São Paulo, sábado, 10 de julho de 2010 |
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JOSÉ GERALDO COUTO O ritual da derrota
TODAS AS derrotas são iguais, certo? Errado. Há derrotas e derrotas, e é preciso aprender com elas. Tanto com as próprias como com as alheias. Vamos comparar, por exemplo, os reveses que eliminaram o Brasil, o Paraguai e o Uruguai. Contra a Espanha, num confronto flagrantemente desigual, o Paraguai morreu lutando até o último segundo. Contra a Holanda, na semifinal, o Uruguai idem, ibidem. E o Brasil? Ora, o Brasil. Ao tomar o gol de empate da Holanda, o time se desmanchou, desmoronou, ruiu. Apagão geral. Por que ocorreu isso? Tenho minha hipótese, que não é original, nem nova. As culturas arcaicas se baseiam numa concepção cíclica do tempo e da vida. É como se o tempo não avançasse de modo linear, mas retornasse eternamente sobre si mesmo, como as estações do ano e as fases da Lua. Seus rituais atualizam, como se fosse a primeira vez, acontecimentos antigos: a criação do mundo, a descoberta do fogo, a coroação do primeiro rei. No imaginário que envolve o futebol, agimos como essas civilizações ditas primitivas: estamos sempre no mesmo lugar. Maracanã, 1950. Ao sofrer o gol de empate do Uruguai, o Brasil, que já se via campeão, cai numa prostração geral, segundo todas as testemunhas. Stade de France, 1998. O Brasil, que depois da vitória épica sobre a Holanda nas semifinais já se via erguendo a taça, descobre que faltou combinar com um último adversário, a França. Abalado pela crise de seu principal craque, o time sucumbe à apatia. Da onipotência à impotência, sem escalas. O terceiro ritual de atualização dessa síndrome bipolar, não preciso dizer, aconteceu no último dia 2, em Port Elizabeth, África do Sul. A derrota de 2006 para a França não conta, pois naquele momento já não se esperava mais nada daquela seleção. Mas na África do Sul, sim, esperava-se tudo. A vitória folgada sobre o Chile nos dava embalo. Vamos que vamos, a taça do mundo é nossa. Mas não era. Eternos favoritos, não demoramos para nos julgar campeões por antecipação. De repente, não mais que de repente, vemos que não estamos sozinhos em campo. O rival, aquele (qualquer um) que insistimos em ignorar, também está empenhado em vencer. E às vezes consegue. Simples assim. jgcouto@uol.com.br Texto Anterior: Platini desmaia e é hospitalizado Próximo Texto: Pasquale Cipro Neto: Cabo da Boa Esperança Índice |
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