São Paulo, quinta-feira, 10 de junho de 2010

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Multinacionais

Número de naturalizados cresce para a Copa na África; Argélia , com 17 franceses, será uma seleção estrangeira

MARIANA BASTOS
RAFAEL REIS
DE SÃO PAULO

O meia Hassan Yebda, 26, já sabe o gosto de ser campeão do mundo. Em 2001, ele venceu o Mundial sub-17 atuando pela França.
Há um ano, no entanto, Yebda trocou o azul do uniforme francês pelo branco da camisa argelina. Em outras palavras, deixou de defender o seu país natal -nasceu em Saint-Maurice, na França- para compor a seleção de seus ascendentes.
Na Copa da África do Sul, Yebda traçará, portanto, o caminho oposto ao do craque Zinedine Zidane, também descendente de argelinos, que acabou campeão em 1998 pelos "Azuis".
Além de Yebda, outros 16 atletas nascidos na França defenderão a seleção da antiga colônia neste Mundial.
A Argélia afrancesada de 2010 é a ponta do iceberg de uma intrincada relação entre futebol e globalização. Pela primeira vez na história das Copas do Mundo, uma seleção será representada em sua maioria por estrangeiros.
É o extremo de uma tendência: o aumento do número de atletas naturalizados defendendo outras seleções a cada quatro anos. Na Copa da Coreia/Japão-2002, eram 43; na Alemanha-2006, 65; neste Mundial, serão 74.
No caso argelino, a naturalização foi estimulada.
Quando começou a montar sua equipe para a Copa da África do Sul, o técnico da seleção, Rabah Saadane, garimpou seus talentos nos gramados franceses. Percebeu que muitos dos descendentes de argelinos não teriam oportunidade de defender a seleção principal da França.
Até dois meses atrás, Saadane ainda tentava convencer atletas a trocar de nacionalidade. Focou-se em um quarteto: Habib Bellaid, Foued Kadir, Ryad Boudebouz e Sofiane Feghouli.
Somente o último deles não quis se naturalizar.
"Aos 20 anos, Feghouli e Boudebouz estão em um momento decisivo da carreira. Para eles, a prioridade continua sendo o time francês, mas, se eles não quiserem jogar pela França, podem decidir jogar pela Argélia", disse Saadane, antes de entrar em contato com os jogadores.
Não incluído na lista, Feghouli, pelo jeito, ainda acredita que pode fazer parte, um dia, da seleção francesa.
A corrida do técnico argelino por franceses é um reflexo de uma regra da Fifa que entrou em vigor há um ano. Antes, o jogador que havia defendido uma seleção de base só poderia trocar de nacionalidade até os 21 anos. Agora, não há mais limite etário.
Pela norma antiga, a seleção argelina somente poderia naturalizar um dos 17 franceses: Boudebouz.
Há anos a Fifa demonstra preocupação com essa forte tendência de naturalização.
Nesta Copa, só 7 dos 32 elencos que vão ao torneio não possuem forasteiros.
Muitos estrangeiros nem sequer fincaram raízes nos países que defenderão.
Hoje, segundo as regras da entidade máxima do futebol, um jogador consegue vaga em uma nova seleção se tem pai, mãe ou avós biológicos nascidos no local ou se residiu por pelo menos cinco anos seguidos no país.
A Fifa, no entanto, queixa-se de regras flexíveis de naturalização em alguns países para favorecer atletas.
O presidente da entidade, Joseph Blatter, chegou a dizer no passado: "Se não cuidarmos de invasores vindos do Brasil, nas Copas de 2014 e 2018 teremos 16 dos 32 times cheios de brasileiros".
Um dos maiores exportadores de jogadores para clubes estrangeiros, o Brasil terá neste Mundial seis atletas defendendo seleções de outros países: Japão, Estados Unidos, Alemanha e Portugal.

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