São Paulo, domingo, 10 de agosto de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Pronta para chorar

CHORONA ASSUMIDA, JADE REFUTA IMAGEM DE FRÁGIL, DIZ ESTAR MAIS MADURA E SABER QUE MÍDIA USA MORTE DA MÃE PARA SENSIBILIZÁ-LA

BRASIL
Ginasta busca vaga na final do solo individual
Horário: 9h


EDUARDO OHATA
ENVIADO ESPECIAL A PEQUIM

Uma Jade Barbosa com surpreendente maturidade, que entende a relação da mídia e defende que a mãe ""não é um objeto", estréia hoje na ginástica artística feminina da Olimpíada, a partir das 9h.
""É, a Jade é chorona", reconhece a brasileira, 17, dona de um bronze na prova mais difícil no Mundial de 2007 -o individual geral (soma dos quatro aparelhos)- e promessa para a primeira medalha na ginástica artística do Brasil.
""Mas não quer dizer que eu não esteja madura. Cada um tem sua maneira de expressar o que sente. Eu geralmente choro. É a maneira de expressar o que estou sentindo na hora, é o meu jeito. Tem gente que sorri, tem gente que grita", compara a ginasta, que neste ano foi prata na etapa de Cottbus no solo e no salto.
A presidente da confederação de ginástica, Vicélia Florenzano, diz que é enorme a diferença entre a Jade de hoje e a que desembarcou em Curitiba para integrar a seleção em 2005. ""Quando ela chegou, chorava o tempo todo. O Oleg [Ostapenko, técnico da seleção] nem a treinava. Quem cuidava dela era a [técnica] Iryna Ilyaschenko."
Apesar de público e mídia cultivarem a percepção de uma ""Jade ingênua, frágil", a atleta revela ter plena noção de que, por vezes, é usada.
""Os repórteres usam a morte de minha mãe para conseguir uma tragédia, algo assim. Para me fazer chorar e conseguir uma reportagem. Então isso apareceu bastante. Falavam dela, e eu chorava."
A cena se repetiu no Pan do Rio. ""Alguém questionou: "Jade, quando você chegou, pensou na sua mãe, "mãe me ajuda?"." Foi aí que Daiane dos Santos disparou: ""Vocês estão querendo fazer ela chorar".
Ela e Daniele Hypólito, que já ocuparam o posto de musas da ginástica brasileira e estão no time em Pequim, falam com conhecimento de causa.
Após resultados inferiores aos esperados em torneios no exterior, Daniele, no início da carreira, era recepcionada no aeroporto com questões como: ""Não está envergonhada por decepcionar o Brasil?".
Já Daiane, após falhar em Atenas e escutar questões que envolviam até seu pai e a frustração olímpica, desafiou a mídia: ""Vocês não vão me fazer chorar". Mas não conseguiu cumprir a promessa.
""Tem duas coisas que eu detesto. Essa coisa de querer fazer chorar a toda hora as ginastas e essa infantilização. Sempre é "as menininhas, as coitadinhas"", fala Vicélia.
Jade diz que, no Pan, só lembrou da mãe, que morreu há oito anos, vítima de aneurisma cerebral, quando levou o ouro. ""Ao pensar em minha mãe, penso em coisas que gostava de fazer com ela, quando ela ficava feliz comigo... Não quando estou errando. Tento não fazer dela um objeto para mim, entendeu? Quero só lembrar de coisas boas."
Quanto a disputar sua primeira Olimpíada, diz que tenta administrar a pressão. ""A Jade é um ser humano como outro qualquer. Eu entro para competir por mim. A Jade gosta de ginástica, de estar lá representando o país."


Texto Anterior: O que ver na TV

Próximo Texto: Por nova imagem, psicóloga dá exercícios e mostra recortes
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.