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"Big Brother" da Ponte tem pendura, processos e CPI
Único paulista ameaçado de rebaixamento no Nacional
põe por terra ascensão recente e amarga deserção de 21
atletas em 2003, o que lhe valeu apelido de programa
MARCUS VINICIUS MARINHO
ENVIADO ESPECIAL A CAMPINAS
Cada semana sai um. Em dois
anos, a Ponte Preta deixou de ser
um modelo de administração e de
clube emergente para assumir a
posição de único paulista da Série
A ameaçado pelo rebaixamento.
A séria crise no clube campineiro,
marcada pela constante saída de
atletas, vai muito além do pífio
desempenho no gramado.
O time vem sendo jocosamente
apelidado em Campinas de "Big
Brother", programa da Rede Globo em que um participante diferente é eliminado a cada sete dias.
Semana após semana, acontecia
na Ponte o sumiço repentino de
atletas que, descobria-se depois,
tinham abandonado o clube, que
não vence há nove rodadas. O último triunfo foi sobre o arqui-rival Guarani, há dois meses.
Num campeonato em que são
premiados planejamento e organização, a Ponte está em penúltimo lugar não por acaso.
É o time que mais mudou: 21 jogadores já deixaram o clube em
2003, a maior parte dos por causa
de atrasos nos pagamentos.
Há no clube atletas que alegam
ter salários de até 15 meses por receber. Dos que saíram, muitos entraram na Justiça em busca de
seus direitos federativos -casos
do zagueiro Rodrigo, do meia
Alex Oliveira e do atacante Fabrício Carvalho.
"De fato, existem pendências de
salários. Temos cerca de R$ 3,5
milhões de dívidas", diz o ex-zagueiro Ronaldão, gerente de futebol do clube. "Mas os atletas que
saíram não foram corretos, fugiram de mansinho à noite."
O presidente da Ponte, Sérgio
Carnielli, também ataca os jogadores: "Como a Ponte não esconde nada, os empresários se aproveitaram da situação para tirar os
jogadores. Esses atletas têm a profissão, o clube e os valores em segundo lugar. Só pensam em dinheiro". Carnielli diz ainda que "a
maioria [dos atletas] está por um
ou dois salários, alguns por mais,
mas não chega a dez".
Há dois anos, a administração
da equipe de Campinas era considerada exemplar. Em 1997, um
ano depois de começar a gestão
Carnielli, a Ponte subiu para a Série A, que não disputava havia 11
anos. Saneou suas finanças e reformou seu estádio. Um grupo de
empresários, liderado por Carnielli -que é diretor-presidente da
Tecnol, maior empresa do setor
ótico da América Latina- injetou dinheiro no clube.
Mais resultados: em 1999, o
acesso no Paulista. Dois anos depois, o clube chegou às semifinais
do Paulista e da Copa do Brasil e
ficou perto de quebrar o tabu de
nunca ter ganho um título. A venda de atletas como Washington e
Luís Fabiano para o exterior teria
rendido mais de US$ 8 milhões.
Como um clube em franca ascensão voltou a entrar em crise?
Segundo a diretoria, além da situação difícil do futebol brasileiro,
a culpa é do Clube dos 13. "Eles
prometeram que teríamos um valor de cota de TV e veio menos da
metade. Nunca comprometeríamos os salários se esse dinheiro tivesse vindo", diz Carnielli.
O C13 nega ter traído o acerto.
"A Ponte Preta está recebendo o
que foi combinado e o que lhe é de
direito. Eles que encontrem as razões para o insucesso do clube em
outro lugar", disse, irritado, o presidente da entidade, Fábio Koff.
Com as deserções, predomina o
famoso "bom e barato": 14 atletas,
do elenco de 24, foram revelados
no clube. "Isso atrapalha demais.
Tive de amadurecer garotos que,
normalmente, entrariam mais devagar e não já numa pedreira dessas, tendo de evitar o rebaixamento", diz o técnico Abel Braga, no
cargo desde o final de 2002.
As mudanças refletiram no
aproveitamento: 23% no segundo
turno, de longe, o pior do Nacional -fora 46,4% no primeiro.
Como fosse pouco, em meio à
crise do clube, Carnielli é investigado pela CPI do Banestado, que
pediu a quebra dos sigilos fiscal,
bancário e telefônico dele e de sua
empresa, a Tecnol Ótica.
Rastreamentos feitos pela Polícia Federal apontam que Carnielli
tem repasses irregulares de US$
3,6 milhões em seu nome e de US$
2,5 milhões em nome da Tecnol,
entre 1996 e 2002.
Ele nega ter contas no exterior e
que tenha feito remessas. Em seu
depoimento à CPI, no último dia
27, o dirigente -que cumpre seu
terceiro mandato na Ponte até dezembro de 2005- afirmou que
abre mão de qualquer dinheiro
encontrado em seu nome em
contas bancárias do exterior.
Colaboraram Diogo Pinheiro,
da Folha Campinas, e Toni Assis,
da Reportagem Local
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