São Paulo, domingo, 10 de fevereiro de 2008

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JUCA KFOURI

De Madureira a Luxemburgo

Nosso iluminado não se contenta mais em ser apenas treinador. Só falta escrever livros de auto-ajuda

FAZ TEMPO que Vanderlei Luxemburgo da Silva dá sinais de enfado, como se cansado de ser apenas técnico de futebol. Ele quer mais, quer ser gerente, manager, apesar de monoglota.
E há quem lhe dê tal espaço, como fez o Santos por dois anos.
E como faz o Palmeiras, ao também abdicar de sua soberania, esperançoso de reencontrar aquele que em 1996 deu tantas alegrias, esquecido de que, então, ele se limitava a ser o técnico, bem enquadrado que estava.
Era, então, o melhor do país, a ponto de ter sido "lançado", aqui, neste mesmo espaço, sob o título "Luxemburgo 2002", o que originou, soubemos mais tarde, a famosa frase de Zagallo, em 1997, "vocês vão ter de me engolir". Zagallo achava que havia uma conspiração para derrubá-lo, pura bobagem.
Da antiga coluna para cá a visão do colunista sobre Luxemburgo mudou radicalmente. Não só porque ele chegou à seleção antes de 2002 e quebrou a cara. Mas, também, por tudo que o cercou na CPI do Futebol, que o deixou nu, embora ele, ao apostar na falta de memória nacional, ainda se orgulhe em dizer que passou por uma CPI sem que nada se provasse contra ele, o que não é verdade.
Cansado de ser apenas técnico, por mais que tenha deixado de ser o Madureira que vendia carro usado para se transformar no professor Vanderlei (com V ou W, de novo com W em seu instituto...), é legítimo que queira mais.
E mais uma de suas faces apareceu agora, contra as opiniões de gente de peso no Palmeiras, inclusive na comissão técnica, na escalação prematura do goleiro Marcos. Ora, que Marcos é Marcos estamos todos cansados de saber, razão pela qual, aliás, o momento de relançá-lo merecia cuidado, pompa e circunstância. Mas não teve nada disso.
Teve apenas o saque do iluminado Paulo Coelho dos treinadores, capaz de imaginar que seus desejos se transformem em realidade e que São Marcos sairia mais uma vez canonizado de Rio Preto, graças a ele, o cara que sabe tudo e cuja intuição não falha.
Pois falhou, o que leva seus reféns a reclamar pelos corredores do Palestra Itália, como se queixam até de transações como a de Alex Mineiro, negociadas ainda antes de sua chegada, mas creditadas a ele.
Vanderlei Luxemburgo da Silva não conhece limites e não será surpresa se amanhã ou depois lançar um livro de auto-ajuda com suas frases prediletas, por mais que previsíveis e vazias.
As piscadinhas, o risinho nervoso e artificial, os beijos nas faces dos compadres e dos poderosos, não têm sido suficientes, no entanto, para fazer seus comandados jogar futebol, que é só e tudo que interessa como resultado de seu trabalho.
E a obrigatória vitória (3 a 1) diante do Guarani não altera a constatação. Como a dor de ser chamado de ex-melhor técnico do país, a ponto de não ficar nem entre os três primeiros do ano passado, surte efeito contrário e o faz se aproximar de Lula, sobre quem disse, em 2001, ao ser contratado pelo Corinthians sob protestos do futuro presidente: "Não voto nele porque ele não gosta de mim nem eu dele". Mas do filho ele gosta...E da CBF.


blogdojuca@uol.com.br

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