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MultinacionaisNúmero de naturalizados cresce para a Copa na África; Argélia , com 17 franceses, será uma seleção
estrangeira
MARIANA BASTOS
RAFAEL REIS
DE SÃO PAULO
O meia Hassan Yebda, 26,
já sabe o gosto de ser campeão do mundo. Em 2001, ele
venceu o Mundial sub-17
atuando pela França.
Há um ano, no entanto,
Yebda trocou o azul do uniforme francês pelo branco da
camisa argelina. Em outras
palavras, deixou de defender
o seu país natal -nasceu em
Saint-Maurice, na França-
para compor a seleção de
seus ascendentes.
Na Copa da África do Sul,
Yebda traçará, portanto, o
caminho oposto ao do craque Zinedine Zidane, também descendente de argelinos, que acabou campeão
em 1998 pelos "Azuis".
Além de Yebda, outros 16
atletas nascidos na França
defenderão a seleção da antiga colônia neste Mundial.
A Argélia afrancesada de
2010 é a ponta do iceberg de
uma intrincada relação entre
futebol e globalização. Pela
primeira vez na história das
Copas do Mundo, uma seleção será representada em sua
maioria por estrangeiros.
É o extremo de uma tendência: o aumento do número de atletas naturalizados
defendendo outras seleções
a cada quatro anos. Na Copa
da Coreia/Japão-2002, eram
43; na Alemanha-2006, 65;
neste Mundial, serão 74.
No caso argelino, a naturalização foi estimulada.
Quando começou a montar sua equipe para a Copa da
África do Sul, o técnico da seleção, Rabah Saadane, garimpou seus talentos nos gramados franceses. Percebeu
que muitos dos descendentes de argelinos não teriam
oportunidade de defender a
seleção principal da França.
Até dois meses atrás, Saadane ainda tentava convencer atletas a trocar de nacionalidade. Focou-se em um
quarteto: Habib Bellaid,
Foued Kadir, Ryad Boudebouz e Sofiane Feghouli.
Somente o último deles
não quis se naturalizar.
"Aos 20 anos, Feghouli e
Boudebouz estão em um momento decisivo da carreira.
Para eles, a prioridade continua sendo o time francês,
mas, se eles não quiserem jogar pela França, podem decidir jogar pela Argélia", disse
Saadane, antes de entrar em
contato com os jogadores.
Não incluído na lista, Feghouli, pelo jeito, ainda acredita que pode fazer parte, um
dia, da seleção francesa.
A corrida do técnico argelino por franceses é um reflexo
de uma regra da Fifa que entrou em vigor há um ano. Antes, o jogador que havia defendido uma seleção de base
só poderia trocar de nacionalidade até os 21 anos. Agora,
não há mais limite etário.
Pela norma antiga, a seleção argelina somente poderia naturalizar um dos 17
franceses: Boudebouz.
Há anos a Fifa demonstra
preocupação com essa forte
tendência de naturalização.
Nesta Copa, só 7 dos 32 elencos que vão ao torneio não possuem forasteiros.
Muitos estrangeiros nem sequer fincaram raízes nos países que defenderão.
Hoje, segundo as regras da
entidade máxima do futebol,
um jogador consegue vaga
em uma nova seleção se tem
pai, mãe ou avós biológicos
nascidos no local ou se residiu por pelo menos cinco
anos seguidos no país.
A Fifa, no entanto, queixa-se de regras flexíveis de naturalização em alguns países
para favorecer atletas.
O presidente da entidade,
Joseph Blatter, chegou a dizer no passado: "Se não cuidarmos de invasores vindos
do Brasil, nas Copas de 2014
e 2018 teremos 16 dos 32 times cheios de brasileiros".
Um dos maiores exportadores de jogadores para clubes estrangeiros, o Brasil terá
neste Mundial seis atletas defendendo seleções de outros
países: Japão, Estados Unidos, Alemanha e Portugal.
FOLHA.COM
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