São Paulo, segunda-feira, 10 de julho de 2006

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Na festa, italianos ignoram lei seca

No Circo Massimo, em Roma, 150 mil pessoas festejam título do Mundial com bebidas alcóolicas, que estavam proibidas

Repetindo a Copa de 1982, última conquista do país, italianos foram banhar-se na Fontana di Trevi após assistirem à final em telões


Gregoria Borgia/Associated Press
Italianos, que ontem driblaram a lei seca, festejam o tetracampeonato da Copa do Mundo no Circo Massimo, em Roma, tradicional ponto de encontro dos torcedores em grandes eventos esportivos

SÉRGIO RANGEL
ENVIADO ESPECIAL A ROMA

Os italianos driblaram a lei seca imposta pela Prefeitura de Roma e fizeram uma festa etílica para comemorar a dramática conquista da quarta Copa do Mundo da história do país.
Apesar da determinação do prefeito, que proibiu a comercialização de bebidas alcoólicas e garrafas de vidro em todo o centro histórico da cidade, os milhares de torcedores burlaram a lei com facilidade no Circo Massimo, principal ponto de concentração popular em Roma durante a final.
"Entendo o apelo do prefeito, mas é muito difícil comemorar um título esperado há 24 anos sem beber pelo menos uma cerveja", disse o guia turístico Paolo Giacomo, 32, um dos torcedores que assistia ao jogo pelo telão montado na área da antiga arena de corridas de bigas.
Logo após o lateral Grosso acertar o quinto pênalti, o clima de euforia tomou conta do Circo Massimo. Pelas contas dos organizadores da festa no local, cerca de 150 mil pessoas festejariam até o final da noite de ontem o título somente no local. No total, a prefeitura esperava um milhão de torcedores nas ruas e praças de Roma.
"É inacreditável. Depois de ter chorado muito de raiva em 94 [quando o Brasil derrotou os italianos nos pênaltis na final], me sinto agora aliviado. Este é o dia mais feliz da minha vida", disse o universitário Ricardo Mazonne, 22, caído no chão de areia do Circo Massimo. Ele disse ter bebido cinco cervejas e estava "pronto para mais algumas até o dia amanhecer".
Apesar da ordem do prefeito, a repressão praticamente não existiu. Numa das entradas do local, só um voluntário tinha a tarefa de impedir os torcedores de entrarem com garrafas.
Na arena, ambulantes vendiam cerveja. Cada garrafa custava três euros (cerca de R$ 8). "Não sabia da proibição. Assim é bem melhor para a minha consciência", disse a enfermeira Eliani Spalletti, 26, que dividia uma garrafa de vinho com amigas. Todas estavam enroladas em bandeiras da Itália.
O grande momento da festa foi quando o capitão Cannavaro levantou o troféu. ""Pensei que nunca veria esta imagem na minha vida. É um sonho difícil de acreditar", disse o comerciante Fabio Lodoli, 31, um dos muitos que chorou com a cena.
A Polícia montou um grande esquema de segurança em Roma. No total, 3.000 homens trabalhariam até o fim da madrugada de hoje. Todas as ruas do centro histórico estavam fechadas desde duas horas antes da partida. Na terça-feira, quando o time se classificou para a final, o caos tomou conta do centro histórico.
Depois da vitória, centenas de policiais tomavam conta de monumentos históricos da cidade. A prefeitura temia que alguns deles fossem depredados. Em 1982, quando os italianos haviam ganho seu último Mundial, a Fontana di Trevi foi tomada por torcedores.
"Só volto a trabalhar na terça. O meu patrão pode me demitir, mas amanhã [hoje] não passo no emprego. Também duvido que ele apareça por lá", disse o sorveteiro Adriano Pugno, 37, um dos torcedores que pretendia repetir o feito dos seus tios em 82. Menos de meia hora depois da final, ele já deixou o Circo Massimo para "tomar um banho na Fontana di Trevi".


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