São Paulo, sexta-feira, 09 de novembro de 2007 |
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FÁBIO SEIXAS Espião que espiona espião
A ACUSAÇÃO de que a Renault espionava a McLaren é séria, muito mais séria do que o enroladíssimo Stepneygate, que abalou o campeonato e só não manchou o Mundial de Pilotos graças aos caprichos do GP de Interlagos. É mais séria porque, em termos de estrutura interna e de comprometimento com a F-1, a Renault é completamente diferente da McLaren. Por piores que fossem as acusações, Dennis nunca seria chutado da equipe, nem a equipe abandonaria o esporte. McLaren não é marca de nada a não ser de carro de corrida. Sim, a Mercedes está por lá, mas o marketing dos alemães é muito menos esparso e muito mais suscetível a más notícias que o dos colegas franceses. Os públicos são outros. O que você vê rodando mais por aí: Classes A ou Clios e Méganes? A Renault, vira e mexe, analisa e reanalisa a validade dos investimentos na categoria. Já esteve próxima de sair, decidiu ficar. Um escândalo com o selo da deslealdade pode ser o empurrãozinho que faltava. Mais: Briatore é empregado da montadora. Se a empresa resolver ficar, o italiano pode, sim, ser chutado. E, sem ele, a equipe correria enorme risco de ser o que foi entre 1998 e 1999, na sua última ausência. Um vexame. Mas isso é o de menos. O segundo escândalo de espionagem é muito mais sério que o primeiro justamente por ser o segundo. Um caso é um caso, existe sempre aquele argumento do "caso isolado". O segundo já joga isso por terra e começa a lançar no ambiente odores malcheirosos de generalização, de vulgarização, de esculhambação. Em linhas gerais, as três principais equipes da década, as organizações que conquistaram todos os dez últimos Mundiais de Construtores e de Pilotos, estão envolvidas. A Renault é acusada de espionar a McLaren, que comprovadamente possuía informações confidenciais e estratégicas da Ferrari. Quem garante que, uma vez condenada, a Renault não vai apontar o dedo a outrem, como fez a McLaren? Quem garante que a espionagem também não rola solta no segundo pelotão? E no terceiro? É claro, a hipótese de absolvição da Renault tem de ser considerada. Mas, aparentemente, é reduzida. O comunicado da FIA chega ao detalhamento de informar quais sistemas da McLaren estariam nos computadores e gavetas da Renault. Outro indício do embasamento da acusação: se o Stepneygate foi detonado por acaso, a partir da curiosidade do funcionário de uma lojinha de xerox, o caso de agora é resultado do trabalho da Kroll, a principal empresa de investigações empresariais do mundo, contratada pela McLaren para olhar a adversária de perto. De porcaria em porcaria, o ciclismo perdeu credibilidade. É uma competição acabar para começarem as suspeitas. Que, geralmente, viram condenações. Alguns degraus abaixo, o atletismo vive crise parecida. A F-1 começa a enveredar pelo mesmo caminho. fseixas@folhasp.com.br Texto Anterior: Santos: Público recorde é desafio contra o Fla Próximo Texto: O que ver na TV Índice |
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