São Paulo, sexta-feira, 09 de setembro de 2005

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Tevez diz ser perseguido por árbitros e ameaça sair

Atacante reclama de conduta de juízes brasileiros com argentinos, critica mulheres no apito e fala que situação pode levá-lo a deixar o Corinthians

EDUARDO ARRUDA
DA REPORTAGEM LOCAL

O argentino Carlitos Tevez, 21, declarou guerra aos árbitros brasileiros e ameaçou deixar o Corinthians por se dizer perseguido pelos homens do apito.
É a segunda vez que a principal estrela corintiana fala em sair. Na primeira, em maio, chegou a dizer que iria embora em solidariedade ao técnico Daniel Passarella, que fora demitido pelo clube.
Jogador mais indisciplinado do grupo corintiano no Brasileiro, com sete cartões (cinco amarelos e dois vermelhos), Tevez criticou a postura dos juízes em relação aos atletas de seu país. Os três argentinos do Corinthians, aliás, estão entre os cinco mais advertidos com cartão na equipe do Parque São Jorge. Sebá recebeu seis amarelos, e Mascherano, cinco.
"Em todas as partidas somos ofendidos por sermos argentinos. Eu tenho coragem de vir a público falar, mas é uma pena que os árbitros não tenham coragem de vir a público e contar o que falam. É muito difícil jogar dessa forma", afirmou o atacante.
"Parece que os juízes não querem que os argentinos triunfem no futebol brasileiro. Passa na minha cabeça, se isso não mudar, sair do Brasil. Não dá para continuar assim", falou Tevez, que disse ter sido ofendido pelo árbitro Edílson Pereira de Carvalho no clássico de anteontem contra o São Paulo. "Ele [juiz] repetia o tempo todo "gringo de merda" para mim e para o Sebá", afirmou.
Essa foi também a queixa do zagueiro e de outros jogadores após a partida. Ao final, a diretoria corintiana fez protesto na súmula contra o comportamento do juiz.
Pereira de Carvalho respondeu às acusações chamando os corintianos de "incompetentes".
"Eles têm que se preocupar em jogar futebol, e não em jogar em cima da arbitragem a incompetência deles. Jogador fala o que quer na hora em que não deve. Só fala besteira", disparou.
Procurada ontem, a Comissão de Arbitragem da CBF não quis se pronunciar sobre o assunto. Já o presidente do Superior Tribunal de Justiça Desportiva, Luiz Zveiter, afirmou que pode punir o árbitro. "Se ele [Tevez] trouxer testemunhas e provar que foi ofendido, posso tomar uma medida enérgica. O juiz pode ficar até 360 dias suspenso", afirmou.
O próprio Tevez já foi vítima do tribunal desportivo por ter ofendido o árbitro Anselmo da Costa em confronto com o São Caetano. Ele foi suspenso por três jogos.
Durante o episódio, o argentino confirmou ter xingado o juiz, mas disse que ele também o ofendeu. Tevez reclamou ainda da presença, no clássico de anteontem, de mulheres no trio de arbitragem, as auxiliares Ana Paula Oliveira e Maria Eliza Correa Barbosa.
"Mulheres não podem apitar um clássico dessa dimensão, dessa rivalidade. Elas podem até apitar, não tenho nada contra mulher, mas não esses jogos."
Também após jogo com o São Paulo, em março passado, Tite, então técnico corintiano, criticou a árbitra Sílvia Regina e afirmou que mulheres não podem apitar jogos de homem em competições de alto nível. Políticas e organizações feministas protestaram.
A revolta de Tevez e seus companheiros contra a arbitragem ocorre justamente após o clássico contra os são-paulinos, que também vinham fazendo queixas sistemáticas às atuações dos juízes no Brasileiro. Dirigentes corintianos, inclusive, chegaram a ironizar essa postura do rival.
A indisciplina de Tevez fez com que o técnico Márcio Bittencourt o advertisse. O técnico, no entanto, ponderou que o argentino tem sido "caçado" pelos rivais. Segundo o Datafolha, ele sofre 4,1 faltas, em média por confronto.
A queda de rendimento do atacante coincide com a derrocada corintiana no Brasileiro. Atleta mais caro da história do futebol nacional (cerca de R$ 40 milhões), ele não fez gol nas últimas três partidas em que atuou. "Não me importa fazer gols, mas o Corinthians vencer", disse o argentino.


Colaborou Márvio dos Anjos, da Reportagem Local

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