São Paulo, terça-feira, 10 de junho de 2008

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JOSÉ ROBERTO TORERO

O Saci dá pé!

Abaixo os mascotes fofinhos, façamos em 2014 algo diferente, que simbolize o Brasil e fique na memória

FALTAM SÓ seis anos para a Copa no Brasil. É preciso melhorar a infra-estrutura de transportes, ampliar a rede hoteleira, reformar estádios e o escambau... Mas o mais importante, o fundamental, a condição sine qua non para que a Copa seja um sucesso é uma só: escolher um bom mascote.
Geralmente os mascotes de eventos esportivos são uns tipos bobos, no estilo fofinho-sem graça. Creio que o único que é lembrado até hoje é o Misha, dos Jogos Olímpicos de Moscou, que derramou uma lágrima na cerimônia de encerramento e gerou um "ohhhh...." mundial.
Mas é uma exceção. Alguém lembra do Footix, da França, do Gauchito, da Argentina, ou dos três Spheriks, da Copa de 2002? Eu não lembrava. E só escrevi seus nomes graças a São Google.
Mas em 2014 temos a chance de fazer algo diferente, algo que simbolize o Brasil e fique marcado na memória dos torcedores de todo o mundo, algo que venha da cultura popular e traduza o que é este país.
Pois bem, pernicurto leitor e pernuda leitora, antes que marqueteiros venham com Pelezicos, Bolitos e Brazukas, proponho: o Saci!
Ele é a síntese da formação do povo brasileiro. Nasceu com os índios das missões jesuíticas (com duas pernas), foi adotado pelos negros e perdeu uma delas (há várias versões para isso, mas a que mais gosto é a que diz que ele estava preso por grilhões e preferiu ser um perneta livre a um escravo com duas pernas) e, por fim, ganhou um gorro vermelho dos imigrantes europeus (objeto típico de vários mitos brancos, como o Papai Noel, mas também era usado pelos republicanos, durante a Revolução Francesa e, na Roma Antiga, pelos escravos que se libertavam).
Só não há orientais em sua gênese, pois eles chegaram ao Brasil já no século 20. Porém, há relatos que um tal de Sacimi ou Sashimi ronda o bairro da Liberdade.
Além de representar a mescla brasileira, também reflete um tanto de nossa alma: é pelado e brincalhão.
Seria sensacional que um mascote de uma Copa fosse negro e com uma perna só. Outra vantagem é que o Saci já tem tradição na luta contra inimigos estrangeiros. Seu dia é o 31 de outubro, mesma data do Halloween, mania estranhíssima que está entrando em nossas escolas.
Os gremistas são os únicos que podem torcer o nariz, já que o Saci é associado ao Internacional (e também, façamos justiça, ao Social Futebol Clube, em Coronel Fabriciano-MG), mas, como o mito nasceu no Sul, pode ser que os tricolores perdoem esta falha.
O Saci ficou esquecido por um bom tempo, mas no começo do século passado foi revitalizado por Monteiro Lobato, nosso maior escritor para crianças, e hoje tem até uma ONC dedicada a ele (não é ONG, é ONC mesmo, de Organização Não-Capitalista), a Sociedade de Observadores de Saci, a Sosaci.
A idéia é brilhante e, assim, obviamente não é minha. Ela me foi passada pelo jornalista Mouzar Benedito (com quem revezo a última página da revista do Brasil), mas desde o primeiro momento abracei-a como se fosse minha (azar do Mouzar).
Unamo-nos nesta nobre cruzada. Abaixo os mascotes fofinhos!
Viva o Saci!
O Saci dá pé!


torero@uol.com.br

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