São Paulo, segunda-feira, 10 de julho de 2006

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Tostão

Deu Itália na Copa

Neste Mundial, senti falta de um time que jogasse como o Barcelona

NO PRIMEIRO tempo, o jogo foi melhor do que se esperava. Com o gol de pênalti, bastante duvidoso, batido pelo Zidane à la Marcelinho, a Itália teve de sair de seu futebol contido para pressionar e empatar a partida.
No segundo tempo e na prorrogação, a França foi melhor e criou algumas chances de gol. A Itália se encolheu, passou a jogar de contra-ataque, e o jogo perdeu qualidade. Voltou ao que se esperava.
Buffon fez uma grande defesa em uma cabeçada de Zidane. Foi também com a cabeça que Zidane manchou a sua atuação na Copa e o final de sua carreira. Sem bola, ele deu uma cabeçada em Materazzi e foi merecidamente expulso. Apagou-se nesse gesto a única estrela grandiosa da Copa. Retiro meu voto de melhor do Mundial de Zidane e o transfiro para Buffon, um excepcional goleiro.
O gesto de Zidane foi extremamente agressivo e premeditado. Simboliza bem a ambivalência e a estranheza do ser humano diante do mundo. O herói se desmanchou em fração de segundos. E ainda não foi receber a medalha.
Nos pênaltis, deu Itália, campeã do mundo pela quarta vez, com um futebol que se destacou muito mais pelo sistema defensivo. Foi uma Copa sem grande brilho. A exceção era Zidane. As grandes seleções foram muito táticas, disciplinadas e pouco ousadas e inventivas. Foi uma Copa dos defensores, das pranchetas dos técnicos em vez dos craques.
Todas as seleções tiveram muitos cuidados defensivos, marcando muito atrás. Daí a baixa média de gols, só maior do que da Copa de 90. Senti falta de um time como o Barcelona, que pressiona, toma a bola no outro campo e chega com muitos atletas ao gol. Senti falta também do Ronaldinho, a estrela maior, que teve uns problemas psicológicos e físicos antes do Mundial e não pôde jogar. Mandaram um sósia, que dele só tinha a cara e os dentes para fora. Nem o sorriso era o mesmo.
Faltaram ao Mundial técnicos que sabem arriscar no momento certo, que buscam a vitória sem esquecer a qualidade do espetáculo, que sejam visionários e racionais, uma mistura de Dom Quixote e Sancho Pança.


tostao.folha@uol.com.br

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