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São Paulo, terça-feira, 09 de dezembro de 2003

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FUTEBOL

Santa ajuda

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
EDITOR DE OPINIÃO

Há diversas formas de tentar solucionar dívidas -esse drama que aflige tantos clubes de futebol brasileiros. Uma das dicas, que colhi entre entendidos em simpatias e coisas do além, recomenda que o endividado vá a uma igreja e acenda velas verdes e brancas para almas que poderão auxiliá-lo. Pode-se recorrer também, como esforço suplementar, a um bilhetinho endereçado a essas entidades. Ele ajudaria a obter "mais energia e vibração". De volta à casa, é fundamental acender outra vela, esta para Santa Edwiges, que como se sabe protege os endividados.
Se as almas e a santa não captarem a mensagem, há um outro santo que costuma agir nesses casos: o governo. No Brasil ele já fez alguns bons milagres -sempre à custa, obviamente, do dinheiro do contribuinte.
Infelizmente, mesmo o governo tem se tornado um pouco mais rígido no atendimento dessas preces. Afinal, ele próprio encontra-se endividado até o pescoço. Com isso, ficou menos fácil obter graças governamentais. Mesmo que possa -e mesmo que deva em casos especiais- oferecer condições diferentes das de mercado para sanar problemas de empresas ou setores em dificuldade, o governo cada vez mais costuma exigir contrapartidas, garantias, propostas viáveis e realistas para o saneamento financeiro.
Em recente seminário organizado pelo Clube dos 13 na Fundação Getúlio Vargas voltou à baila o auxílio governamental aos clubes de futebol -que, apenas com o INSS, devem ao setor público em torno de R$ 700 milhões. O ministro Agnelo Queiroz lançou a obviedade: para que possa haver ajuda os clubes precisarão se enquadrar no regime comercial, publicando balanços e prestando conta de suas atividades.
Bem, isso não é requisito para receber auxílio, mas para que os clubes existam. Para que algum auxílio público seja cogitado seria preciso muito mais do que publicar balanço. Não se trata de ajudar esse ou aquele, mas de apresentar um plano de restruturação, com propostas que fiquem em pé, metas e garantias. E um plano assim deveria ser oferecido ao mercado, antes de mais nada.
O governo já subsidia fortemente os clubes. O INSS cobrado dessas entidades é mais baixo do que o normal. E ainda assim não são poucos os desvios cometidos. O Ministério da Previdência tem um estudo em que lista 13 expedientes irregulares utilizados pelos clubes para escapar do fisco.
Apesar disso, o próprio governo é complacente com a situação. Considera que os clubes não têm patrimônio... Afinal o que é uma marca como Flamengo ou Palmeiras se não patrimônio? Por que elas não deveriam ser colocadas na mesa em negociações com o mercado ou o governo?
Falta ao futebol brasileiro uma liderança com visão setorial e capacidade empresarial. Com os atuais representantes do Clube dos 13 e da CBF, a sangria vai continuar. E o governo, que atualmente só pensa em superávit fiscal, dificilmente fará mais do que faz -vista grossa.

Até a última
Seria bom se os clubes encarassem o Campeonato Brasileiro de 2004 com mais planejamento. Como se viu na primeira experiência do sistema de pontos corridos, não é boa idéia ir tocando o barco para se preocupar no fim. Pontinhos perdidos aqui e ali, que aparentemente não valem nada, acabam valendo muito no final. A competição ganharia se mais clubes pudessem estar disputando o título até o fim. Neste ano, o Cruzeiro acabou voando e sobrando na turma. Ainda assim, a competição vai chegar à sua última rodada com muitas "decisões" -tanto para vagas na Libertadores quanto para definir o rebaixamento. O torcedor, que já entendeu como a coisa funciona, provavelmente será mais exigente com seus clubes no ano que vem.

E-mail - mag@folhasp.com.br

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