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Angolanos eram o alvo, afirma líder separatista
Mentor da ação diz que equipe do Togo foi atingida por "azar" e lamenta mortes
Segundo Rodrigues Mingas, seu grupo fez alerta à Confederação Africana de Futebol sobre a chance de confrontos em Cabinda
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O líder do grupo separatista
que anteontem atacou um
comboio levando a seleção do
Togo, Rodrigues Mingas, disse
em entrevista à Folha que a delegação esportiva teve "azar". O
ataque, segundo ele, visava
atingir forças angolanas. Angola é o país que controla a Província de Cabinda.
Secretário-geral das Flec-
-PM (Forças de Libertação do
Estado de Cabinda-Posição
Militar), ele afirmou que mandou há dois meses uma carta ao
presidente da Confederação
Africana de Futebol, o camaronês Issa Hyatouh, avisando que
a região está em guerra e que
poderia haver problemas. Mingas não descartou novos ataques durante o torneio.
Com 48 anos ("a mesma idade de Barack Obama"), Mingas
falou à Folha por um telefone
celular francês. Não quis dizer
se estava ou não em Cabinda.
FOLHA - Por que a seleção de futebol do Togo foi atacada pelas Flec?
RODRIGUES MINGAS - O nosso território está em guerra. Dois
meses antes desse torneio
mandamos carta ao presidente
da Confederação Africana de
Futebol para informá-lo disso.
Deixamos claro a ele que Cabinda não é parte de Angola.
FOLHA - Sim, mas o que Togo tem a
ver com essa questão?
MINGAS - O ataque não foi contra a equipe do Togo. Nós não
temos nada contra eles. Nós estamos em guerra contra Angola, que ocupa ilegalmente nosso território. Ordenamos atacar as forças angolanas, e a
equipe do Togo, por azar, foi
atingida por nossa tropa.
FOLHA - Vocês sabiam que a seleção do Togo estava passando no local naquele momento?
MINGAS - Não. Atrás dos primeiros carros com as tropas
angolanas havia outros com
mais tropas. No meio, estava o
ônibus da equipe do Togo. É
uma coisa que lamentamos.
FOLHA - Ninguém percebeu que tinha um ônibus no meio das tropas?
MINGAS - Os carros da frente
estavam cheios de soldados angolanos. Foi uma emboscada
contra as tropas angolanas.
FOLHA - Mas três pessoas acabaram morrendo no ataque.
MINGAS - Não temos nenhum
problema estratégico contra o
Togo. Isso se chama azar.
FOLHA - As pessoas atiraram especificamente contra a delegação do
Togo, tanto é que três morreram.
MINGAS - Nós tínhamos avisado os organizadores. A carta está na mesa do presidente [da
CAF]. Em resposta, as autoridades angolanas disseram a
eles: "[os rebeldes] são uns
bandidos, não há problema".
FOLHA - Vocês podem promover
mais ataques durante a realização
da Copa Africana de Nações?
MINGAS - O território está em
guerra. Tudo pode acontecer.
FOLHA - Quantos combatentes as
Flec têm hoje?
MINGAS - Não posso revelar
por questões de estratégia.
FOLHA - Por que vocês recusam a
solução pacífica para o conflito?
MINGAS - Somos atacados o
tempo todo pelos angolanos.
FOLHA - A maioria da população de
Cabinda aprovou o ataque?
MINGAS - Todo mundo aprova
porque sofremos intimidação.
O governo tem 50 mil homens
atuando na região de Cabinda.
FOLHA - Houve grande condenação internacional a esse ataque. Isso
não prejudica seu grupo?
MINGAS - Angola mata cabindenses em nosso território e isso nunca é condenado. Ontem
eu vi um governante angolano
dizer que nós somos um grupo
terrorista. Não somos. Os terroristas estão no Oriente Médio, não na África central.
FOLHA - Vocês não se consideram
terroristas mesmo tendo matado civis inocentes?
MINGAS - Não. Somos independentistas. A morte de uma pessoa inocente não é uma boa
coisa. Mas na guerra sempre é
assim. Há balas perdidas.
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