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Presidente corintiano virou casaca aos 9 anos
Clodomil Orsi, 70, afirma que torcia
pelo Palmeiras e gera críticas no clube
Dirigente diz que mudança
de time ocorreu depois de
desentendimento com seu
irmão por causa de uma
figurinha de um jogador
EDUARDO ARRUDA
DA REPORTAGEM LOCAL
Clodomil Antonio Orsi, o novo presidente do Corinthians,
tem 70 anos. Mas, durante seus
primeiros nove anos de vida,
sua paixão foi o Palmeiras. Depois disso, após uma briga com
Dudu, seu irmão mais velho, virou a casaca. "Olha, eu era menino, foi em 1946. Graças a um
erro cometido pelo meu irmão.
Você não lembra das balas de
futebol, lembra?", contou o
substituto de Alberto Dualib
em entrevista à Folha.
"Foi só quem viveu nos anos
40. Eu acho engraçado por isso.
Tinha esse álbum de figurinha
das balas de futebol. Ela vinha
embalada com figurinhas. Esse
álbum eram os times de futebol
do Rio e de São Paulo. Tinham
figurinhas carimbadas. Uma
delas era a mais difícil. Era assim, vamos dizer, a cada 2.000
balas vinha uma carimbada. O
Dudu era palmeirense doente.
Eu cheguei um dia em casa e
estava faltando a minha figurinha", disse Orsi.
A partir daí, veio a ameaça:
"Eu falei: "Dudu, pára com isso,
me dá a figurinha. Se você não
me devolver a figurinha, eu já
não gosto muito, mas a partir
de hoje vou torcer para o Corinthians". Ele não me devolveu
a figurinha", revelou o cartola.
E, então, a transformação e a
descoberta de um novo amor.
"Mudei. Foi a melhor coisa
que meu irmão fez comigo. Minha família é italiana, mas todos são corintianos doentes. E
a briga do meu irmão era comigo, porque sou o caçula da turma. Meu irmão despertou a minha paixão pelo Corinthians."
Depois disso, diz Orsi, ele
nunca mais foi o mesmo. Conta
que passou a ser corintiano fanático. Relembra que jogadores do Corinthians freqüentavam festas promovidas pela
mãe em sua casa no bairro do
Brás (zona central da capital).
Em 1951, quando recebeu
seu primeiro salário, o cartola
conta que pediu uma parte dele
à mãe para se tornar sócio do
clube do Parque São Jorge.
Com a carteirinha de sócio,
recebida pelas mãos do ex-presidente corintiano Alfredo Ignácio Trindade, Orsi logo tomou gosto pela política do clube. E, graças à amizade com outro ex-presidente, Wadih Helu,
virou conselheiro em 1959.
Afirma, com bom humor,
que jamais teve recaída. Mas
conta não ter raiva do time do
Parque Antarctica.
"Nunca mais [torci pelo Palmeiras]. Mas não torço contra,
não. Eu torço para ele não ganhar. O meu neto mais novo, o
Vinícius, de cinco anos, se você
der uma roupa verde a ele, ele
devolve na hora", conta, orgulhoso, dizendo que a atitude do
menino é influência do avô.
A admiração pelo Palmeiras
do presidente em exercício do
Corinthians não caiu bem no
Parque São Jorge. Alguns conselheiros do clube prometem
que cobrarão Orsi. Outros já falam em pedir sua renúncia.
"Não pegou bem, mas eu conheço o Clodomil como corintiano desde os anos 50, e ele
sempre foi leal ao clube", disse
o conselheiro Rubens Approbato Machado. Segundo ele,
não há base legal para tirá-lo do
cargo por ele ter declarado ter
sido torcedor palmeirense.
A Gaviões da Fiel, principal
torcida organizada do Corinthians, não quis se posicionar
sobre o assunto, mas, segundo
a Folha apurou, a organizada
acredita que o dirigente foi "ingênuo" e que, por isso, não tem
condições de exercer o cargo.
"Se tiver alguém reclamando, é conselheiro que não me
conhece. No clube, quem me
conhece vai tirar sarro. Eu sou
da turma da curvinha do Pacaembu. Eu matava aula para ir
acompanhar o Corinthians no
Pacaembu", fala Orsi.
Desde segunda-feira no cargo, o cartola, que assumiu após
o afastamento de Alberto Dualib, disse que não será candidato caso sejam convocadas eleições, mas pretende ajudar o
Corinthians a sair do atoleiro
-as dívidas superam R$ 72 milhões. E que não se opõe ao impeachment de Dualib, se forem
comprovadas irregularidades.
"Disse ao Conselho que estou cumprindo ordem estatutária. Se tiver coisa errada, não
é o Clodomil que responderá.
Sou corintiano acima de tudo."
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