São Paulo, domingo, 10 de julho de 2011

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Política argentina põe Rosario de lado
COPA AMÉRICA
Cidade com tradição no futebol e que faz oposição a Cristina Kirchner é excluída do torneio


RODRIGO BUENO
ENVIADO ESPECIAL A BUENOS AIRES

Há um personagem importante do futebol argentino que estranhamente ficou de fora da Copa América: a cidade de Rosario. A explicação para isso é rivalidade.
Oficialmente, Julio Grondona, presidente da federação argentina, disse que Rosario não receberia jogos na competição continental para não melindrar Newell's Old Boys ou Rosario, os dois clubes tradicionais da cidade.
"Se dou a sede para o Central [Rosario], os do Newell's me matam. Se dou para os de Newell's, me matam os do Central", disse o dirigente.
Mas a história e o presente recente não dizem isso.
Em 2009, para tentar fazer mais pressão na seleção brasileira, a Argentina de Maradona mandou seu jogo pelas eliminatórias contra a equipe de Dunga no estádio Gigante de Arroyito, o maior da cidade, que então passou por pequenas reformas para atender a exigências da Fifa.
No passado, Argentina e Brasil fizeram em Rosario um de seus duelos mais famosos. Na Copa de 1978, empataram em 0 a 0 em um jogo em que o volante Chicão foi escalado por sua famosa virilidade.
Grondona reconhece a importância do futebol de Rosario para o país e, para explicar a ausência da maior cidade da província de Santa Fé, cita a descentralização.
"Os clubes santafesinos [da província de Santa Fé] foram os primeiros a se filiar diretamente à AFA [federação argentina]. Creio que é justo deixar um pouquinho de lado Rosario, onde todas as atividades internacionais já se realizaram", disse ele.
Há quem veja na aproximação de Grondona com os dirigentes do Colón de Santa Fé uma das razões para Rosario ter ficado de fora -o estádio do Colón recebeu o jogo entre Argentina e Colômbia.
Porém há um forte componente político na região. O prefeito de Rosario, Miguel Lifschitz, é socialista (Frente Progressista Cívico e Social) e opositor da presidente Cristina Kirchner, da linha peronista (Partido Justicialista).
Em setembro de 2007, Lifschitz conseguiu uma sonora vitória em Rosario sobre o candidato do partido de Cristina, o que impulsionou Hermes Binner ao governo de Santa Fé e à disputa pela presidência neste ano.
Cristina esteve há poucas semanas em Rosario para o Dia da Bandeira, numa cerimônia em que esteve acompanhada pelos opositores locais, mas não deu vez para os socialistas discursarem.
"Não quero mais argentinos contra argentinos", disse a presidente na ocasião.
O partido de Cristina teve vitórias em várias províncias que ganharam espaço no torneio, como Buenos Aires (La Plata é a capital), Córdoba, Jujuy, Salta e San Juan.
Rosario, terceira cidade mais populosa do país, com mais de 1 milhão de habitantes em sua região metropolitana, tem mais que o dobro de pessoas do que Santa Fé.
Somando as conquistas dos times de Rosario, são nove títulos nacionais e um internacional. Vários atletas que jogaram na seleção argentina nasceram em Rosario. Do elenco atual, Banega, Di María, Garay e Messi são filhos da cidade excluída.


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