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FUTEBOL
Cadê timão?
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
A chegada de São Caetano e
Paulista à final do Paulistão
reavivou um desgastado chavão,
aquele que diz que "não há mais
time pequeno".
O grande crítico de cinema Inácio Araujo, são-paulino histórico
(mas nem um pouco histérico),
propõe uma inversão. Segundo
ele, o que não há mais é time
grande.
Diz ele: "O Palmeiras me parece
o paradigma dos novos tempos:
cai num ano, no outro se recupera. O essencial é que os times não
têm nenhuma perspectiva, a não
ser formar jogadores e vendê-los
para os grandes (ou seja, os times
da Europa), ou então pegar os refugos (os que não deram certo por
alguma razão) de volta".
Sábias e duras palavras. Ou seja, na época da mal chamada globalização, o que pesa mesmo é o
abismo financeiro que separa os
clubes europeus daqueles da periferia mundial.
Como interpretar, nesse contexto, o fato de os supertimes Real
Madrid, Milan e Arsenal terem sido desclassificados da Copa dos
Campeões da Europa por clubes
bem mais modestos (Monaco, Deportivo La Coruña e Chelsea)?
E o que dizer da derrota do milionário Milan para o cucaracha
Boca Juniors na última final do
Mundial interclubes?
Será que podemos, com base
nesses resultados, estender à rica
Europa o veredicto de que "não
há mais time grande"?
A meu ver, isso seria precipitado. O caso é que, embora a equação formulada por Inácio seja
correta como regra geral, ela não
dá conta de toda a complexidade
do futebol, fenômeno por demais
escorregadio e traiçoeiro.
A economia política define as
grandes linhas, os grandes parâmetros, dentro dos quais atuam
inúmeras outras variáveis e circunstâncias.
Por exemplo: para formar um
time competitivo não basta ter dinheiro e usá-lo para comprar jogadores caros. O caso do Fluminense é ilustrativo. Foi o clube carioca que mais investiu na contratação de atletas famosos, e
acabou fracassando nos dois turnos do campeonato estadual.
Graciliano Ramos dizia que,
dentro dos limites estabelecidos
pela gramática e pela polícia, o
escritor tinha algum espaço para
criar. Do mesmo modo, dirigentes, técnicos e atletas podem tentar fazer render, de acordo com
sua competência e talento, o espaço grande ou pequeno que lhes
cabe na divisão internacional de
trabalho e capital do futebol.
Talvez eu esteja seja ingênuo,
mas o que não quero é sucumbir
ao determinismo econômico e admitir que tudo está perdido. Não
quero pensar que o bom futebol
está para se tornar um espetáculo
que ocorre em outra parte e ao
qual só temos acesso por meio da
TV por assinatura.
Claro que o nosso futebol faz
parte deste barco à deriva chamado Brasil e não vai se salvar sozinho. Mas, enquanto ele não afunda de vez, é possível colher belos
momentos, como espero que sejam São Caetano x Paulista, Flamengo x Vasco, Cruzeiro x Atlético-MG e outras finais deste fim de
semana pelo Brasil afora.
Make love, not war
Vágner Love foi imprudente ao
cair na balada numa semana
decisiva para o seu time. Por
seu próprio histórico, o atacante deveria saber que existe no
futebol atual um ambiente policialesco, que transforma torcedores em dedos-duros e organizadas em milícias de defesa
do moralismo.
Unanimidade
Depois de devidamente ungido
por Zico e Romário, que o elegeram o melhor jogador brasileiro da atualidade, agora Ronaldinho recebe o cetro de Diego Maradona, para quem o atacante gaúcho é seu "sucessor".
Algo me diz que o craque de rabo-de-cavalo estará pelo menos
entre os três jogadores mais
votados na próxima eleição
de melhor do ano promovida
pela Fifa.
E-mail: jgcouto@uol.com.br
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