São Paulo, terça-feira, 09 de outubro de 2007

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SONINHA

De previsível, basta a vida?

A rotina da vida, a incerteza do jogo... Reclamamos de um e de outro, mas gostamos dos dois

POR MAIS que a gente diga que é possível, não acredita realmente que seja. Por mais que se prepare, fica espantado. Por mais exemplos que tenha para confirmar a tese, duvida de que vá acontecer de novo. Mas clássico é clás... Ah, queria evitar o chavão, mas não tem jeito.
O superlíder São Paulo, que não deixou o Santos respirar, que passou por cima do Boca Juniors, que só tinha perdido três vezes no campeonato todo, terminou a semana com duas derrotas seguidas: para o Flamengo, décimo colocado, e o Corinthians, 18º. No espaço de cinco dias, tomou dois gols -quase 20% do total sofrido em sete meses.
O Corinthians já tinha, aparentemente, esgotado sua cota de surpresas com a vitória sobre o Santos.
Time abalado, técnico ameaçado, adversário muito mais qualificado...
Mas, para quem apostou no favorito, deu tudo errado.
E a gente gosta de futebol por causa disso. Como é bom não saber o que vai acontecer... Por quê? Porque é um jogo, oras. Não é a vida, é só um simulacro. (Melhor repetir várias vezes para não esquecer: é só um simulacro, é só...)
Na vida, gostamos de justiça (...gostamos?), da lógica das probabilidades, da vitória de quem parece merecê-la. Detestamos a surpresinha de última hora, o lance fortuito que altera o fim da história. Entre todas as pessoas que se queixam da rotina, são poucas as que realmente apreciam o imprevisível... A maioria prefere saber tudo antes: se vai chover, quem vem para o jantar, quem matou Thaís. E procura no jogo a emoção da falta de lógica.
Nem todo esporte é ""jogo" no sentido de ser tão sujeito à força do acaso; o futebol é. Um lance apenas -no começo, no meio ou no fim da história- pode fazer toda a diferença.
Você soma 40 horas de trabalho bem-feito, mas põe tudo a perder em 40 segundos. Ou 4. É fascinante.
Ele é muito desequilibrado na relação tempo de disputa x momento de decisão; esforço x resultado.
Não é que o São Paulo tenha jogado superbem e o Corinthians não tenha se esforçado, de modo que o resultado de domingo tenha sido injusto. Mas o esforço alvinegro foi, na maior parte do tempo, pouco promissor, improdutivo ou estéril.
Mesmo jogando feio, sem muita inspiração, o São Paulo era sempre mais incisivo, mais perigoso. Tanto que criou mais chances, e Felipe, como sempre, apareceu muito bem.
Mas deixou Betão so-zi-nho dentro da área... Que comovente a emoção dele, na hora do gol e depois da partida, e por tão pouco! É pouco para salvar o campeonato. Mas é como um feriado com sol no meio de um mês de tempo ruim: como (e por que) não se alegrar com ele? Estava errada a torcida do Flamengo em curtir a vitória de quinta-feira?
A torcida do São Paulo, mal-acostumada, talvez fique tensa após duas derrotas seguidas. Sempre é bom se preocupar; o tempo pode virar a qualquer momento e trazer uma tempestade que surpreenda os meteorologistas. Por enquanto, as nuvenzinhas não ameaçam o céu azul.
A rotina laboriosamente construída não é abalada com tanta facilidade; a roleta do acaso é mais determinante no formato apropriadamente conhecido como ""mata-mata". Na vida dos pontos corridos, a surpresa fascina, diverte, mas não decide.


soninha.folha@uol.com.br

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