São Paulo, sexta-feira, 10 de agosto de 2007

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Presidente corintiano virou casaca aos 9 anos

Clodomil Orsi, 70, afirma que torcia pelo Palmeiras e gera críticas no clube

Dirigente diz que mudança de time ocorreu depois de desentendimento com seu irmão por causa de uma figurinha de um jogador


EDUARDO ARRUDA
DA REPORTAGEM LOCAL

Clodomil Antonio Orsi, o novo presidente do Corinthians, tem 70 anos. Mas, durante seus primeiros nove anos de vida, sua paixão foi o Palmeiras. Depois disso, após uma briga com Dudu, seu irmão mais velho, virou a casaca. "Olha, eu era menino, foi em 1946. Graças a um erro cometido pelo meu irmão. Você não lembra das balas de futebol, lembra?", contou o substituto de Alberto Dualib em entrevista à Folha.
"Foi só quem viveu nos anos 40. Eu acho engraçado por isso. Tinha esse álbum de figurinha das balas de futebol. Ela vinha embalada com figurinhas. Esse álbum eram os times de futebol do Rio e de São Paulo. Tinham figurinhas carimbadas. Uma delas era a mais difícil. Era assim, vamos dizer, a cada 2.000 balas vinha uma carimbada. O Dudu era palmeirense doente. Eu cheguei um dia em casa e estava faltando a minha figurinha", disse Orsi.
A partir daí, veio a ameaça: "Eu falei: "Dudu, pára com isso, me dá a figurinha. Se você não me devolver a figurinha, eu já não gosto muito, mas a partir de hoje vou torcer para o Corinthians". Ele não me devolveu a figurinha", revelou o cartola.
E, então, a transformação e a descoberta de um novo amor.
"Mudei. Foi a melhor coisa que meu irmão fez comigo. Minha família é italiana, mas todos são corintianos doentes. E a briga do meu irmão era comigo, porque sou o caçula da turma. Meu irmão despertou a minha paixão pelo Corinthians."
Depois disso, diz Orsi, ele nunca mais foi o mesmo. Conta que passou a ser corintiano fanático. Relembra que jogadores do Corinthians freqüentavam festas promovidas pela mãe em sua casa no bairro do Brás (zona central da capital).
Em 1951, quando recebeu seu primeiro salário, o cartola conta que pediu uma parte dele à mãe para se tornar sócio do clube do Parque São Jorge.
Com a carteirinha de sócio, recebida pelas mãos do ex-presidente corintiano Alfredo Ignácio Trindade, Orsi logo tomou gosto pela política do clube. E, graças à amizade com outro ex-presidente, Wadih Helu, virou conselheiro em 1959.
Afirma, com bom humor, que jamais teve recaída. Mas conta não ter raiva do time do Parque Antarctica.
"Nunca mais [torci pelo Palmeiras]. Mas não torço contra, não. Eu torço para ele não ganhar. O meu neto mais novo, o Vinícius, de cinco anos, se você der uma roupa verde a ele, ele devolve na hora", conta, orgulhoso, dizendo que a atitude do menino é influência do avô.
A admiração pelo Palmeiras do presidente em exercício do Corinthians não caiu bem no Parque São Jorge. Alguns conselheiros do clube prometem que cobrarão Orsi. Outros já falam em pedir sua renúncia.
"Não pegou bem, mas eu conheço o Clodomil como corintiano desde os anos 50, e ele sempre foi leal ao clube", disse o conselheiro Rubens Approbato Machado. Segundo ele, não há base legal para tirá-lo do cargo por ele ter declarado ter sido torcedor palmeirense.
A Gaviões da Fiel, principal torcida organizada do Corinthians, não quis se posicionar sobre o assunto, mas, segundo a Folha apurou, a organizada acredita que o dirigente foi "ingênuo" e que, por isso, não tem condições de exercer o cargo.
"Se tiver alguém reclamando, é conselheiro que não me conhece. No clube, quem me conhece vai tirar sarro. Eu sou da turma da curvinha do Pacaembu. Eu matava aula para ir acompanhar o Corinthians no Pacaembu", fala Orsi.
Desde segunda-feira no cargo, o cartola, que assumiu após o afastamento de Alberto Dualib, disse que não será candidato caso sejam convocadas eleições, mas pretende ajudar o Corinthians a sair do atoleiro -as dívidas superam R$ 72 milhões. E que não se opõe ao impeachment de Dualib, se forem comprovadas irregularidades.
"Disse ao Conselho que estou cumprindo ordem estatutária. Se tiver coisa errada, não é o Clodomil que responderá. Sou corintiano acima de tudo."


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