São Paulo, quinta-feira, 10 de junho de 2010

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Amarelo bafana

A 2 dias do jogo de abertura, milhares de sul-africanos vão às ruas em apoio ao time de Parreira

LAURA CAPRIGLIONE
ENVIADA ESPECIAL A JOHANNESBURGO

Safiyyah Hassanain, 28, veste véu muçulmano integral -corpo todo coberto de preto, só se veem os olhos. De repente, fóóóóóóóó! Um susto. Por baixo daquela roupa toda, a mulher achou um jeito de tocar a vuvuzela, corneta colorida estoura-tímpanos que os sul-africanos adoram levar aos estádios.
Ontem, Safiyyah era uma entre dezenas de milhares de negros, africâneres, hindus, muçulmanos -a rica composição étnica da África do Sul- que tomaram as ruas do distrito chique de Sandton para levar seu apoio à seleção Bafana Bafana, nome em zulu do time do país.
Desfilando em carro aberto, o time do técnico Carlos Alberto Parreira foi saudado em frenesi por fãs que começaram cedo a chegar à área.
Mzwenhlanhla Zulu, 38, saiu às 7h de Soweto, o distrito negro pobre a 34 km de distância, berço do movimento antiapartheid. Pegou perua-lotação para ir a Sandton. Ao lado dele, camisa oficial da seleção, gritando e sorrindo, estava o branco que fez questão de aterrissar no local a bordo de um Porsche amarelo modelo Boxster.
"Esta é a oportunidade de mostrarmos ao mundo que estamos num grande esforço para fazer deste país uma nação", declarou ele, enfatizando que o amarelo de seu Porsche era "o mesmo do uniforme da seleção".
Milhares de crianças participaram da festa acompanhadas de seus pais. As escolas cancelaram as aulas do período vespertino para facilitar-lhes a presença.
Como se estivessem em um filme, mulheres zulus (identificáveis pelos colares e chapéus) ensinavam uma dança tribal a crianças loiras.
Placas com palpites para o primeiro jogo da Copa, África do Sul x México (amanhã), exibiam o ânimo com a seleção. Até um "Bafana Bafana 4 x 1 México" apareceu. "Estamos invictos há 12 jogos.
We can", dizia um cartaz.
Sandton é o lugar menos africano de Johannesburgo.
A começar da cor de pele predominante em seus habitués -o branco. Na arquitetura local, ancorada no hotel chamado Michelangelo, consagrou-se o estilo florentino fake, com estátuas de anjos renascentistas, afrescos no teto, colunas e mármore falso.
"Nós chegamos até aqui.
Nós conseguimos. Somos uma só África", comemorava o pedreiro da etnia xhosa Nelson Mpemvu, 33, trabalhando em uma construção perto -Johannesburgo ainda é um canteiro de obras.
Finda a festa, o pedreiro, enrolado numa bandeira do país, entrou no shopping Sandton City, acompanhado de milhares de torcedores como ele que, pela primeira vez, colocavam os pés ali.
Nas cabeças, lembrando a origem proletária do amor pelo futebol no país (os brancos sul-africanos sempre preferiram o rúgbi), levavam as coloridas makarapas. Trata-se de capacetes como os dos peões de obras e dos operários das minas de ouro e diamantes. Recortados e pintados, os capacetes transformam-se em esculturas.
Ontem, tinha capacete de catavento, flor, bandeira sul -africana, miniatura de jogador. Milhares de makarapas passaram na frente de lojas como Gucci, Cartier ou Montblanc, comemorando.


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