São Paulo, sábado, 10 de agosto de 2002

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MOTOR

Fora da ordem

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE

Se o leitor é um daqueles que acreditam que mandar e-mails adianta alguma coisa nesta vida e tem apreço à F-1, dedos à obra: teamorders@fia.com. Até 1º de setembro a FIA aceita sugestões sobre ordens de equipe. É uma emergência. O que está no ar é de doer. A própria entidade, no intuito de estimular o debate, adianta três que já estão "em estudo", todas beirando o absurdo:
1) Eventuais ordens que serão dadas em um GP devem ser tornadas públicas antes da largada, desde que a tática de corrida da escuderia assim permita;
2) Se a ordem de chegada entre dois pilotos tiver que ser arranjada, que o arranjo aconteça assim que as circunstâncias permitirem;
3) Ordens do tipo "mantenham posições" durante um GP devem ser tornadas públicas assim que forem determinadas pelo time.
E tem mais. A "F1 Racing", por exemplo, faz campanha por um plano de "cinco pontos":
1) Banimento do rádio;
2) Dar três pontos para a volta mais rápida, dois para a segunda e um para a terceira (e animar o piloto a acelerar até o final);
3) Dar US$ 1 milhão como prêmio para cada vencedor de GP;
4) Pontuar os dez primeiros na base de 10-9-8-7-6-5-4-3-2-1 (e minimizar a importância das vitórias durante o campeonato);
5) Dar bônus aos líderes de um quarto, metade e três quartos de GP (e minimizar os efeitos das ultrapassagens de última volta).
Ufa! Nem a Indy foi tão longe em sua tentativa de esterilizar corridas em nome de uma suposta competitividade. E nem o mais ingênuo dos fãs imaginaria que qualquer dessas propostas seria capaz de alterar o atual e péssimo estado de coisas da categoria.
Mas, sendo ingênuo, imagine como seria a próxima temporada: além do grid de largada, os jornais publicariam as eventuais ordens, fulano pode passar ciclano caso beltrano alcance a liderança, porém, se beltrano abandonar, fulano faz o que quiser já que ciclano é segundo piloto etc.
Pior, teríamos que esperar até pela disputa certamente emocionante do décimo lugar e esperar também pela última corrida do ano para ver o campeão que só não foi campeão antes graças à matemática "bandeira amarela", a grande praga da Indy, que neutraliza a única disputa possível no esporte a motor, a da pista.
A FIA parece esquecer isso. É impossível que seus dirigentes não percebam que o problema da categoria não é um time ordenar um piloto passar o outro na última volta, mas ter um domínio de corrida suficiente para tomar atitudes desse tipo. É importante frisar: antes de ter o desplante de passar a ordem para Barrichello, a Ferrari teve a chance de fazê-lo.
A discussão não deveria ser as ordens de equipe, mas toda a categoria. Não apenas o fosso que separa a Ferrari do resto, mas os vários fossos que existem por todo o grid. Não a falta de dinheiro, mas a responsabilidade financeira. A discussão não deveria ser o regulamento, mas, sim, no que o dinheiro em excesso e a tecnologia também em excesso o transformaram, apenas um documento de respaldo -"estamos dentro das regras", como se ouve tanto.
As palhaçadas da Ferrari não feriram o regulamento, feriram o esporte que um dia foi controlado por ele -não é mais. Adicionar regras estapafúrdias ou elementos restritivos será inútil.
A FIA deveria consultar os fãs sobre sua própria utilidade.

Crise
Em menos de uma semana, a coluna recebeu dois e-mails de pilotos que deixam suas respectivas categorias por falta de dinheiro. Dolarizado ao extremo, o esporte a motor nacional e seus representantes no exterior sofrerão neste turbulento semestre eleitoral.

Nascar
Agora que Christian anunciou finalmente que correrá regularmente na categoria, que tal alguma emissora brasileira se interessar pelo negócio e comprar os direitos? É possível? Ter acesso ao Mundial de rali já foi um passo. Só falta mesmo a Nascar.

IRL x Indy
A liga rival vive neste fim de semana seu momento de ouro no Brasil, por uma série de circunstâncias. O campeonato original pode ver Da Matta disparar na tabela e perceber que ele vai embora por obra da Toyota. A gangorra definitivamente pendeu para um lado.

E-mail mariante@uol.com.br



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