São Paulo, sábado, 10 de agosto de 2002

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FUTEBOL

Nivelamento por baixo

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

O Campeonato Brasileiro que começa hoje não tem favoritos. As razões disso são, basicamente, duas: a ascensão das equipes de fora do eixo Rio-SP-Minas-Rio Grande do Sul e a desfiguração das equipes que fizeram boas campanhas nas competições anteriores.
Nenhuma equipe que brilhou em 2001 conseguiu manter o mesmo elenco e o mesmo treinador para o Brasileiro de 2002. Mesmo os clubes que se destacaram no primeiro semestre deste ano, como o Corinthians, o Cruzeiro e o São Caetano, sofreram grandes ou pequenas baixas e já não contam com o mesmo poderio.
Tempos atrás, o campeonato nacional revelava talentos que eram logo contratados por clubes "grandes" do Rio ou de São Paulo e ali ficavam durante anos. Hoje, as revelações não ficam muito tempo no país. Vão direto para o futebol da Europa.
Os jogadores jovens que chegam aos clubes já não têm os grandes craques como modelos e pontos de referência. Os elencos não têm tempo de se entrosar, os treinadores não podem fazer um trabalho de longo prazo. Os times não conseguem se manter poderosos por mais de uma temporada.
O resultado disso é um nivelamento por baixo, que torna o Brasileiro um torneio cada vez mais pobre tecnicamente.
Com o Brasileirão mais longo, em turno e returno, anunciado para o próximo ano, talvez haja mais tempo para a construção de equipes sólidas e entrosadas. Pelo menos é o que todos esperamos.

Recebi esse e-mail da poetisa e dramaturga Renata Pallottini:
"Tenho 71 anos e sou corintiana. Surpreendentemente (acho eu) vejo futebol e o estudo há mais de 60 anos. Tenho no meu currículo a honra de ter visto jogar Teleco, Servílio, Domingos da Guia e Brandão. Mas continuo não entendendo os critérios através dos quais são escolhidos os dirigentes; continuo não entendendo seus atos, suas decisões.
Já vi o Corinthians vendendo jogadores notáveis por, digamos, 100; depois, comprando três jogadores medíocres para ocupar o lugar daquele por, digamos, 50 cada um. Os três não serviram e o clube perdeu 50. Quem ganhou? Não fui eu e, decerto, nem você.
Agora querem fazer o mesmo com Ricardinho, talvez o último craque que restou no atual Corinthians. Com certeza o venderão, e depois comprarão três cabeças de bagre para o lugar dele, perdendo qualidade, dinheiro, público, investimentos, títulos, prestígio... Você compreende o que há por trás disso?".
Não, Renata, juro que não compreendo. Mas é bom deixar no ar essa pergunta, que vale também para negócios obscuros realizados por outros grandes clubes do futebol brasileiro.

A saída de Galeano e a volta de Zinho ao Parque Antarctica são eventos emblemáticos. O meio-de-campo do Palmeiras, que nos últimos anos mais parecia um pátio de fábrica de tratores, aos poucos vai voltando a uma formação mais próxima dos bons tempos da Academia e da primeira passagem do técnico Wanderley Luxemburgo pelo clube.
Pode até não dar certo. Vai depender da adaptação definitiva de Arce à nova função, do entrosamento entre Zinho e Lopes, do desempenho dos laterais etc. Mas, ao menos pela lógica, a tendência é a bola ficar mais redonda.

Fim da era Scolari
Acabou a novela Scolari-seleção. Nunca saberemos se o verdadeiro motivo da decisão do treinador foi a idéia de "sair por cima" e evitar o desgaste inerente ao cargo ou um prosaico desentendimento salarial. Ou as duas coisas juntas. Como já escrevi muitas vezes aqui, não gosto das concepções futebolísticas de Scolari (embora na seleção ele as tenha deixado um pouco de lado), mas o fato é que ele cumpriu sua missão. Pegou uma seleção totalmente desacreditada e, com mais intuição que estratégia, recuperou sua auto-estima e poder de fogo. Teve o mérito de valorizar os jogadores que tinha nas mãos e resistir às pressões externas, sobretudo ao lobby infernal pró-Romário. Resta saber quem é que vai pegar o rojão agora. Está aberta a temporada de especulações e algumas caudas (de pavão?) já começam a abanar.

E-mail jgcouto@uol.com.br



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