São Paulo, domingo, 10 de janeiro de 2010

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Angolanos eram o alvo, afirma líder separatista

Mentor da ação diz que equipe do Togo foi atingida por "azar" e lamenta mortes

Segundo Rodrigues Mingas, seu grupo fez alerta à Confederação Africana de Futebol sobre a chance de confrontos em Cabinda

FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O líder do grupo separatista que anteontem atacou um comboio levando a seleção do Togo, Rodrigues Mingas, disse em entrevista à Folha que a delegação esportiva teve "azar". O ataque, segundo ele, visava atingir forças angolanas. Angola é o país que controla a Província de Cabinda.
Secretário-geral das Flec- -PM (Forças de Libertação do Estado de Cabinda-Posição Militar), ele afirmou que mandou há dois meses uma carta ao presidente da Confederação Africana de Futebol, o camaronês Issa Hyatouh, avisando que a região está em guerra e que poderia haver problemas. Mingas não descartou novos ataques durante o torneio.
Com 48 anos ("a mesma idade de Barack Obama"), Mingas falou à Folha por um telefone celular francês. Não quis dizer se estava ou não em Cabinda.

 

FOLHA - Por que a seleção de futebol do Togo foi atacada pelas Flec?
RODRIGUES MINGAS -
O nosso território está em guerra. Dois meses antes desse torneio mandamos carta ao presidente da Confederação Africana de Futebol para informá-lo disso. Deixamos claro a ele que Cabinda não é parte de Angola.

FOLHA - Sim, mas o que Togo tem a ver com essa questão?
MINGAS -
O ataque não foi contra a equipe do Togo. Nós não temos nada contra eles. Nós estamos em guerra contra Angola, que ocupa ilegalmente nosso território. Ordenamos atacar as forças angolanas, e a equipe do Togo, por azar, foi atingida por nossa tropa.

FOLHA - Vocês sabiam que a seleção do Togo estava passando no local naquele momento?
MINGAS -
Não. Atrás dos primeiros carros com as tropas angolanas havia outros com mais tropas. No meio, estava o ônibus da equipe do Togo. É uma coisa que lamentamos.

FOLHA - Ninguém percebeu que tinha um ônibus no meio das tropas?
MINGAS -
Os carros da frente estavam cheios de soldados angolanos. Foi uma emboscada contra as tropas angolanas.

FOLHA - Mas três pessoas acabaram morrendo no ataque.
MINGAS -
Não temos nenhum problema estratégico contra o Togo. Isso se chama azar.

FOLHA - As pessoas atiraram especificamente contra a delegação do Togo, tanto é que três morreram.
MINGAS -
Nós tínhamos avisado os organizadores. A carta está na mesa do presidente [da CAF]. Em resposta, as autoridades angolanas disseram a eles: "[os rebeldes] são uns bandidos, não há problema".

FOLHA - Vocês podem promover mais ataques durante a realização da Copa Africana de Nações?
MINGAS -
O território está em guerra. Tudo pode acontecer.

FOLHA - Quantos combatentes as Flec têm hoje?
MINGAS -
Não posso revelar por questões de estratégia.

FOLHA - Por que vocês recusam a solução pacífica para o conflito?
MINGAS -
Somos atacados o tempo todo pelos angolanos.

FOLHA - A maioria da população de Cabinda aprovou o ataque?
MINGAS -
Todo mundo aprova porque sofremos intimidação. O governo tem 50 mil homens atuando na região de Cabinda.

FOLHA - Houve grande condenação internacional a esse ataque. Isso não prejudica seu grupo?
MINGAS -
Angola mata cabindenses em nosso território e isso nunca é condenado. Ontem eu vi um governante angolano dizer que nós somos um grupo terrorista. Não somos. Os terroristas estão no Oriente Médio, não na África central.

FOLHA - Vocês não se consideram terroristas mesmo tendo matado civis inocentes?
MINGAS -
Não. Somos independentistas. A morte de uma pessoa inocente não é uma boa coisa. Mas na guerra sempre é assim. Há balas perdidas.


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