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Amarelo bafana
A 2 dias do jogo de abertura, milhares de sul-africanos vão às ruas em apoio ao time de Parreira
LAURA CAPRIGLIONE
ENVIADA ESPECIAL A JOHANNESBURGO
Safiyyah Hassanain, 28,
veste véu muçulmano integral -corpo todo coberto de
preto, só se veem os olhos. De
repente, fóóóóóóóó! Um susto. Por baixo daquela roupa
toda, a mulher achou um jeito de tocar a vuvuzela, corneta colorida estoura-tímpanos
que os sul-africanos adoram
levar aos estádios.
Ontem, Safiyyah era uma
entre dezenas de milhares de
negros, africâneres, hindus,
muçulmanos -a rica composição étnica da África do
Sul- que tomaram as ruas
do distrito chique de Sandton para levar seu apoio à seleção Bafana Bafana, nome
em zulu do time do país.
Desfilando em carro aberto, o time do técnico Carlos
Alberto Parreira foi saudado
em frenesi por fãs que começaram cedo a chegar à área.
Mzwenhlanhla Zulu, 38,
saiu às 7h de Soweto, o distrito negro pobre a 34 km de
distância, berço do movimento antiapartheid. Pegou
perua-lotação para ir a Sandton. Ao lado dele, camisa oficial da seleção, gritando e
sorrindo, estava o branco
que fez questão de aterrissar
no local a bordo de um Porsche amarelo modelo Boxster.
"Esta é a oportunidade de
mostrarmos ao mundo que
estamos num grande esforço
para fazer deste país uma nação", declarou ele, enfatizando que o amarelo de seu
Porsche era "o mesmo do
uniforme da seleção".
Milhares de crianças participaram da festa acompanhadas de seus pais. As escolas cancelaram as aulas do
período vespertino para facilitar-lhes a presença.
Como se estivessem em
um filme, mulheres zulus
(identificáveis pelos colares e
chapéus) ensinavam uma
dança tribal a crianças loiras.
Placas com palpites para o
primeiro jogo da Copa, África
do Sul x México (amanhã),
exibiam o ânimo com a seleção. Até um "Bafana Bafana
4 x 1 México" apareceu. "Estamos invictos há 12 jogos.
We can", dizia um cartaz.
Sandton é o lugar menos africano de Johannesburgo.
A começar da cor de pele predominante em seus habitués
-o branco. Na arquitetura
local, ancorada no hotel chamado Michelangelo, consagrou-se o estilo florentino fake, com estátuas de anjos renascentistas, afrescos no teto, colunas e mármore falso.
"Nós chegamos até aqui.
Nós conseguimos. Somos
uma só África", comemorava
o pedreiro da etnia xhosa
Nelson Mpemvu, 33, trabalhando em uma construção
perto -Johannesburgo ainda é um canteiro de obras.
Finda a festa, o pedreiro,
enrolado numa bandeira do
país, entrou no shopping
Sandton City, acompanhado
de milhares de torcedores como ele que, pela primeira
vez, colocavam os pés ali.
Nas cabeças, lembrando a
origem proletária do amor
pelo futebol no país (os brancos sul-africanos sempre preferiram o rúgbi), levavam as
coloridas makarapas. Trata-se de capacetes como os dos
peões de obras e dos operários das minas de ouro e diamantes. Recortados e pintados, os capacetes transformam-se em esculturas.
Ontem, tinha capacete de
catavento, flor, bandeira sul
-africana, miniatura de jogador. Milhares de makarapas
passaram na frente de lojas
como Gucci, Cartier ou Montblanc, comemorando.
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