São Paulo, quinta-feira, 10 de junho de 2010

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Holanda conquista apoio negro e aproxima raças

Com projetos sociais na África do Sul, seleção se livra de ecos do apartheid

RODRIGO MATTOS
ENVIADO ESPECIAL A JOHANNESBURGO

Um negro sul-africano levanta a bandeira da Holanda. Vestido com o uniforme laranja, ele canta, dança e assopra sua vuvuzela para embalar o treino da seleção europeia, o primeiro aberto ao público antes da Copa-2010.
Comum em qualquer outro lugar do mundo, o fato surpreende na África do Sul.
O símbolo holandês, com suas linhas horizontais e três cores, serviu de inspiração para a antiga bandeira da África do Sul, lembrança da época do apartheid, que segregava brancos e negros.
Foram os africâneres, descendentes de holandeses, que junto com os ingleses implantaram o sistema que perdurou até os anos 90.
A população negra não costuma usar a camisa da Holanda no dia a dia.
Mas, pelo menos em volta de um campo de futebol, o país reconciliou-se com os nativos sul-africanos.
No estádio de rúgbi da Universidade de Wits, a movimentação dos atletas encheu com a distribuição de ingressos gratuitos. Prática, aliás, condenada pela Fifa, mas feita com bilhetes com logos oficiais da Copa.
Negros dividiram arquibancadas com brancos, entre representantes da comunidade holandesa na África do Sul e torcedores vindos da Europa para o Mundial.

"OUTRA" HOLANDA
"Não penso nela [Holanda] ligada ao apartheid", disse Ronny Totjela, negro com a camisa da Holanda.
Não era um caso único. A Folha contou pelo menos outros cinco espalhados pela arquibancada vestindo casacos e gorros laranja.
Ao lado de Totjela, Van der Vit, branco e descendente de holandeses, dividia uma vuvuzela com ele e usava camisa da África do Sul.
Atrás, um grupo grande de torcedores negros cantava músicas típicas africanas.
A equipe acenou com palmas. É uma seleção, por sinal, que tem como característica a diversidade de cores. Jogadores negros como Davids, Gullit e Rijkaard já se destacaram com sua camisa.
Na atual equipe, Babel e Braafheid são negros.
A federação holandesa ainda desenvolve projetos sociais na África do Sul para a evolução do futebol local.
Assim, distancia-se da imagem da antiga bandeira da África do Sul, que não foi vista ontem no treino.
Holandeses, legítimos ou descendentes, e negros não se entenderam ontem apenas em um momento. Quando se impunham ritmos mais complexos aos cantos, os brancos se perdiam.
A seleção laranja é a cabeça de chave do Grupo E do Mundial, que tem também Camarões, Dinamarca e Japão. A estreia é na segunda, contra os dinamarqueses.


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