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Unidos pela fúria
Campanha "sem precedentes" da Espanha conquista catalães , antes céticos em relação à seleção
ROBERTO DIAS
EM BARCELONA
O cruzamento do catalão
Xavi para a cabeçada certeira
do também catalão Puyol levou a Espanha para a final da
Copa e a Catalunha a uma
crise de identidade.
A região passou séculos
lutando por sua independência e décadas tentando reafirmar seu nacionalismo, de diferentes maneiras: pela língua, pelo governo e, também, pelo futebol.
Pois agora vê a Fúria triunfar tendo como base um dos
maiores símbolos desse nacionalismo, o Barcelona, clube de 7 dos 11 titulares escalados contra a Alemanha. Daí o
apelido "Barçanhola".
Talvez por isso, desde o final de semana apareceram
várias bandeiras e camisas
espanholas por Barcelona,
assim como os rojões começaram a pipocar pela cidade.
"É a primeira vez que vou
com a Espanha. Antes o time
fazia papel ridículo", diz o
barcelonês Jaime Adelantado, 44, que recorre ao argumento mais usado nos últimos dias pelos catalães que
decidiram apoiar a seleção:
"Gosto do estilo de jogo, há
muitos jogadores do Barça".
O sucesso espanhol vem
num momento em que a Catalunha acaba de ser duramente ferida em seu nacionalismo. Na semana passada, o Tribunal Constitucional, órgão máximo do Judiciário espanhol, derrubou
boa parte do Estatuto da Catalunha, a Constituição que o
governo local tentava validar
havia quatro anos.
Por causa disso, foi convocada para hoje, véspera da final, uma grande manifestação contrária à sentença.
Mas já se discute que efeito
essa onda vermelha poderá
ter sobre o movimento.
"Tem gente que, quando
joga a Espanha, salta a veia
espanhola", diz o catalão
Juan Carlos Sánchez, 60, ele
próprio indiferente à seleção.
Os que tiverem "saltada" a
veia espanhola poderão
amanhã, enfim, ver um jogo
do time de Del Bosque em telão público, decisão anunciada anteontem pelo prefeito de Barcelona, Jordi Hereu
(é uma campanha "sem precedentes", ele justificou).
O telão havia sido pedido,
aos gritos, pelos torcedores
que festejaram a vitória sobre
a Alemanha. Mais de 4.000
pessoas comemoravam nas
ruas, um público ainda muito menor, porém, do que o
dos títulos do Barcelona.
Na mídia catalã, são marginais, nesta Copa, os rodeios a que se recorria em outros anos para evitar dizer "a
seleção" quando se referia à
Espanha -fórmulas como "a
seleção estatal" ou "o combinado do Estado espanhol".
Do lado dos catalães que
continuam contrários à seleção (não há pesquisas que tenham medido quantos são),
encontram-se argumentos
no próprio Barça para sua
atitude: dizem que quanto
mais os jogadores descansarem, melhor para o clube.
Mas há explicações que
vão bem além disso. "Meu
país não está no Mundial",
diz Marc Segura, 33. "Ainda
que os 11 jogadores fossem
catalães, estão representando outra bandeira. Dizer que
o futebol está à margem da
política é tolice", protesta.
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