São Paulo, domingo, 10 de agosto de 2008

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CHINA COMEÇA A VIVER REVOLUÇÃO SEXUAL , MAS TEMA AINDA DESAFIA MORAL DO PAÍS QUE PREZA VIRGINDADE E NO QUAL HOMOSSEXUALISMO ERA CRIME ATÉ 2001

RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM

A idade média da primeira relação sexual na China é de 21 anos. Qualquer nudez, até o relance de um seio, é proibida em revistas, televisão ou cinema. Não existe educação sexual nas escolas. A modernidade chinesa passa longe da alcova.
"A nossa educação e as políticas governamentais ainda são bastante anti-sexo", diz à Folha a maior sexóloga da China, Li Yinhe, 55. "Querem que nossos jovens saibam de sexo o mais tarde possível."
Li diz que o chinês é educado a respeitar tanto a mulher que não paquera como os ocidentais. "Ser sensual não tem importância entre eles. Muitas chinesas acham os ocidentais mais sexy, porque são mais agressivos, galanteadores."
Seus estudos causam polêmica no país desde os anos 80. Feminista e membro da prestigiada Academia Chinesa de Ciências Sociais, ela foi a primeira a escrever sobre homossexuais nos anos 90. "Até então, a maioria dos chineses jamais havia ouvido falar da existência de gays", diz. O homossexualismo era crime no país até 2001.
Ainda assim, a China vive o início de sua revolução sexual. Pela primeira vez na história, casais aparecem de mãos dadas e até se beijando em público. Um vídeo tirado das câmeras de segurança do metrô de Xangai, que captam um casal em beijos apaixonados, foi um dos mais vistos na China neste ano.
Mais da metade dos jovens chineses fizeram sexo antes do casamento, ainda que o sexo na adolescência seja raridade.
Há estimados 5.000 sex shops na China, ainda escondidos, mas uma novidade.
A prostituição é proibida no país. Oficialmente, não há bordéis, mas há dezenas de falsos salões de beleza que funcionam como prostíbulos.
A abordagem não ocorre na calçada. Elas chamam de dentro do salão: "Você quer corte de cabelo ou serviço completo?". Quem quiser um penteado ouvirá a resposta-padrão: "Ah, só tem serviço completo".
A China mais liberada já tem sua Leila Diniz. A cineasta Muzimei, 30, causou escândalo ao postar fotos sem roupa em seu blog em 2005. Não contente, ela gravou um podcast durante uma relação sexual. Atacada pela mídia por seu exibicionismo, tornou-se mais reclusa.
"Pode-se fazer muito sexo na China, mas jamais falar disso. Tive vários parceiros, transas de uma noite só, mas o país faz ode à virgindade. Não me arrependo do que fiz, você desafia a moral do país se falar o que realmente faz", diz Muzimei.
As chinesas sofreram especialmente durante a Revolução Comunista. Mulheres também usavam os terninhos azuis acinzentados masculinos do presidente Sun Yat-sen, figurino adotado por Mao Tse-tung. O cabelo curto era estimulado.
"Precisávamos de muita imaginação para perceber as formas femininas naquelas roupas", conta o americano John Pomfret em seu livro "Caminhos da China", sobre o período em que estudou no país, início dos anos 80. "Mas, nos 90, a paquera das chinesas com os ocidentais era bem direta e era fácil consumar uma relação."
Se o clima hoje é de liberação, a abertura ainda tem suas recaídas. O thriller político-erótico "Lust, Caution" ("Desejo, Cuidado"), dirigido por Ang Lee, perdeu 20 minutos em sua estréia na China, com o corte de todas as cenas de sexo.
Sem querer punir o diretor, famoso em Hollywood, nem o astro do filme, Tony Leung, o governo baniu da mídia a bela protagonista Tang Wei. Ela está proibida de aparecer na TV chinesa ou de estrelar comerciais e filmes porque aparece nua no longa-metragem.
O filme anterior de Ang Lee, "O Segredo de Brokeback Mountain", sobre dois cowboys gays, rodado nos EUA, foi proibido na China pelo conteúdo.
Apesar de seus 17 milhões de habitantes, Pequim tem apenas uma boate gay, fechada pela polícia às vésperas dos Jogos.
A única grande celebridade do país que saiu do armário foi o ator Leslie Cheung, protagonista de "Adeus, minha Concubina". Ele se suicidou em 2003.

21 anos

é a idade média da primeira relação sexual dos chineses


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