São Paulo, segunda-feira, 10 de julho de 2006

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Juca Kfouri

Que merde, Zidane!

No limite entre sucesso e fracasso, italianos erraram menos e venceram

NO FUTEBOL , a fronteira entre a glória e a maldição é tênue. E nele, com freqüência, a história se repete, como drama ou como farsa. Pois a final da Copa de 2006 teve um pouco de cada coisa. Assim que começou, lembrou as finais de 1998, 1974 e 1966.
A de Paris, quando Thierry Henry caiu desmaiado no gramado. Impossível não lembrar de Ronaldo, com a diferença de que não houve nada de mais grave com o francês.
A de Munique, com o pênalti logo de cara. Com a diferença de que o que favoreceu a Holanda aconteceu e o que o argentino Elizondo assinalou não houve. E a de Londres, com a bola batendo no travessão e no chão, com a diferença de que em Berlim a bola entrou e em 1966, não. Zidane brincou com a fronteira. Se perdesse, diriam que foi irresponsável.
Como marcou, poderia ser elogiado pela frieza por bater pênalti deste jeito no melhor goleiro da Copa. Mas, se a Alemanha saiu atrás em 1974 e empatou em seguida, também a Itália foi à luta buscar o empate na cabeçada de Materazzi. E, por pouco, pelo travessão, não virou na primeira etapa, com Toni.
A França conseguiu o gol que precisava no início da decisão, mas, ao contrário dos dois últimos jogos contra Brasil e Portugal, não teve como assumir o controle do jogo.
Coisa que fez durante todo o segundo tempo, quando Malouda até sofreu o pênalti que não acontecera no primeiro, e durante a prorrogação, período em que Buffon fez a maior defesa da Copa, em certeira cabeçada de Zidane. O mesmo Zidane que fez a maior barbaridade de sua vida, em outra cabeçada, injustificável, inexplicável, insondável, estarrecedora, no peito de Materazzi, que lhe valeu a expulsão de campo como derradeiro ato de sua brilhante carreira de atleta.
Entenda o futebol, a vida, o ser humano. Zidane atravessou a fronteira que nos faz vilões. E Trezeguet desperdiçou o pênalti que Zidane marcou, com a sutil diferença de a bola bater fora ou dentro do gol. A Itália, sem erros fatais, é tetra no estádio em que conquistou o ouro olímpico 70 anos atrás.


blogdojuca@uol.com.br

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