São Paulo, sábado, 10 de abril de 2004

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FUTEBOL

Cadê timão?

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

A chegada de São Caetano e Paulista à final do Paulistão reavivou um desgastado chavão, aquele que diz que "não há mais time pequeno".
O grande crítico de cinema Inácio Araujo, são-paulino histórico (mas nem um pouco histérico), propõe uma inversão. Segundo ele, o que não há mais é time grande.
Diz ele: "O Palmeiras me parece o paradigma dos novos tempos: cai num ano, no outro se recupera. O essencial é que os times não têm nenhuma perspectiva, a não ser formar jogadores e vendê-los para os grandes (ou seja, os times da Europa), ou então pegar os refugos (os que não deram certo por alguma razão) de volta".
Sábias e duras palavras. Ou seja, na época da mal chamada globalização, o que pesa mesmo é o abismo financeiro que separa os clubes europeus daqueles da periferia mundial.
Como interpretar, nesse contexto, o fato de os supertimes Real Madrid, Milan e Arsenal terem sido desclassificados da Copa dos Campeões da Europa por clubes bem mais modestos (Monaco, Deportivo La Coruña e Chelsea)?
E o que dizer da derrota do milionário Milan para o cucaracha Boca Juniors na última final do Mundial interclubes?
Será que podemos, com base nesses resultados, estender à rica Europa o veredicto de que "não há mais time grande"?
A meu ver, isso seria precipitado. O caso é que, embora a equação formulada por Inácio seja correta como regra geral, ela não dá conta de toda a complexidade do futebol, fenômeno por demais escorregadio e traiçoeiro.
A economia política define as grandes linhas, os grandes parâmetros, dentro dos quais atuam inúmeras outras variáveis e circunstâncias.
Por exemplo: para formar um time competitivo não basta ter dinheiro e usá-lo para comprar jogadores caros. O caso do Fluminense é ilustrativo. Foi o clube carioca que mais investiu na contratação de atletas famosos, e acabou fracassando nos dois turnos do campeonato estadual.
Graciliano Ramos dizia que, dentro dos limites estabelecidos pela gramática e pela polícia, o escritor tinha algum espaço para criar. Do mesmo modo, dirigentes, técnicos e atletas podem tentar fazer render, de acordo com sua competência e talento, o espaço grande ou pequeno que lhes cabe na divisão internacional de trabalho e capital do futebol.
Talvez eu esteja seja ingênuo, mas o que não quero é sucumbir ao determinismo econômico e admitir que tudo está perdido. Não quero pensar que o bom futebol está para se tornar um espetáculo que ocorre em outra parte e ao qual só temos acesso por meio da TV por assinatura.
Claro que o nosso futebol faz parte deste barco à deriva chamado Brasil e não vai se salvar sozinho. Mas, enquanto ele não afunda de vez, é possível colher belos momentos, como espero que sejam São Caetano x Paulista, Flamengo x Vasco, Cruzeiro x Atlético-MG e outras finais deste fim de semana pelo Brasil afora.

Make love, not war
Vágner Love foi imprudente ao cair na balada numa semana decisiva para o seu time. Por seu próprio histórico, o atacante deveria saber que existe no futebol atual um ambiente policialesco, que transforma torcedores em dedos-duros e organizadas em milícias de defesa do moralismo.

Unanimidade
Depois de devidamente ungido por Zico e Romário, que o elegeram o melhor jogador brasileiro da atualidade, agora Ronaldinho recebe o cetro de Diego Maradona, para quem o atacante gaúcho é seu "sucessor". Algo me diz que o craque de rabo-de-cavalo estará pelo menos entre os três jogadores mais votados na próxima eleição de melhor do ano promovida pela Fifa.

E-mail: jgcouto@uol.com.br


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