São Paulo, Sexta-feira, 09 de Julho de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SPARRING
A arte da negociação

EDUARDO OHATA

""Sugar" Ray Leonard sofreu um revés há pouco tempo.
Ao ser procurado pela emissora de TV a cabo ESPN, que programa uma série de especiais sobre os 50 maiores atletas do século (cada um ganhará um episódio de meia hora), o ex-campeão mundial extrapolou segundo a "TV Guide".
O agente de Leonard informou que o ex-lutador só cooperaria caso fosse incluído entre os dez maiores atletas de todos os tempos. Mais: só o ex-campeão Muhammad Ali poderia estar a sua frente entre os pugilistas.
Os executivos da rede de TV a cabo, irritados, disseram para o ex-lutador esquecer a oferta.
No universo pugilístico, porém, Leonard, que se tornou profissional porque necessitava do dinheiro, ganhou fama como um dos mais bem-sucedidos negociadores de todos os tempos.
Quando desafiou o campeão dos médios Marvelous Marvin Hagler, que não perdia há 11 anos, usou a vaidade do adversário para cavar vantagens.
Subestimado por Hagler, pois havia lutado uma única vez em cinco anos e subira de categoria, Leonard conseguiu que o combate fosse disputado em 12 assaltos (o campeão poderia optar por 15) e que o ringue tivesse as medidas máximas permitidas -6,096 metros quadrados-, o que favorecia seu estilo.
No combate, foi inteligente. Usou o truque de mostrar mais combatividade no final dos assaltos para impressionar.
Dois anos depois, quando enfrentou Donny Lalonde, forçou o campeão a baixar de peso.
Meio-pesado (79,45 kg), Lalonde aceitou lutar no limite dos supermédios (76,272 kg), ficando bastante vulnerável com o decorrer dos assaltos.
Também, um precedente foi aberto para favorecer Leonard (dois títulos sendo disputados simultaneamente, para torná-lo campeão em cinco categorias).
Mas isso é passado. Pelo que o episódio com a ESPN indica, Leonard, o negociador, aposentou-se junto com o lutador.

NOTAS

Brasil 1
O pugilista surdo-mudo Dílson Dutra, meio-pesado, venceu por nocaute no segundo assalto sua segunda apresentação profissional, na última terça-feira, em São Paulo. Seu rival foi Emerson Santos.

Brasil 2
O empresário Arthur Pelullo, que ganhou na Justiça o direito de promover nos próximos nove meses as lutas de Acelino ""Popó" Freitas, primeiro do ranking da Organização Mundial, não entende a resistência de Rui Pontes, empresário do lutador, em negociar com ele. Por isso, o norte-americano pediu ao juiz Michael Cherry, que monitora o caso, que organize uma teleconferência para que os brasileiros expliquem porque não aceitam a proposta de US$ 50 mil para Freitas disputar o título. O ex-representante do brasileiro no exterior havia negociado uma bolsa pelo menos US$ 20 mil menor.

E-mail eohata@folhasp.com.br


Texto Anterior: Juca Kfouri: Seleção brasileira, 100% negra
Próximo Texto: Judô: Confederação afasta treinador do Pan
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.