São Paulo, quarta-feira, 09 de novembro de 2011

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Frazier

Morre na Filadélfia, de câncer, aos 67 anos, o pugilista que bateu em Muhammad Ali na Luta do Século

EDUARDO OHATA

DO PAINEL FC

"Foi o mais próximo que cheguei da morte."
Foi assim que o ex-campeão mundial dos pesos-pesados Muhammad Ali definiu sua terceira luta com o arquirrival "Smokin" Joe Frazier, que morreu anteontem à noite, aos 67 anos, vítima de um implacável câncer de fígado. Existe uma ironia na causa de sua morte, já que o principal alvo de seus ganchos de esquerda, considerados dos mais potentes de toda a história, era o fígado dos rivais.
O diagnóstico da doença veio há poucas semanas. Neste ano, o americano foi visto em sessões de autógrafos e fotos antes de combates.
O apelido de "Fumegante" Frazier justificou com seu estilo sempre agressivo. Como se, no ringue, só soubesse caminhar para a frente, sem dar um passo para trás, com movimentos de cintura constantes para evitar golpes rivais.
Era um peso-pesado "baixinho" (1,82 m), que disparava de modo frenético os punhos até ver os adversários prostrados, qual um precursor de "Iron" Mike Tyson.
O primeiro título importante de Frazier foi conquistado em um golpe de sorte. "Buster" Mathis, representante olímpico dos EUA nos Jogos de Tóquio, em 1964, lesionou-se. "Smokin" o substituiu e ganhou a medalha de ouro.
Bancado por um grupo de homens de negócios -brancos-, passou ao profissionalismo no ano seguinte e foi demolindo adversários até chegar à disputa do título.
Mas a chegada de Frazier ao topo coincidiu com a revogação da licença de pugilista de Ali e sua suspensão dos ringues por se recusar a combater pelos EUA no Vietnã.
Como um sinal de que a figura de Ali o assombraria por toda a sua carreira, Frazier conquistou o título da Associação Mundial de Boxe justamente contra Jimmy Ellis, um ex-sparring de Ali.
Frazier chegou a ser camarada de Ali no período em que este ficou sem lutar e ganhava a vida fazendo palestras. Um diálogo entre ambos, em um longo passeio de carro, faz parte da autobiografia de Ali. "Se alguém nos visse agora, diria que estamos loucos", concordaram os rivais.
Ali pediu ajuda ao oponente para retomar sua carreira. Mas, quando voltou aos ringues, seu comportamento levou Frazier a odiá-lo.
Primeiro, Ali começou a chamá-lo de "Gorila". Dizia que o rival era "muito feio" e que ele, sim, era bonito.
Mas o pior foi quando passou a se referir a Frazier como "Pai Tomás", referência à "Cabana do Pai Tomás", obra sobre o escravagismo. Insinuava que Joe era um negro subserviente aos brancos e apontava para o grupo que bancava seu maior rival.
Se foi ou não uma estratégia para promover o combate entre os dois, o fato é que o comportamento de Ali feriu Frazier. Seus filhos retornavam da escola chorando por serem "filhos do Gorila". E Joe se sentiu traído por Ali.
Em Nova York, no Madison Square Garden lotado, a Luta do Século original os opôs em 1971. Ali, o dançarino, e Frazier, com sua carranca perpétua, enfim duelariam.
Na plateia, Woody Allen, Diana Ross, Burt Lancaster, Dustin Hoffman. Frank Sinatra, no auge da fama, ao saber que os ingressos haviam se esgotado, aceitou fazer um bico como fotógrafo para a revista "Life" e, assim, garantir seu lugar na Meca do boxe.
Em um combate disputadíssimo, Frazier levou Ali à lona no 15º e derradeiro assalto para ganhar por pontos.
Perdeu o título por nocaute para George Foreman -sofreu seis quedas em dois assaltos- e voltou a enfrentar Ali, pelo título americano. Foi derrotado por pontos.
Seus caminhos se cruzariam uma vez mais, em 1975, pelo título mundial, agora em poder de Ali. A luta brutal, batizada de "Thrilla In Manila", transformou-se em um teste de resistência, pelo calor. E ambos não tinham a mobilidade de antes. Ali venceu no 15º e último assalto.
A luta nas Filipinas foi eleita pela publicação "The Ring" como a melhor da história.
Nos anos 90, entre ataques e pedidos de perdão, Frazier, cujo cartel foi de 32 vitórias (27 nocautes), um empate e quatro derrotas, deixou claros seus sentimentos em relação a Ali, então já diagnosticado com mal de Parkinson.
"Olhe para ele e olhe para mim. Quem você acha que realmente foi o vencedor dos nossos três combates?"


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