São Paulo, sábado, 09 de agosto de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CERIMÔNIA DE ABERTURA

Sem telão, multidão "vê" a festa em praça lotada

Chineses celebram os "seus" Jogos e quebram o gelo até de policiais

Nem metrô fechado e restrição à circulação de carros impediram que local simbólico enchesse na noite em que Olimpíada começou


LUÍS FERRARI
ENVIADO ESPECIAL A PEQUIM

Eles não viram o ex-ginasta Li Ning "correr no ar" para acender a pira olímpica. Não ouviram músicas, nem sequer o barulho dos fogos de artifício.
Mesmo sem seguir a cerimônia de abertura por um telão, a multidão de chineses que foi à célebre praça da Paz Celestial na esperança de acompanhar o evento desfrutou do espírito olímpico da mesma forma.
Sob um calor de 30C e a vários quilômetros do Estádio Nacional (palco do evento inaugural da maior Olimpíada da história), a praça que ficou conhecida por conta de um massacre ilustrou o apoio que mais de um bilhão de chineses dão aos Jogos, os seus Jogos.
Para lá foram milhares de pessoas que ignoraram os alertas feitos durante a tarde pela TV chinesa. Desde às 19h, quando a reportagem da Folha chegou ao local, a praça lembrava uma saída de estádio em dia de final ou de um grande show de rock, pela aglomeração compacta das pessoas.
O forte aparato de segurança quase não teve trabalho além de avisar as pessoas que não haveria transmissão por meio de telão. Precisou também orientar o fluxo, já que vias foram fechadas mesmo para quem desejasse caminhar -como as passagens subterrâneas de acesso à praça a partir de um dos limites da Cidade Proibida.
Alguns soldados, rigidamente postados ao lado da Cidade Proibida, inclusive viraram figurantes: chineses mais ousados até posavam ao lado deles para fotos -alguns, bem-humorados, batendo continência.
"Não tem nada para ver, mas assim mesmo estou muito feliz. A Olimpíada é uma oportunidade única na vida. E ter a experiência de desfrutar desse momento ao lado de tantas pessoas é gratificante. Claro que esperava um telão, mas, na verdade, não faz diferença", disse Zhang Zhiguang, 22.
Morador de Pequim, ele passou duas horas num ônibus e caminhou mais cerca de meia hora para chegar à praça -as estações de metrô próximas ficaram fechadas, bem como as vias de acesso por automóveis.
"Não vi a cerimônia e não tenho ingresso para nenhum evento. Mas vim sentir os Jogos da mesma maneira."
O depoimento dele foi apenas um de cerca de uma dezena deles, no mesmo sentido. O mais impressionante foi dado por Wang Jin Ping, 52.
Ela enfrentou 28 horas de trem com seu filho para viajar da Província de Gansu, no norte da China, até Pequim.
Três horas antes do início da cerimônia, foram ao Ninho de Pássaro (apelido do Estádio Nacional) procurar um telão na rua. Não acharam. De lá, rumaram para a praça.
"Poderia ter fogos de artifício na praça, claro. Mas não faz mal. Prefiro compartilhar esse momento com a multidão nas ruas a ver pela TV. É excitante notar como os Jogos mobilizam tanta gente", declarou ela.
Mesmo quem não é chinês se sensibilizou com o fato.
Foi o caso da texana Shelley Brown, espectadora veterana de outras Olimpíadas. "Não achei decepcionante não ter visto num telão. O que vi aqui ficará na minha memória. E a cerimônia estou gravando em casa. Não tem problema."


Texto Anterior: PEQUIM 2008
Made in China

Próximo Texto: "China fere o espírito olímpico", diz ativista
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.