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O que diz a CPI, o que dizem os acusados
DA REPORTAGEM LOCAL
A CPI do Futebol, encerrada
quinta no Senado, foi a maior investigação já promovida no esporte. Após quase 14 meses de trabalho, os senadores que fizeram
parte da comissão, 13 no total,
aprovaram por unanimidade um
detalhado relatório de 1.600 páginas, dividas em quatro volumes.
O texto, assinado pelo senador
Geraldo Althoff (PFL-SC), é minucioso ao descrever operações
suspeitas que tiveram o envolvimento direto dos principais dirigentes esportivos do país.
O relatório sugere, com base nas
quebras dos sigilos bancário e fiscal dos investigados, o indiciamento de 17 pessoas, entre elas
Ricardo Teixeira, presidente da
CBF, Eduardo José Farah, presidente da Federação Paulista, e Eurico Miranda (PPB-RJ), deputado
federal e presidente do Vasco.
Nesta semana, o relatório será
entregue pela comissão ao Ministério Público, ao Ministério da Fazenda, à Câmara dos Deputados e
ao Ministério do Esporte e Turismo. Em todos os casos, os senadores pedem o aprofundamento
das investigações e punições.
A CPI contou com uma equipe
de técnicos oriundos de outros
órgãos do governo, como o Tribunal de Contas, Receita Federal,
Polícia Federal e Banco Central.
Para justificar a instalação de
uma CPI que investigaria entidades privadas, escreveu o senador
Álvaro Dias (PDT-PR), em outubro do ano passado: "O não recolhimento aos cofres públicos de
valores relativos a Imposto de
Renda ou contribuição previdenciária, descontados na fonte, por
quaisquer entidades -ainda que
privadas- configura fato ilícito
que está sujeito ao poder de sindicância de comissão parlamentar
de inquérito". Passados 14 meses,
Dias afirma que a CPI cumpriu
sua missão. Os acusados, no entanto, dizem que ela extrapolou
seus limites e foi tendenciosa, pois
nem todas as personalidades do
esporte foram investigadas.
Veja a seguir os principais pontos do relatório e o que dizem os
acusados de irregularidades.
CBF (221 págs.)
Ricardo Teixeira: presidente da
CBF desde 1989, foi o alvo principal das investigações no Senado.
Acusações da CPI:
apropriação indébita de recursos da
entidade por diversos meios.
crime contra o patrimônio da CBF.
desvio de recursos no caso dos empréstimos feitos no Delta Bank.
desvio de recursos no Mundial de
Clubes da Fifa, realizado no Brasil.
desvio de recursos em operações
feitas com a agência de turismo SBTR.
apropriação indébita no pagamento
de advogados que trabalharam para
Teixeira com dinheiro da entidade.
evasão de divisas na Copa Ouro, em
1998, no valor de US$ 400 mil.
apropriação indébita em doações.
evasão de divisas na compra de uma
casa em Búzios de empresa suspeita.
intermediação suspeita no contrato
CBF-AmBev, feita por Renato Tiraboshi, amigo e ex-sócio de Teixeira.
sonegação fiscal.
lavagem de dinheiro.
A defesa: diz que a CPI não provou que um centavo da entidade
tenha ido parar nas suas contas
pessoais; afirma que todas as operações financeiras apontadas como irregulares pela comissão,
principalmente empréstimos da
entidade, já haviam sido analisadas pela Receita ou pelo Banco
Central; sobre o pagamento de
advogados, apresentou documentos que, segundo ele, comprovam que os recursos não foram utilizados para esse fim.
Marco Antônio Teixeira: tio de
Teixeira, é secretário-geral da
Confederação Brasileira.
Acusação da CPI:
envolvimento em negócios irregulares da diretoria da CBF.
A defesa: nega as acusações e
apresenta os mesmos argumentos usados por Teixeira.
José Salim: diretor de marketing da Confederação Brasileira.
envolvimento em negócios irregulares da diretoria da CBF.
A defesa: nega as acusações e
apresenta os mesmos argumentos usados por Teixeira.
VASCO (64 págs.)
Eurico Miranda: presidente do
Vasco e deputado federal (PPB-RJ), foi um dos mentores da "bancada da bola", grupo de congressistas que barrou a CPI da CBF/
Nike na Câmara.
Acusações da CPI:
apropriação indébita de recursos do
Vasco em diversos episódios.
falsidade ideológica por uso de conta "laranja" em desvio de recursos.
crimes eleitorais na campanha para
deputado federal, em 1998.
crimes tributários referentes às declarações de renda de 1996 a 2000.
tentativa de obstrução dos trabalhos da comissão do Senado.
quebra de decoro parlamentar.
A defesa: recusou prestar depoimento no Senado e a apresentar sua defesa; afirma que sua gestão no Vasco é vitoriosa e que sofre perseguição da TV Globo, com
a qual tem disputas financeiras
desde o final do ano passado.
Antônio Soares Calçada: ex-presidente do Vasco.
Acusação da CPI:
indiciamento pedido por ter prestado informação falsa à comissão.
Mário Cupello: vice-presidente
de finanças do Vasco.
Acusação da CPI:
indiciamento pedido por ter prestado informação falsa à comissão.
Paulo Sérgio Reis: vice-presidente jurídico do Vasco.
Acusação da CPI:
indiciamento pedido por ter prestado informação falsa à comissão.
FLAMENGO (86 págs.)
Edmundo Santos Silva: presidente do Flamengo, responsável
pela assinatura do contrato milionário entre o clube e a agência suíça ISL, que acabou falindo.
Acusações da CPI:
falso testemunho à CPI.
lavagem de dinheiro, evasão de divisas, crime contra a ordem tributária e
apropriação indébita em movimentação de conta nas Ilhas Cayman.
A defesa: defende que a CPI é
inconstitucional, pois o Flamengo, como entidade de direito privado, deveria estar protegido de
intervenções do poder público;
disse que não sabia da existência
de conta do clube em paraíso fiscal; em relação à compra do meia-atacante iugoslavo Petkovic, na
qual parte do pagamento foi enviada às Ilhas Virgens, afirmou
que o caso, alvo de sindicância interna, foi totalmente esclarecido.
Antônio Augusto Dunshee de
Abranches: ex-presidente do clube carioca.
Acusação da CPI:
indiciamento pedido por falso testemunho à comissão.
SANTOS (97 págs.)
Samir Adbul-Hak: ex-presidente do Santos e ex-advogado
pessoal de Pelé, administrou o
clube sob os auspícios do ex-jogador e empresário.
Acusações da CPI:
apropriação indébita de recursos do
clube em diversos episódios.
sonegação fiscal.
falsidade ideológica.
gestão temerária.
evasão de divisas na transação de
jogadores para o exterior.
A defesa: afirmou ter conta no
exterior por ter sido assessor jurídico de Pelé; reconheceu ter usado recursos do clube para consertar um carro; imputou problemas
na transação de jogadores aos
empresários dos mesmos.
José Paulo Fernandes: ex-vice
presidente do Santos.
Acusação da CPI:
apropriação indébita.
A defesa: disse que parte do dinheiro foi roubada de uma gaveta
em um dos escritórios do clube.
FERJ (16 págs.)
Eduardo Viana: presidente da
Federação do Rio.
Acusação da CPI:
indiciamento pedido por administração imprudente e temerária.
A defesa: negou o risco de falência na entidade que dirige.
FPF (97 págs.)
Eduardo José Farah: presidente
da Federação Paulista de Futebol
desde 1988 e também presidente
da Liga Rio-São Paulo.
Acusações da CPI:
apropriação indébita e evasão de divisas no caso Piekarski.
apropriação indébita de recursos da
FPF em diversos episódios.
lavagem de dinheiro.
indiciamento por perjúrio por falso
depoimento à comissão.
indiciamento pedido por obstrução
aos trabalhos da comissão.
A defesa: em depoimento, disse
que nunca foi remunerado pela
federação, mas sim por empresas
que a ela prestavam serviços; negou qualquer ganho financeiro
com o caso Piekarski.
Pedro Yves Simão: vice-presidente da Federação Paulista de
Futebol.
Acusações da CPI:
crime contra o sistema financeiro.
desobediência a ordem judicial.
apropriação indébita de recursos do
São José.
A defesa: diz que depositou cheques destinados ao São José em
sua conta pessoal para driblar
bloqueio judicial nas contas do
clube; acusa a CPI de não ter lhe
oferecido direito de defesa.
FMF (34 págs.)
Elmer Guilherme: presidente
da Federação Mineira.
Acusações da CPI:
indiciamento pedido por falso testemunho em depoimento à comissão.
gestão temerária da federação.
A defesa: disse que a entidade
sofreu significativos prejuízos em
1997 devido ao insucesso da Copa
Centenário.
EMPRESÁRIO (21 págs.)
Reinaldo Pitta: agente Fifa, cuida da carreira de boa parte das estrelas do futebol no país, entre esses o atacante Ronaldo.
Acusação da CPI:
indiciamento pedido por ter prestado informação falsa à Polícia Federal.
TÉCNICO (28 págs.)
Wanderley Luxemburgo: técnico do Corinthians, foi demitido
por Teixeira após fracasso da seleção brasileira na Olimpíada, no
ano passado, vexame que reabilitou a CPI da CBF/Nike na Câmara
e gerou a CPI do Futebol, no Senado. Foi processado por falsidade
ideológica por ser "gato".
Acusação da CPI:
crimes tributários.
A defesa: "Não falo sobre CPI".
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