São Paulo, domingo, 09 de outubro de 2011

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BRAÇO DE FERRO

Mesmo com dor , Everton Lopes usa maladragem e ganha 1º ouro do país no Mundial de boxe amador

MARIANA BASTOS
DE SÃO PAULO

Mesmo com o braço esquerdo dolorido, Everton Lopes, 22, conseguiu realizar seu sonho. O baiano se tornou ontem o primeiro brasileiro a se sagrar campeão mundial de boxe amador.
Lopes entrou para a história ao derrotar o ucraniano Denis Berinchyc na final da categoria meio-médio-ligeiro (até 64 kg) por 26 a 23.
"No fim, senti muita dor no braço. Mas lembrei que a luta estava passando ao vivo no Brasil. Aí, veio a vontade de ser vitorioso", disse Lopes, já classificado para os Jogos de Londres-2012, à Folha.
O brasileiro contou que machucou o braço já na estreia, contra o mexicano Juan Romero. Venceu as cinco lutas seguintes no sacrifício.
Para amenizar as dores, contou com o apoio do fisioterapeuta Danilo Grisanti, que o submeteu todos os dias a imersões no gelo na banheira de hidromassagem.
"Se não fosse o Danilo, não teria conquistado essa medalha", disse o atleta, grato.
O duelo com o ucraniano foi um dos melhores entre as finais disputadas ontem em Baku (Azerbaijão), sede do Mundial. Os dois atletas trocaram golpes durante praticamente todos os três rounds. Berinchyc chegara à final com fama de demolidor.
"Vi que, nas lutas anteriores, ele partia para cima e ganhava na raça. Então, decidi que ia ficar no centro, trocando socos e ver no que ia dar."
A estratégia deu certo. Apesar da agressividade do rival, Lopes não se intimidou e já no primeiro round abriu vantagem expressiva de 8 a 3.
"Como eu estava na frente, minha estratégia era não deixar ele vir muito para cima. Mas, no terceiro round, senti cansaço e meu braço estava fraco. Tive que usar um pouco de malandragem para conseguir manter a vantagem."
Ao subir ao topo do pódio, o baiano diz ter lembrado dos momentos de sua vida, enquanto segurava as lágrimas durante o hino brasileiro.
De origem humilde, Lopes dedicou a vitória a todas as pessoas que acreditaram nele. Dois nomes se destacaram na lista: o de sua mãe e o de Washington Silva, pugilista que o inspirou a começar sua trajetória nos ringues.
O campeão lembrou que passou momentos difíceis aos 16 anos, quando foi para a São Paulo para treinar e tinha que pedir dinheiro à mãe.
"Na época, ela estava desempregada e recebia só uma pensão do meu pai de R$ 250. Mesmo sem poder, ela me mandava dinheiro. Nós fomos muito guerreiros", contou Lopes, que, na adolescência, lavava carros nas ruas.
Com um sonho realizado, quer conquistar outro. "Espero que, com essa medalha, possa conseguir um dia dar uma casa para minha mãe."


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