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JOSÉ ROBERTO TORERO
O Saci dá pé!
Abaixo os mascotes fofinhos,
façamos em 2014 algo
diferente, que simbolize o Brasil e fique na memória
FALTAM SÓ seis anos para a Copa no Brasil. É preciso melhorar a infra-estrutura de transportes, ampliar a rede hoteleira, reformar estádios e o escambau... Mas
o mais importante, o fundamental, a
condição sine qua non para que a
Copa seja um sucesso é uma só: escolher um bom mascote.
Geralmente os mascotes de eventos esportivos são uns tipos bobos,
no estilo fofinho-sem graça. Creio
que o único que é lembrado até hoje
é o Misha, dos Jogos Olímpicos de
Moscou, que derramou uma lágrima
na cerimônia de encerramento e gerou um "ohhhh...." mundial.
Mas é uma exceção. Alguém lembra do Footix, da França, do Gauchito, da Argentina, ou dos três Spheriks, da Copa de 2002? Eu não lembrava. E só escrevi seus nomes graças a São Google.
Mas em 2014 temos a chance de
fazer algo diferente, algo que simbolize o Brasil e fique marcado na memória dos torcedores de todo o
mundo, algo que venha da cultura
popular e traduza o que é este país.
Pois bem, pernicurto leitor e pernuda leitora, antes que marqueteiros venham com Pelezicos, Bolitos e
Brazukas, proponho: o Saci!
Ele é a síntese da formação do povo brasileiro. Nasceu com os índios
das missões jesuíticas (com duas
pernas), foi adotado pelos negros e
perdeu uma delas (há várias versões
para isso, mas a que mais gosto é a
que diz que ele estava preso por grilhões e preferiu ser um perneta livre
a um escravo com duas pernas) e,
por fim, ganhou um gorro vermelho
dos imigrantes europeus (objeto típico de vários mitos brancos, como o
Papai Noel, mas também era usado
pelos republicanos, durante a Revolução Francesa e, na Roma Antiga,
pelos escravos que se libertavam).
Só não há orientais em sua gênese,
pois eles chegaram ao Brasil já no século 20. Porém, há relatos que um
tal de Sacimi ou Sashimi ronda o
bairro da Liberdade.
Além de representar a mescla brasileira, também reflete um tanto de
nossa alma: é pelado e brincalhão.
Seria sensacional que um mascote
de uma Copa fosse negro e com uma
perna só. Outra vantagem é que o
Saci já tem tradição na luta contra
inimigos estrangeiros. Seu dia é o 31
de outubro, mesma data do Halloween, mania estranhíssima que está
entrando em nossas escolas.
Os gremistas são os únicos que podem torcer o nariz, já que o Saci é associado ao Internacional (e também, façamos justiça, ao Social Futebol Clube, em Coronel Fabriciano-MG), mas, como o mito nasceu
no Sul, pode ser que os tricolores
perdoem esta falha.
O Saci ficou esquecido por um
bom tempo, mas no começo do século passado foi revitalizado por
Monteiro Lobato, nosso maior escritor para crianças, e hoje tem até
uma ONC dedicada a ele (não é
ONG, é ONC mesmo, de Organização Não-Capitalista), a Sociedade de
Observadores de Saci, a Sosaci.
A idéia é brilhante e, assim, obviamente não é minha. Ela me foi passada pelo jornalista Mouzar Benedito (com quem revezo a última página da revista do Brasil), mas desde o
primeiro momento abracei-a como
se fosse minha (azar do Mouzar).
Unamo-nos nesta nobre cruzada.
Abaixo os mascotes fofinhos!
Viva o Saci!
O Saci dá pé!
torero@uol.com.br
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