São Paulo, Segunda-feira, 10 de Janeiro de 2000


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VÔLEI
Argentina chega a ter vaga olímpica nas mãos, mas saque do atacante conduz seleção à virada no 5º set

Joel assegura o Brasil na Olimpíada

LUÍS CURRO
da Reportagem Local

Ancorada na potência do saque do oposto (atacante de definição) Joel Monteiro, 25, a seleção brasileira masculina de vôlei bateu a Argentina ontem, por 3 sets a 2 (21/25, 32/30, 25/22, 33/35 e 15/ 13), ganhou invicta o Pré-Olímpico sul-americano e obteve a classificação para os Jogos de Sydney (Austrália), em setembro.
Joel, que começou na reserva, marcou 27 pontos na partida disputada no ginásio Lauro Gomes, em São Caetano (Grande São Paulo), totalmente lotado por 4.000 torcedores brasileiros.
Maior pontuador do Brasil, no último set (tie-break) ele se mostrou ainda mais fundamental.
A Argentina tinha 6 a 3 no placar -chegara a fazer 6 a 2-, vantagem que, na regra em que toda bola em jogo é ponto, e com o tie-break indo só até 15 pontos, dificilmente costuma ser revertida.
Mas Joel foi para o saque e, com sua potência, desestabilizou a recepção argentina. Resultado: 6 a 6, e o Brasil de volta ao jogo.
Depois de a equipe conseguir abrir 14 a 12, em um bloqueio do meio-de-rede André, o levantador Ricardinho, com o placar em 14 a 13, deu a Joel a bola da vitória, e ele a colocou no chão.
No terceiro set, Joel também havia feito o ponto decisivo.
Mas foi ainda no segundo set, no lugar de Marcelo Negrão, que o atacante começou a agir, evitando que a Argentina abrisse 2 a 0 no marcador. Os argentinos tiveram 24 a 22 no placar, mas, com Joel sacando, o Brasil fez dois "aces" (saques sem defesa) que deram moral para o time reagir.
A partir daquele momento, sempre que foi para o saque, Joel teve o nome gritado pela torcida.
"O Joel estava no dia dele. Era ele dar na bola que a gente fazia (ponto)", disse o atacante Giba.
Os argentinos, que agora tentarão a vaga para Sydney pela repescagem, concordaram.
"No último set, o Joel virou o jogo. Foi determinante", disse Milinkovic, maior pontuador da partida, com 33 pontos, que, também com um saque violento e eficaz, fora o responsável por dar à Argentina uma vantagem de quatro pontos no set decisivo.
"Hoje (ontem), você pode fazer o que quiser. Boto duas limusines à sua disposição", disse a Joel, em tom de brincadeira, Ary da Graça Silva, presidente da CBV (Confederação Brasileira de Vôlei).
"O Joel está batendo fraco porque ainda está se recuperando de uma contusão no ombro. Vai bater ainda mais forte", afirmou, bem-humorado, o técnico brasileiro Radamés Lattari, 42.
Entretanto, durante a partida, Lattari passou maus momentos, ao observar uma Argentina inferior tecnicamente (haviam sido 17 derrotas seguidas para o Brasil até ontem), mas com os jogadores bastante inspirados e determinados, jogar de igual para igual.
Tanto que o treinador brasileiro, de terno escuro em um ginásio abafado, além de transpirar, passou a ficar com o rosto rubro de tensão e nervosismo. "Nas partidas, jogamos parte de nossas vidas", comentou ele.
Lattari afirmou que o rival de ontem soube aproveitar o "estado emocional" da seleção brasileira, segundo ele, debilitado pela pressão do favoritismo e pelas contusões que atingiram o time (Gustavo, Giba e Max) durante a semana. Só Giba recuperou-se.
No início da semana, outro jogador importante, o atacante Nalbert, pedira dispensa por causa da morte do pai dele.
"A Argentina entrou tranquila e deu um show", reconheceu o capitão Carlão. "Mas nós tínhamos que ganhar de qualquer jeito, apesar dos problemas que nos afetaram psicologicamente."
"Esperava dificuldade, mas não assim. Felizmente, batemos a última bola", afirmou o meio-de-rede André, ainda impressionado com a atuação da Argentina.
Encerrada a partida, comprovou-se que, em um jogo parelho, Lattari efetuou substituições corretas no segundo set, ao colocar em quadra, de forma definitiva, Joel e o levantador Ricardinho, que obteve um aproveitamento de 62%, contra 45% de Marcelo Elgarten.
"O Brasil tem tido sorte quando o Joel e eu entramos juntos. Foi maravilhoso", disse Ricardinho.
"O Radamés (Lattari) foi muito feliz, mexeu certo. Precisamos do banco, e eles (Ricardinho e Joel) entraram frescos e determinados", declarou Carlão, que voltou à equipe há poucos meses, depois de uma incursão no vôlei de praia.
O capitão ressaltou a importância de o time já poder "ter a tranquilidade de pensar só na Olimpíada", fugindo da repescagem. O Brasil foi ouro em Barcelona-92.
Ontem, também classificaram-se para os Jogos, via Pré-Olímpicos, a Iugoslávia e os EUA.


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