmo em restaurantes,
bancos ou farmácias de Pequim. O governo diz treinar
3.000 taxistas que conseguirão
entender endereços em inglês.
Em cinco meses na cidade,
pegando ao menos quatro táxis
por dia, o repórter da Folha
nunca encontrou um taxista
que falasse algo além de "bye-bye". Com salários de R$ 500 a
R$ 800 em média, eles dizem
não poder perder tempo sem
corridas para estudar inglês.
Na semana passada, o governo divulgou que cobrará penalidades equivalentes a R$ 500
dos taxistas que forem desonestos com turistas, levando
mais tempo para ir ao destino.
No ano passado, a prefeitura
de Pequim lançou um código
de 12 regras para os taxistas seguirem. Os motoristas estão
proibidos de dormir no carro,
fumar, escarrar, usar alguns
cortes de cabelo, e as mulheres
estão proibidas de usar brincos
chamativos e roupas muito justas. As taxistas também estão
proibidas de tingir o cabelo de
amarelo gema ou de vermelho.
Apesar das diretrizes e inspeções, ainda é comum ver taxistas dormindo no carro e escarrando. E muitos outros que
se negam a ligar o ar condicionado, apesar da sensação térmica de 38C, ou os que se negam a aceitar crianças pequenas como passageiras "porque
pisam no estofado".
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